domingo, 12 de dezembro de 2010

Choro e tristeza após o fechamento de fábrica da Philips em PE

Após o último dia de expediente, funcionários mostravam indignação com a demissão de 500 pessoas e tentavam projetar o futuro



Renata Baptista, especial para o iG, do Recife 10/12/2010 20:12


O clima entre os funcionários no último dia de trabalho na fábrica de lâmpadas automotivas da Philips em Recife, que encerrou 43 anos de atividade, foi de tristeza. Muitos deixaram a empresa chorando, como o operador de máquina Rinaldo Ferreira Pontes, de 34 anos.



“Meu sentimento é de frustração e decepção com o governo estadual, que podia ter feito mais para manter a fábrica aberta. Minha vida está aqui dentro”, disse Pontes, que trabalhava na empresa há 16 anos, é casado e tem dois filhos. “Tenho muito medo do que vou encontrar lá fora, mas vou me qualificar para entrar no mercado de trabalho. Vou levar a minha vida, apesar de não estar dormindo tranqüilo, preocupado com o futuro”, completou.



A Philips anunciou que fecharia a fábrica há um mês, pegando os 500 funcionários - 350 efetivos e 150 terceirizados - de surpresa. Segundo a empresa, a decisão de suspender a fabricação de lâmpadas no País foi consequência da crise econômica global. Os produtos passarão a ser importados de outras fábricas da multinacional na Europa e Ásia.



Ao fim do expediente, por volta das 14h (15h em Brasília) desta sexta-feira, os funcionários da empresa participaram de assembleia com a diretoria e depois, na saída, receberam panfletos e tiveram o apoio de representantes do Sindmetal-PE (Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Pernambuco).



“Não fizemos um protesto porque participamos das conversas entre a empresa e os funcionários. Seria como um chute na canela”, afirmou o presidente da entidade, Alberto Alves dos Santos.



Para o secretário de relações de trabalho da CUT-PE, Augusto César Barros, a assembleia serviu apenas para ratificar os acordos fechados entre a empresa e os trabalhadores em encontros anteriores.

De acordo com o Sindmetal-PE, a Philips tem mostrado preocupação em realocar os funcionários no mercado de trabalho, e por isso está oferecendo a eles cursos de formação e requalificação profissional no Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). Além disso, está colaborando com a aposentadoria dos funcionários que receberiam o benefício em até 20 meses.



Para o operador de máquinas Evandro Gomes, de 36 anos, além do abalo de perder o emprego, o dia também foi triste, pois representou a despedida dos colegas.



“Somos como uma família. Convivo mais com eles do que com minha mulher e filha. A ficha de que não vou mais vê-los todo dia ainda não caiu”, disse ele, que afirmou que seu “futuro é um ponto de interrogação”. “Vou fazer cursos para me qualificar e ver se aparece alguma coisa.”



A preocupação do operador de produção Antônio Carlos Batista, de 28 anos, é com os colegas de mais idade, que podem ter dificuldade em encontrar emprego. Segundo ele, um dos colegas que tinha problemas cardíacos morreu no último mês.



“Não sabemos se há ligação da morte com a notícia da demissão, mas todo mundo está com muita angústia”, afirmou.



Mudança de ramo



De acordo com Batista, a própria Philips está levando currículos de seus funcionários a outras empresas, mas, mesmo assim, a concorrência pode ser mais difícil para os mais velhos.



“Os mais antigos não estão com muita esperança. Para mim é diferente. Sou solteiro e estudante universitário, então minha meta é mudar de ramo”, disse Batista, que cursa Ciência da Computação e deve se formar em dois anos. Ele disse que vai investir os cerca de R$ 20 mil que recebeu de indenização e bônus pelos seis anos trabalhados na empresa para investir nos estudos. Ele recebia salário de R$ 1.300.



Para José Maria Monteiro, de 54 anos, o dia representou a despedida do trabalho, uma vez que ele pleiteia a aposentadoria após 30 anos na Philips. “Fico muito triste pelos colegas, mas já estava me preparando para parar. Não consigo imaginar como eles estão se sentindo.”



Empresa e funcionários voltam a se encontrar nos dias 22 e 23 de dezembro, para o pagamento das verbas rescisórias.



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FONTE: IG ECONOMIA - EMPRESAS

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