sexta-feira, 20 de maio de 2011

PROBLEMAS COM SÓCIOS? SAIBA O QUE FAZER

Estabelecer áreas de atuação na empresa e regras para solucionar conflitos são algumas dicas de especialistas



Bruna Bessi, iG São Paulo | 20/05/2011 05:04



Empreendedor desde os 18 anos, Bernardo Porto enfrentou uma das principais dificuldades no mundo empresarial: a busca por um sócio. Ao abrir a empresa Quicksys em 2006, voltada à fabricação de softwares, procurou entre seus amigos de faculdade uma possível solução ao problema, mas não funcionou. Os candidatos agiam como empregados e exigiam garantias financeiras. “Além disso, não se dedicavam totalmente e nem queriam arriscar no desenvolvimento do negócio. Com isso, a sociedade durava no máximo algumas semanas”, afirma Porto.

Com as dificuldades, o empreendedor recebeu auxílio de seu pai como investidor e sócio na gestão. A perspectiva, entretanto, não melhorou. A hierarquia familiar atrapalhou no processo de tomada de decisões e dificultou a administração. “Por mais que fossemos sócios, meu pai tinha ‘naturalmente’ um poder maior e, em alguns momentos, tive dificuldade para expressar minha opinião, já que ele argumentava que tinha mais experiência”, diz.

Estabelecer limites e políticas de governança coorporativa são aspectos fundamentais durante a formação de um empreendimento. Eduardo Munhoz da Cunha, advogado do escritório Katzwinkel e Advogados Associados, ressalta que as dificuldades na gestão aumentam em empresas familiares e por isso os cuidados devem ser redobrados. “Nessas situações os conflitos misturam-se com problemas familiares e o mais indicado é profissionalizar a gestão”, afirma. “Não colocar parentes sem preparo no negócio e entender que a empresa não é apenas uma fonte de renda são aspectos fundamentais”, afirma.


 Os sócios Alisson Patricio (dir) e Bernardo Porto não levam conflitos para o lado pessoal
Apesar das tentativas para emplacar e profissionalizar o negócio, Porto resolveu fechá-lo. Mas, não desistiu do mercado. Diante de uma nova oportunidade – desenvolver softwares que mostrem o comportamento dos usuários – abriu, em 2010, a empresa DeskMetrics. Para auxiliá-lo na criação da tecnologia entrou em sociedade com Alisson Patricio e recebeu aporte financeiro de R$ 325,5 mil vindos de investidores anjos. “Aprendi que os conflitos de uma sociedade não devem ser levados para o lado pessoal e é importante que o sócio tenha clareza de sua participação”, diz.




Problemas sem fim

As dificuldades para resolver conflitos em sociedade ocorrem principalmente em empresas cujas diretrizes não estão bem definidas. “É importante decidir quem manda logo no início. Além de estabelecer regras para solucionar problemas como, por exemplo, formar um conselho administrativo”, diz Cunha. Apesar disso, ainda é comum principalmente nas pequenas e microempresas que não sejam estabelecidas tais regras de administração.

Esse foi o caso do empreendedor Maurílio Alberone que, empolgado com a possível entrada da televisão interativa no mercado brasileiro, montou em 2008 a empresa Peta5 com quatro amigos. Voltado para o desenvolvimento de softwares, o empreendimento recebeu R$ 320 mil de investimentos públicos e outros R$ 50 mil de capital dos sócios. Mas a falta de objetivos fez com que os conflitos surgissem. “Não deixamos claro o que cada um esperava do negócio e nas primeiras dificuldades vimos que os objetivos eram muito variados”, afirma Alberone.


Acreditar que as diferenças na gestão podem ser resolvidas com o tempo, não é o caminho mais indicado para os empresários. Segundo Dariana Castanheira, professora da Fundação Instituto de Administração (FIA), estabelecer áreas de atuação para cada sócio é um dos pontos importantes para o sucesso. “Além disso, é indicado traçar metas por meio de um plano de resultados financeiros, já que a falta de transparência nos negócios facilita a desordem na empresa e uma possível dissolução da sociedade”, diz.

Para tentar resolver os problemas da Peta5, os sócios adaptaram a empresa e estabeleceram tarefas relacionadas à área de cada integrante. Apesar desse esforço, não houve sucesso. “Criamos meios para satisfazer nossas vontades e não para o benefício do empreendimento. Então, eu e outros dois sócios propusemos comprar a parte dos demais integrantes”, diz Alberone. “Mas como não tínhamos reservas, desembolsamos capital próprio e ainda tivemos que continuar dividindo os lucros, já que não conseguimos comprar tudo.”

O desfalque de patrimônio pode, muitas vezes, ser decisivo para o fechamento do negócio. “Por isso, é muito importante que a empresa seja prevenida, tenha reservas de capital e estabeleça no contrato um prazo mínimo para o pagamento dos direitos de ex-sócios”, afirma Cunha.

Para o empreendimento de Alberone, o recurso usado foi a gota d’água para seu fechamento. Apesar disso, o empresário e Rafael Carvalho, antigo sócio, não desistiram e montaram em janeiro uma nova empresa. Chamada StartupBase, o negócio, que já possui mais de 250 clientes, tem foco na articulação de novos empreendedores que desejam investir em tecnologia.






Quando a saída é fechar a empresa

Os problemas para desfazer uma sociedade ocorrem independentemente do porte da empresa. Uma das preocupações que os empresários devem ter ao enfrentar esta situação é manter as divergências no âmbito interno para não afetar a imagem do negócio. Outro aspecto a ser considerado é a atitude tomada pelo sócio que permanecer na administração. “Informar ao mercado o fim de uma sociedade é algo que precisa ser feito com planejamento e coerência. O empreendedor deve mostrar sua preocupação com a continuidade e estabilidade da empresa”, afirma Tereza Roscoe, professora da Fundação Dom Cabral.

Outro desafio neste momento é a escolha de um novo integrante para a sociedade, já que é preciso identificar os pontos fortes de quem saiu e procurar essas características nos candidatos à vaga. “No processo de seleção é importante ver aqueles que possuem valores compatíveis aos da empresa e estabeleçam boa relação de confiança com o sócio que ficou”, diz a professora.


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