segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A classe C chega aos escritórios

Acessos à educação e à internet facilitam ingresso no mercado de trabalho

Maria Carolina Nomura, iG São Paulo | 05/09/2011 05:58

 
A ascensão econômica da classe C também é consequência do aumento da escolaridade dessa camada social nos últimos anos, afirma Renato Meirelles, sócio-diretor do Data Popular, empresa de pesquisa e consultoria. “Basta ver que os empregos das pessoas mais velhas e dos mais jovens na classe C são muito diferentes. É comum ver um pai que não teve acesso à educação e um filho com diploma universitário”, explica Meirelles.

O professor e pesquisador de Desigualdade Social da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Roberto Dutra, que também é doutorando em Sociologia pela Universidade de Berlim, concorda com Meirelles e acrescenta que para que essa população tenha melhores posições no mercado de trabalho é preciso que converta o sucesso econômico em qualificação e conhecimento.


"Falta a conversão do capital econômico e da disposição para trabalhar e investir no futuro em capital cultural. É o acesso ao conhecimento técnico e universitário que permite consolidar as posições sociais", destaca Dutra.

Nos últimos dez anos, 30 milhões de pessoas ascenderam à classe C – faixa cujo rendimento varia de R$ 1 mil e R$ 4 mil por família, por mês, de acordo com a SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República).



Mais determinados

A escassez de oportunidades de trabalho, aliada à vontade de “vencer na vida”, faz um jovem da classe C que consegue um emprego que proporcione um plano de carreira trabalhar com muito mais vontade e determinação do que os demais que vieram de uma condição social melhor.

Filha de mãe manicure e pai vendedor, a turismóloga Denise de Souza Carolino, 26, é um retrato do sucesso desses jovens. Ela conta que sempre estudou em escola pública e que conseguiu fazer a faculdade de Turismo na Uniban (Universidade Bandeirante) com o financiamento do Prouni (Programa Universidade para Todos), do governo federal. “Meus pais não tinham nem o ensino médio completo e sempre foram os maiores incentivadores dos estudos”, diz Denise.

Durante dois anos, ela trabalhou como assistente administrativa e na área de marketing até conseguir um emprego na área. Conseguiu uma posição em uma pequena empresa de eventos e saiu de lá como coordenadora de equipe.



“Eu queria novos desafios e consegui um emprego em um hotel cinco estrelas, que é onde estou hoje. Aqui, sou assistente de eventos e tenho um plano de carreira. Eu pretendo estudar outro idioma, além do inglês, que já sei, e atuar especialmente com o público AAA, que é para quem faço a maior parte dos eventos no hotel”, conta.

Seu irmão Danilo de Souza Carolino, 28, não ficou atrás. Formou-se em História, também pela Uniban, e conta que trabalhou muito para pagar a faculdade. “Eu fui officeboy, trabalhei em telemarketing, fui caixa de farmácia. Tudo para pagar os estudos. Eu sempre gostei dessa área, ainda que o campo de trabalho seja provavelmente acadêmico.”



Conectados

Na avaliação de Meirelles, a grande diferença entre os jovens da classe C de hoje e os de ontem é o acesso à internet. “Eles estão conectados todo o tempo e com isso, aumentam consideravelmente seu networking profissional. Eles mandam currículo para muito mais pessoas e se qualificam por meio de cursos online”, afirma.

De acordo com o IAB (Interactive Advertising Bureau), em 2010, 52,8% da audiência na internet brasileira - representada por 73,7 milhões de pessoas – pertencia às classes C, D e E.

Segundo a pesquisa “A Nova Classe Média: o Lado Brilhante dos Pobres”, do Centro de Estudos Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), cerca de 3,1 milhões de pessoas das classes D e E migraram para o segmento C entre 2008 e 2009. Com isso, 94,9 milhões de pessoas compunham a classe média no ano passado, num total de 50,5% da população.
FONTE: IG ECONOMIA - CARREIRAS

Nenhum comentário: