domingo, 28 de agosto de 2011

Mudanças da Fuvest 2012 retomam preocupações dos anos 1990

O vestibular da USP que está com inscrições abertas mudou para tentar elevar nível dos candidatos e reduzir a sobra de vagas


Cinthia Rodrigues, iG São Paulo | 28/08/2011 07:00

As mudanças que a Universidade de São Paulo (USP) aprovou para o vestibular 2012, que está com inscrições abertas, retomam tentativas dos anos 1990 de equacionar a sobra de vagas e o mau preparo dos candidatos em algumas carreiras. O aumento da nota de corte e a redução do número de aprovados por vaga para a 2ª fase são estratégias históricas da Fundação para o Vestibular (Fuvest).

Mudanças do vestibular 2012Como eraA partir deste ano
Nota de corte mínima para passar a 2ª fase22 de 90 questões27 de 90 questões
Definição da nota de corte das carreiras acima do mínimoEstabelecido de forma que sejam aprovados pelo menos 3 por vaga para a 2ª faseDe 2 a 3 por vaga para a segunda fase, de acordo com a nota de corte (entenda a conta)
Mobilidade dos candidados entre as carreirasSó concorria a vaga no curso em que se inscreveuSe não aprovado na área, poderá usar a nota para outras após a 3ª chamada
Notas da 1ª faseSó contavam para ir à 2ª faseSerão somadas com as da 2ª para o resultado final (saiba mais)
Prova do 2º dia da 2ª fase20 questões dissertativas16 questões dissertativas

A preocupação da universidade com a qualidade dos aprovados aparece no livro "Fuvest 30 anos", produzido pela própria universidade, a partir de 1994. A obra de Shozo Motoyama e Marilda Nagamini resgata a história do vestibular desde 1976 e os depoimentos dos coordenadores com as justificativas para implementar mudanças.

De acordo com o livro, nos primeiros 18 anos o vestibular foi praticamente o mesmo: a 1ª fase, de alternativas ou “cruzadinhas”, como se dizia na época, era apenas considerada preliminar da 2ª, que já era dissertativa, mas exigia novamente conhecimentos de todas as disciplinas e era considerada mais importante.
Até ali, a nota de corte definida para a 2ª fase era sempre a que permitisse aprovar um múltiplo (às vezes 2, outras 3 e até 4) do total de vagas em cada curso. Em 1994, percebeu-se que com esta estratégia pessoas com notas altas que tentavam carreiras muito disputadas, eram eliminadas e, por outro lado, cursos com baixa aprovavam candidatos com pouca pontuação.
O então diretor da Fuvest, Alceu Pinho, disse na época: "O excesso de vagas (e/ou baixa procura) em certas carreiras é um fator que influi decisivamente no rebaixamento do nível dos candidatos que alcançam a 2ª fase."
A partir de 1994 foi feita uma conta que deixasse passar mais pessoas por vaga nos cursos com maior demanda. O então diretor da Fuvest, p diretor detalho assim a decisão: “Baixar a nota de corte onde ela é mais elevada e aumentá-la naquelas outras (áreas) onde ainda está muito baixa. Em resumo, além de considerar a oferta e a demanda, leva-se em conta, agora também, a qualificação da demanda, através de um fator multiplicativo que depende da razão entre a nota de corte na carreira e o número total de questões propostas. Essa razão é um indicativo do desempenho médio do grupo que, em cada carreira, será convocado para a 2ª fase.”
No vestibular, 2012, esta conta foi refeita novamente. Nos cursos mais concorridos serão aprovados para a última etapa três candidatos por vaga e a nota de corte se define pelo valor mínimo para que isso ocorra. Nos cursos em que a nota média dos candidatos for entre 30 e 60, será feito o seguinte cálculo para estabelecer quantas pessoas por vaga vão para a segunda fase: a média de acertos dos candidatos à carreira será dividida por 30 e o resultado somado a um. Por exemplo, um curso que tiver média de 45 pontos, terá 2,5 candidatos por vaga na segunda fase (45/30=1,5 + 1=2,5). Neste caso, se houver as mesmas 50 vagas, 125 vestibulandos irão a próxima etapa. Cursos que tiverem média de pontos dos candidatos menor do que 30, terão dois candidatos por vaga na segunda fase.

Outras mudanças daquela época
Logo em seguida a decisão de mudar a quantidade de aprovados para a 2ª fase, percebeu-se em 1994 que não adiantava mudar as regras se a última etapa mantivesse o mesmo tipo de perguntas, de todas as disciplinas. “O excesso de vagas (e/ou baixa procura) em certas carreiras é um fator que influi decisivamente no rebaixamento do nível dos candidatos que alcançam a 2ª fase. Isto mostra claramente que, além de um certo ponto, mudanças de formato no vestibular tornaram-se irrelevantes, pois não conseguirão alterar significativamente o perfil do candidato que será convocado para a 2ª fase.”
Assim cada unidade disse quais eram os conteúdos mais pertinentes nas carreiras que tinham e, em 1995, a 2ª fase passou a aplicar provas diferentes conforme o curso pretendido. No mesmo ano, foram feitas mais três mudanças que chegaram aos dias de hoje: surgiu a alternativa de inscrição “treineiro” para quem ainda não poderia se matricular, pois não terminaria o ensino médio em tempo; a redação passou a contar com dois corretores diferentes que têm as notas confrontadas e um terceiro em caso de divergência; e as provas começaram a ter versões diferentes para impedir a cola durante a prova.

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