quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Empresas fazem recrutamento geográfico

Residir próximo ao trabalho é requisito para atuar em cargos operacionais

Maria Carolina Nomura, iG São Paulo | 17/08/2011 05:57
Em uma cidade como São Paulo, onde as pessoas levam, em média, duas horas e meia do trajeto de casa ao trabalho, morar perto da empresa está se tornando um requisito para contratação.
“Especialmente para cargos operacionais e administrativos, a distância e o tempo que o colaborador leva para ir de sua residência à empresa são considerados requisitos de seleção, devido aos custos com o transporte que o empregador tem de arcar”, explica Vanessa Mello Roggeri, consultora de Recrutamento e Seleção da Ricardo Xavier Recursos Humanos.

Foto: Arquivo pessoal
Ana Carolina mora na zona sul e tem de estar na zona leste durante a semana: “O trânsito é um mal necessário. Se você vive em São Paulo, não tem como fugir dele”, diz


Custo

Segundo a legislação trabalhista, se o gasto que o empregado tem com o transporte ultrapassar 6% de seu salário, a empresa deverá interar o valor da despesa com a locomoção.

“Há, ainda, o desgaste físico que o profissional terá no trajeto, fato que pode prejudicar o seu rendimento no desenvolvimento das atividades durante o dia”, afirma Vanessa.

Segundo uma pesquisa feita pelo Ibope e a Rede Nossa São Paulo, em 2010, o paulistano gasta, em média, 27 dias por ano no trânsito da cidade. O tempo médio de deslocamento diário é de 2 horas e 42 minutos.


Cansaço

Na empresa de recrutamento Vagas, a distância do candidato em relação à empresa não é um item eliminatório, afirma Alessandra Tomelin, gerente de RH. O que é avaliado, diz ela, é se esse profissional está disposto a suportar o cansaço decorrente das longas distâncias percorridas.

“Já aconteceu de um colaborador desistir da empresa depois de um ano conosco por não se adaptar à distancia percorrida de duas horas de sua casa até a organização. Mas temos outras pessoas, com a mesma duração de trajeto, que não sentem o desgaste a ponto de pedir demissão. Acho que depende mais do colaborador e de sua disposição em investir algumas horas de seu dia no trânsito, do que da organização decidir se esse é um fator desmotivador”, afirma Alessandra.


 
Foto: Cross Content/Danilo Chamas fotomontagem iG sobre SXC
Pesquisa indica que o tempo médio de deslocamento diário na cidade de São Paulo é de 2 horas e 42 minutos


Profissionais sem distância

Quando os cargos têm caráter estratégico ou técnico, a distância da moradia do candidato não é um item eliminatório, afirma Vanessa. “Exemplos disso podem ser dados citando as áreas de mineração, logística e os engenheiros de uma forma geral. Para essas vagas e para postos de liderança, como coordenadores, gerentes e diretores, são considerados no processo seletivo até profissionais que residem em outros Estados”, complementa.

“O trânsito é um mal necessário. Se você vive em São Paulo, não tem como fugir dele”, diz Ana Carolina Gambarini Menossi, sócia do Laboratório Gambarini, que fica em Rio Claro (interior paulista).

A empresária, que mora no bairro da Saúde, zona sul da capital do Estado, conta que de segunda a quinta tem de estar no bairro do Tatuapé, na zona leste. “Minha sorte é que venho no contra-fluxo. São 40 minutos de ida e volta em ambos os trajetos.” Às sextas-feiras, ela sai às 5h30 da manhã de casa para Rio Claro e só retorna às 22h.

Já a psicóloga Gisella Marina Borges, cujo trabalho está a dois minutos a pé de sua casa, na Vila Sofia, zona sul de São Paulo, diz que isso proporciona a ela uma ótima qualidade de vida. “Já trabalhei longe de casa e ficava desesperada. Isso porque sou muito pontual e por mais que saísse com duas horas de antecedência, nunca sabe o que pode acontecer no trânsito daqui.”
Segundo a consultora da Ricardo Xavier, mais do que as habilidades técnicas, as características comportamentais são extremamente relevantes em uma seleção. “As empresas chegaram à conclusão de que podem desenvolver tecnicamente os profissionais, mas não mudar suas atitudes. Sendo assim, antes de verificar a condição geográfica dos candidatos, as empresas estão levando mais em consideração o perfil comportamental”, conclui Vanessa.

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