domingo, 19 de setembro de 2010

O ZIGUEZAGUE DO COMEÇO DA CARREIRA

A ansiedade marca o período.
Experimente dar uma “volta no quarteirão” antes de tomar decisões

MARLENE ORTEGA


Ao ler o e-mail enviado por uma jovem, solicitando orientação sobre o que fazer para encontrar um emprego satisfatório nessa etapa de sua vida profissional, achei que valeria a pena convidá-la para um contato pessoal, que facilitaria conhecer mais detalhes de sua história e seus anseios. Respondendo então ao meu apelo, ela telefonou. Sua voz era muito viva, o português bem acima da média e o estilo de comunicação bem extrovertido.



Na mensagem inicial ela dizia não estar realizada com o trabalho atual em função de ser muito burocrático. Formada recentemente em comunicação e marketing, ela preferiria um desafio maior, que explorasse suas habilidades de comunicação e a maturidade pessoal que afirma destacá-la entre os colegas em posições semelhantes.



O que em primeiro lugar chamou a atenção foi sua situação de recém-formada, aos 26 anos. Nessa faixa etária encontramos outros jovens com cinco ou seis anos de experiência, por vezes até ocupando cargos de liderança. O que aconteceu com ela em especial?



Em nossa conversa, rapidamente, pude constatar dois pontos essenciais para compreender essa trajetória: primeiro foi o fato não incomum da insuficiência de recursos para suportar uma faculdade particular e segundo, e mais significativo ainda, foi a declaração da vontade imensa de fazer medicina, para a qual tentou vestibular por três anos consecutivos, sem obter classificação.



Sempre muito falante, relatou ter também prestado vestibular para biotecnologia, como alternativa à medicina, entrando em décimo oitavo lugar. “O curso, por ter uma rotina intensa de pesquisa e concentração, não era o que eu pensava”, disse ela. Assim, em diferente investida, partiu para a faculdade de comunicação, com a qual se identificou, e está formada. Até aqui foi uma caminhada com dificuldades de percurso, caracterizada por altos e baixos.



Fiz a seguinte intervenção: “vamos lá, a vida não é mesmo construída de forma linear para ninguém. Avançamos um pouco para frente, voltamos um pouco para trás, com acertos e erros, num ziguezague parecido com as linhas de um eletrocardiograma”. Penso que é dessa forma que transformamos sonhos em realidade. O importante é tirar o melhor proveito de tal dinâmica.



Dois dados adicionais chamaram a atenção: o salário atual vem correspondendo às necessidades do momento e ela admite que a empresa onde está trabalhando é muito boa. Adiciona-se que também conta com a admiração da chefia imediata que declara que gostaria de vê-la crescer. Existe, todavia, o fato de que atualmente não estão abertas vagas para as quais ela pudesse concorrer. Ela perguntou: E aí, o que faço?



Sempre repito para os jovens que estão empregados e começam a ficar impacientes por não conseguirem ser promovidos ou mudar de área, que o relógio da empresa para tomar decisões nem sempre está ajustado com o seu relógio pessoal. Assim, você pode sentir-se preparado, ouvir de seu chefe que seu desempenho é surpreendente, e nem por isso a promoção virá imediatamente.



Se você, como essa jovem tão inteligente que conheci, tiver história semelhante e puder esperar um pouquinho, reduzir a aflição, quase que certamente verá suas qualidades reconhecidas pela empresa assim que surgirem vagas apropriadas aos seus talentos. Considere o acerto dos ponteiros dos relógios, conversando com sua chefia e com o RH sobre sua intenção clara de progredir lá mesmo. Se, por outro lado, você sentir que deve acelerar com força total o seu passo profissional, precisará buscar oportunidade mais imediata em outra empresa.



Qualquer profissional pode escolher mudar de empresa e seguir em frente, “partindo para outra”, como se diz. Não há receita pronta. Vivemos em um mundo de grande velocidade para tudo, é verdade. No entanto, o quebra-cabeça da vida de cada um deve ser montado a sua maneira, bem personalizado. Às vezes é melhor controlar a ansiedade e dar aquela famosa “volta no quarteirão” antes de tomar uma decisão.

FONTE: IG - NEGÓCIOS DE CARREIRA

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