terça-feira, 12 de julho de 2011

Apesar das baixas, não é hora de investir em dólar

Especialistas recomendam compra apenas para quem vai viajar; Entenda por que a moeda norte-americana está barata



Olívia Alonso, iG São Paulo 12/07/2011 05:43



Para os brasileiros que viajam aos Estados Unidos, o momento é claramente favorável. Na hora de fazer compras, a sensação de multiplicar o valor da etiqueta por menos de 1,70 para saber o valor em reais é boa. Mas a vantagem do dólar barato pára por aí. Para especialistas, não vale a pena comprar a moeda norte-americana como investimento. “Pelo contrário, o dólar é a pior opção para investir no momento,” diz Luiz Filipe Rossi, professor de Finanças do Ibmec. Segundo ele, não há sinais de que a moeda dos EUA vá subir no curto prazo.



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A principal causa do câmbio atual é a alta taxa de juros brasileira, que faz com que investimentos no País sejam atraentes para os norte-americanos. Como o juro pago na maior economia do mundo é baixo, o retorno é maior se eles enviarem seus dólares ao Brasil, pois recebem uma taxa mais alta pelo dinheiro aplicado em produtos financeiros brasileiros.



“Como a economia dos Estados Unidos é muito maior do que a brasileira, um pouco do investimento deles aqui acaba sendo um tsunami para o câmbio,” diz Rossi. Com a entrada de dólares, aumenta a oferta da moeda, que acaba ficando mais barata.



Outro fator que contribui para a desvalorização da divisa norte-americana é o preço das commodities – como a soja, a carne e o aço – que o Brasil exporta. “Esses produtos respondem hoje por cerca de 70% das exportações brasileiras. Com isso, conforme os produtores brasileiros vendem ao exterior, mais dólares entram no País,” acrescenta o consultor financeiro Humberto Veiga.



Essa situação não deve mudar nos próximos meses. Por isso, o dólar não é atrativo como investimento. Para fazer sentido pensar em comprar dólares, é preciso acreditar que a cotação não cairá ainda mais, diz o consultor. “Embora o preço da moeda norte-americana esteja baixo, não há garantia de que este é o piso. O investidor pode ver o dólar que comprou por R$ 1,55 chegar a R$ 1,45, assim como quem comprou a R$ 1,80 está com diante de uma cotação bem mais baixa agora,” afirma Veiga.



Na opinião dos especialistas, ainda que o presidente do Banco Central tenha dito nessa semana para as empresas não se endividarem em dólar, o que sugere que ele prevê que a moeda dos EUA terá uma valorização, isso não deve determinar a decisão de investidores. A aposta é de manutenção do atual cenário. “A luta do Banco Central para conter a inflação continua, o que significa que a taxa de juros deve permanecer alta,” afirma Rossi.






Gradual Investimentos

Veiga acrescenta que medidas que possam vir a ser tomadas pelo governo para conter o dólar dificilmente farão com que a divisa se estabilize ou suba. “Seria preciso que os governantes tomassem uma medida muito forte, o que não se sabe se estão dispostos a fazer”, diz.



Régis Chinchila, analista técnico da Gradual Investimentos, afirma que a "tendência, hoje, claramente é de queda". Segundo ele, que faz suas análises com base nos gráficos de comportamento do dólar, enquanto a moeda estiver operando abaixo de R$ 1,60, a manutenção da trajetória de baixa é "evidente".



A recomendação dos especialistas, portanto, é comprar dólares apenas para viajar. Em último caso, para ser um componente a mais para variar o portfólio de investimentos. “Minha sugestão conservadora é de que se você tem interesse em adquirir a moeda estrangeira, faça isso não como uma ação especulativa, mas como uma diversificação de carteira,” diz Veiga, autor do livro “Tranquilidade Financeira: Saiba como investir no seu futuro”. Neste caso, ele diz que o ideal é aplicar em fundos cambiais que tenham exposição em moeda estrangeira.



Dólar comercial e dólar turismo

Apesar de o dólar estar cotado a R$ 1,55, quem vai viajar acaba pagando alguns centavos a mais na hora de comprar a moeda estrangeira. Nesta quinta-feira, por exemplo, quem comprou a divisa americana pagou R$ 1,63 por cada dólar. Isso porque o viajante compra sempre o dólar turismo que, apesar de acompanhar o dólar comercial, é mais caro.



A diferença existe porque as operações realizadas com cada modalidade são de naturezas distintas, com custos administrativos e financeiros também diversos. Enquanto a cotação de turismo é utilizada para transações relacionadas com viagens ao exterior, a comercial é usada nos negócios de comércio exterior.



FONTE: IG ECONOMIA - FINANÇAS

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