quinta-feira, 5 de maio de 2011

CARREIRA GLOBAL EXIGE DETERMINAÇÃO E ABERTURA À DIVERSIDADE

Especialistas dão dicas para quem pretende trabalhar no exterior


Patrícia Lucena, iG São Paulo | 05/05/2011 05:57


A relações públicas Lisa Polloni, trabalhava na Procter & Gamble do Brasil quando recebeu uma proposta para ocupar um cargo semelhante, mas superior, na Avon, em Miami - diretora regional de comunicação e relacionamento com o governo para a América Latina. A oferta veio em novembro de 2009. No início de 2010, ela transferiu-se para a nova companhia, baseada em São Paulo, enquanto esperava o visto de trabalho. “Ainda fiquei um tempo em transição, viajando muito por toda a região da América Latina e, em outubro de 2010, me mudei definitivamente.”


 "É um aprendizado constante", afirma Lisa Polloni, expatriada pela Avon

Lisa faz parte de um grupo cada vez mais frequente no mercado: a de profissionais brasileiros que optam por empreender uma carreira global, fincando raízes fora do Brasil. Saber trabalhar com diferentes culturas e lidar com a diversidade são questões fundamentais para quem quer ter sucesso nessa área. Segundo Eberson Luiz Federezzi, diretor da empresa de recursos humanos Global Network, as principais oportunidades de carreiras globais estão relacionadas a cargos de gerência e executivos. Por isso, o profissional deve ter competências técnicas para exercer tais funções – mas é preciso também se preparar do ponto de vista cultural e pessoal.

A diretor da Avon tinha um acordo com seu marido de que quando um deles recebesse uma proposta para ser expatriado, o outro acompanharia. Segundo ela, essa deve ser uma mudança do casal, embora combinar a agenda de mudanças não seja tarefa fácil. “Acho que essa é a pior parte para ser sincronizada.“ Após Lisa ter aceitado a proposta e entrado com seu pedido de visto, seu marido começou a sinalizar na empresa em que atua – Microsoft – de que gostaria de ser expatriado. “O processo dele demorou um pouco mais. Por ele ser de vendas, foi preciso esperar terminar o período fiscal para conversar sobre uma possível expatriação em julho.” No final, foi possível coincidir as agendas nos empregos e ambos mudaram definitivamente em outubro do ano passado.

Lisa sempre quis ser expatriada. “Em certo momento da vida, chega uma hora em que você está com mais idade, os filhos já estão crescidos e, do ponto de vista profissional, não tem mais para onde você crescer.” Além disso, Lisa conta que sempre teve vontade de trabalhar com os países da América Latina. “São regiões iguais e diferentes, ao mesmo tempo.” Para ela, ser expatriado é viver uma experiência de diversidade.



Perfil

Para quem busca ter uma carreira global, algumas ações são essenciais. Federezzi, da Global Network, afirma que a mais importante é ter proficiência em vários idiomas. “Hoje, o inglês é considerado básico e línguas como francês, alemão e chinês são exigidas frequentemente.”

O profissional global deve conhecer a cultura do país de destino. “Fazer cursos e participar de palestras e seminários pode ajudar a ter uma visão mais ampla da realidade das empresas globais, além de aumentar a rede de contatos”, sugere.

O diretor da Global Network lembra que os profissionais devem começar a se preparar ainda no Brasil, aproveitando oportunidades de conhecer nossos cenários de negócios e culturas. “Trabalhar com pessoas de diferentes regiões e participar de eventos em outros Estados são atitudes que enriquecem a experiência e despertam a curiosidade de conhecer novas culturas.”

Além de competência técnica, o profissional global deve ter grande flexibilidade e capacidade de adaptação, afirma Federezzi. Lisa acredita que o profissional que pensa em ter uma carreira global deve ser generalista e determinado. “É preciso sair um pouco do operacional e ter uma visão mais estratégica. É isso que as empresas globais pedem.”



Mudança

“O processo de transição é penoso.” Segundo Lisa, a dificuldade não é tanto pelo lado profissional, mas sim pelo pessoal. “Minhas coisas levaram três meses para chegar do Brasil, precisei planejar o que levaria primeiro, o que era mais necessário. Além de todo o processo de aquisição do imóvel.”



