quinta-feira, 23 de junho de 2011

“PROBLEMAS DO GOOGLE SÃO INTERNOS, NÃO CONCORRÊNCIA”, DIZ EX-CEO

Eric Schmidt reconhece falhas, indica futuro da empresa e brinca com celulares que tocam na plateia, durante palestra em Cannes



Pedro Carvalho, enviado a Cannes 22/06/2011 10:40


O ex-CEO e presidente do conselho executivo do Google, Eric Schmidt, fez nesta quarta-feira uma das palestras mais concorridas do festival de publicidade de Cannes. Num evento que trouxe ao palco estrelas como Nick Jonas e Jesse Eisemberg, talvez nenhuma fila nos corredores do Palais du Festivals tenha sido maior do que a formada para ver o executivo. Eric, que foi eleito a personalidade de mídia do ano em Cannes, não desapontou e fez declarações relevantes, além de divertir a audiência diversas vezes com suas respostas.


Schmidt: preocupação em mostrar que não abusa da privacidade e elogios a concorrentes

Schmidt deixou a impressão de que as apostas do Google para o futuro da empresa são mesmo aquelas que especialistas do meio digital têm apontado – como o sistema de venda e pagamento via celular, a reformulação da página de buscas e o carro que se dirige sozinho.



No caso do carro, ele justificou o investimento com uma frase típica de um empreendedor do Vale do Silício: “because it’s fun!” (“porque é divertido!”). Mas também deu explicações mais convencionais. “Os computadores são melhores que os humanos para certas coisas, como aquelas que envolvem precisão e memória, ou seja, o carro [que estão desenvolvendo] faz sentido”, disse. “Principalmente quando se está bêbado”, brincou. Ele conta que aqueles que testam o veículo na empresa se surpreendem porque “ele dirige mais rápido e com mais precisão do que você”.



Outra inovação que será importante para a empresa é o sistema de pagamento pelo celular – que será baseado no aplicativo Google Wallet. Basicamente, ele avisa sobre lojas e serviços próximos que provavelmente interessariam ao usuário e, mais importante, permite que você pague com um toque na tela. “É um mercado de muitos, muitos bilhões de dólares – provavelmente de um trilhão de dólares”, disse. Schmidt afirma que o Google não lucraria com as transações, mas com a venda de anúncios. “Quanto vale um anúncio que faz o cliente de fato entrar na sua loja?”, especula.



As cifras são tão expressivas que fazem o executivo ser cada vez mais um entusiasta do telefone celular – até mesmo quando um toca na plateia, durante a palestra dele. “Oh, não se importe, nós amamos telefones móveis, por favor, continue usando”, brinca, provocando risos no auditório.



De acordo com ele, mesmo a mais tradicional “cara” do Google também deve passar por inovações. “Precisamos evoluir na página de buscas, não pode ser apenas aquela página com um quadrado para você digitar e dez respostas abaixo”, diz. “O modelo ideal? Algo que mostrasse as respostas que você quer sem que você precise dizer a ele. Tudo baseado em informações que o computador aprende sobre você – com sua permissão, claro”.



Essa observação – “com sua permissão, claro” – foi repetida pelo menos dez vezes pelo CEO, em diferentes tópicos, deixando clara a preocupação com evitar que as tecnologias do Google sejam associadas a “invasões de privacidade”, algo que se discute no meio digital atualmente. Recentemente, o Facebook foi acusado de pagar para uma empresa de relações públicas plantar matérias dizendo que o Google abusava da privacidade de seus usuários.


O executivo deixa o auditório do Palais, após receber troféu de personalidade de mídia do ano



Schmidt fez, ainda, uma espécie de autocrítica à empresa. “Os jornais destacam o crescimento de outros sites enquanto mecanismos de busca e de venda de publicidade, como o Facebook, mas nosso maior desafio é interno. As tecnologias que sites como Twitter e Facebook usam tinham sido cogitadas por pessoas dentro do Google antes de existirem, o problema é fazer com que a empresa perceba a importância delas, implemente as ideias”, diz. “Quando uma empresa se torna muito grande, ter velocidade nas decisões vira um desafio”, explica.



Schmidt também não se furtou a fazer alguns elogios para a concorrência. "Apple, Facebook, Amazon e Google: nunca houve quatro empresas grandes que estivessem crescendo tanto enquanto plataformas para outros ganharem dinheiro", disse. (Por exemplo, a Zynga faz jogos para Facebook, milhares de programadores fazem aplicativos para vender na loja online da Apple etc). "Isso é fantástico", disse.



Por fim, o vice-presidente do Google Creative Labs, Andy Berndt, que acompanhava Schmidt no palco, pede que ele diga qual o melhor conselho que já recebeu sobre qualquer coisa. “Tente dizer ‘sim’”, fala o ex-CEO. “É um ótimo conselho”.



FONTE: IG ECONOMIA

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