sexta-feira, 15 de julho de 2011

Mercado aquecido faz expatriados voltarem ao Brasil

48% dos brasileiros que retornam o fazem a convite de empresas de recrutamento


Maria Carolina Nomura, iG São Paulo 15/07/2011 05:58



O aquecimento da economia brasileira, aliado à crise econômica mundial de 2008, fez com que os executivos expatriados voltassem a pensar no Brasil como uma boa alternativa de empregabilidade. A perspectiva de crescimento na carreira em áreas estratégicas e salários mais atrativos por conta da valorização do real também saltam aos olhos dos brasileiros no exterior.

Consultor David Braga: Brasil é a bola da vez quando o assunto é trabalho, em especial no nível de alta gestão

Um estudo da consultoria PriceWaterhouseCoopers divulgada durante o Fórum Econômico Mundial mostrou que 58% dos executivos brasileiros acreditam no crescimento dos negócios este ano, ante uma média mundial de 48%.



David Braga, gerente geral da Dasein Executive Search, empresa certificada pela Association of Executive Search Consultants (Aesc), afirma que o Brasil é a bola da vez quando o assunto é trabalho, em especial no nível de alta gestão (gerentes, diretores e presidentes). “As áreas que estão em alta são as de finanças, auditoria, engenharia, serviços, operações, comércio internacional, tecnologia da informação e relação com investidores.”



Os presidentes de empresas em São Paulo têm uma remuneração média de mais de US$ 600 mil por ano - sem contar bônus -, valor acima do de seus pares de Nova York, Londres, Cingapura e Hong Kong. Em São Paulo, diretores ganham mais de US$ 200 mil por ano, segundo uma pesquisa da Dasein Executive Research.



Apagão de talentos

Uma das razões para os altos salários é a escassez de talentos. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), 69% das empresas têm dificuldades de contratar trabalhadores qualificados. Esse é um dos motivos pelos quais as empresas estão olhando para fora do território brasileiro em busca dessa mão de obra: 48% dos brasileiros que retornam o fazem a convite de um headhunter, empresas de executive search ou do próprio RH, aponta a Daisen Executive Search.



“Trinta e cinco por cento dos brasileiros que voltam o fazem por sua própria iniciativa, cadastrando currículos na internet, e 17% são chamados de volta pelas próprias empresas que os enviaram. Cerca de dez pessoas por dia nos procuram com o objetivo de voltar ao Brasil”, complementa Braga.


Presidentes de empresas em São Paulo têm uma remuneração média de mais de US$ 600 mil por ano



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Incentivo governamental



De olho na falta de mão de obra qualificada, o governo brasileiro também fez programas de incentivo à repatriação. O Ministério da Ciência e Tecnologia criou em março a Comissão do Futuro para discutir a volta de cientistas brasileiros e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) elabora um projeto para atrair pesquisadores.



Desde janeiro deste ano, o Ministério do Trabalho e Emprego disponibiliza um serviço de cadastro de currículo para profissionais que retornam do exterior e estão sem trabalho. Segundo Hitoshi Matsu Ura, coordenador do Núcleo de Apoio aos Trabalhadores Brasileiros Retornados do Exterior, das 500 pessoas que procuraram o órgão desde o início do ano, 50% já estão recolocadas. “A maioria dos profissionais é decasségui (descendentes de japoneses que trabalhavam nas fábricas no Japão). Eles voltam sem trabalho e, às vezes, com problemas de documentação.”



Difícil regresso

Mas não são apenas os brasileiros que trabalhavam em fábricas que passam dificuldades ao retornar. Os executivos também enfrentam problemas, como readaptação, choques culturais reversos e frustrações.



De acordo com o estudo Práticas de Recursos Humanos do Processo de Repatriação de Executivos Brasileiros, de Mariana Barbosa Lima, chefe da Divisão Administrativa do Museu Lasar Segall, e Beatriz Maria Braga, professora da Fundação Getulio Vargas, o processo de repatriação dos executivos é negligenciado pelas empresas.



“Em termos profissionais, durante a expatriação podem ocorrer mudanças na organização de origem, como reestruturações e mudanças na estratégia organizacional. O indivíduo também muda durante a experiência internacional. Sua identidade é redefinida, sua visão de mundo e seus valores mudam e a cultura da organização pode não ser mais compatível com o novo indivíduo que retorna”, diz o estudo.



FONTE: IG ECONOMIA - CARREIRAS

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