Além de competência, o profissional global deve ter flexibilidade e capacidade de adaptação

No caso de Lisa, a Avon forneceu uma assessoria para ajudá-la no período de mudança. Entretanto, segundo ela, há determinadas particularidades que não adiantam ser resolvidas por outras pessoas.

“Se colocar tudo em uma balança, o resultado são ganhos e perdas. Não existe mudança sem perda. Só é preciso entender com o que você consegue viver sem. O que é melhor para você”, acrescenta Lisa.

Segundo ela, o profissional que é expatriado vive um aprendizado constante. “A pessoa cresce em todos os sentidos, profissionais e pessoais”, analisa Lisa. “Mudei muito minha perspectiva de vida. Penso que posso ir para qualquer lugar.”



Família

A família é sempre um dos principais pontos levados em conta na hora de decidir ser expatriado. “De vez em quando dá muita saudade, mas a correria do dia a dia não te deixa muito tempo livre para pensar”, afirma Lisa.

Segundo ela, depois que se mudou para Miami, tem visto até com mais frequência seus amigos e familiares. “Quando eu morava no Brasil, sempre acabava deixando os encontros para depois.”

Mas ela considera fundamental que sua família apoie integralmente o profissional na decisão. “Você pode ter o melhor emprego e salário, mas se você não tem a sua família ‘expatriada de alma’, será muito difícil dar certo”, destaca Lisa.



Diminuição X Aumento

No Brasil, segundo dados da Ernst & Young Terco, a partir de estatísticas do Ministério do Trabalho, em 2009 foram recebidos 42,9 mil estrangeiros para trabalhar no País. Em 2010, esse número subiu para 56 mil. Mas não há dados oficiais consolidados sobre o número de brasileiros trabalhando no exterior. “Da mesma forma que esse número está crescendo aqui, também está aumentando lá fora a cada ano”, afirma Raquel Teixeira, sócia da consultoria Ernst & Young Terco.

Raquel, que trabalha na área de imigração há cerca de 15 anos, afirma que houve uma época em que estrangeiros vinham trabalhar no Brasil, mas o inverso não acontecia. “Hoje, esse número está equiparado e a demanda por brasileiros está aumentando a cada ano.” Raquel acredita que, mesmo com o Brasil em um bom momento econômico e com altos investimentos, as empresas continuam enviando profissionais para fora.

“Muitos clientes nossos possuem funcionários trabalhando no exterior. Algumas empresas já chegaram a mandar aproximadamente 5 mil brasileiros para fora do País”, conta Raquel. Segundo ela, as organizações brasileiras estão começando a se internacionalizar e, por isso, querem que os cargos de confiança sejam ocupados por brasileiros.

O crescimento econômico do Brasil não significa que as empresas brasileiras vão parar de gerar oportunidades no exterior e deixar de mandar profissionais para fora. “Muito pelo contrário. Com a economia do País aquecida, é interessante expandir os negócios e investimentos”, destaca Raquel.

Já na opinião de Luiz Cesar Salles, gerente de vendas e marketing da empresa de recrutamento Hays, as empresas estão diminuindo o número de profissionais expatriados do Brasil, devido às boas perspectivas de crescimento do País. Além disso, o fato de os Estados Unidos terem passado por uma grave crise financeira e de a Europa estar enfrentando problemas econômicos teria contribuído para que as empresas nacionais investissem mais no Brasil.

“O custo de expatriar um funcionário é muito alto e, hoje, com a Europa e Estados Unidos em crise, isso não está sendo tão vantajoso para as empresas”, afirma Salles, que morou por dois anos nos Emirados Árabes e voltou para aproveitar o momento econômico do País. “O Brasil está com grandes oportunidades e muitos investimentos estrangeiros. Está valendo mais a pena ficar.”

Segundo Salles, há alguns anos ser expatriado representava um ganho profissional e financeiro. Hoje, ele acredita que as pessoas estão ganhando melhor no Brasil, devido ao crescimento econômico. “Também tem a questão do dólar. Com o câmbio mais baixo, os salários daqui ficam mais altos.”



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