segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Corretoras cortam taxas do Tesouro Direto para atrair clientes

Empresas apostam nos títulos do governo para conquistar investidores afastados das ações por causa da crise global

Olívia Alonso, iG São Paulo | 26/09/2011 05:45

Conquistar clientes tornou-se uma tarefa difícil para as corretoras de valores nos últimos tempos, desde que a crise global vem deixando os investidores mais afastados do volátil mercado de ações. Para driblar esta dificuldade, muitas corretoras de valores brasileiras resolveram reduzir taxas cobradas para operações no Tesouro Direto - sistema de compra e venda de títulos públicos pela internet -, como uma forma de atrair investidores.

Hoje, a taxa de administração mais alta praticada no mercado é de 1%, sendo que a maioria das agentes de custódia do Tesouro Brasileiro cobra entre 0,2% e 0,5%. Há dois anos, algumas instituições chegavam a cobrar até 3,5% pelos mesmos serviços. Agora, cinco casas estão com taxa zero, sendo que a última a entrar para este grupo foi a Título Corretora, há dois meses. Veja as taxas cobradas por todos os agentes.

Foto: Fellipe Bryan Sampaio/iG Ampliar
Sala onde analistas do Tesouro definem os preços dos títulos

“Optamos por baixar a taxa para incentivar os investidores a investirem no Tesouro sempre que tiverem possibilidade,” diz Amerson Magalhães, diretor do Easynvest, home broker da Título. Assim que reduziu o custo de administração, a corretora afirma que passou também a divulgar os títulos do governo em seus canais de comunicação.

“Está muito mais difícil atrair clientes agora, por causa da crise. O brasileiro tende a preferir as ações em apenas momentos de otimismo, o que não estamos vendo,” diz Rogerio Manente, gerente de homebroker da corretora Socopa. "Incentivamos o Tesouro pois a partir do momento que o cliente ele se cadastra, ele passa a ter uma conta na corretora e recebe os nossos relatórios. Aos poucos, percebe que a renda variável pode valer a pena,” afirma.

Na Socopa, cerca de 20% dos clientes que começam a operar no Tesouro Direto passaram, em algum momento, a comprar ações, segundo Manente. “Quando a bolsa melhora um pouco, os investidores acabam migrando para renda variável. Essa mudança é bastante espontânea,” afirma.

O mesmo tem acontecido na Renascença. “Percebemos que as pessoas abrem a conta, começando pelo Tesouro Direto, mas aos poucos começam a aprender sobre renda variável e se interessar,” acrescenta Eric Cardoso, gerente da RenaTrader, home broker da corretora.

Ainda que as operações com ações rendam maiores ganhos às empresas – principalmente com corretagem e taxa de custódia -, vale a pena até ter prejuízo com o Tesouro Direto para conseguir ganhar clientes, segundo as corretoras.
“Diretamente, não ganhamos nada com o Tesouro. Hoje, teoricamente, até temos prejuízo. Mas nosso objetivo é fomentar novos investidores, objetivando uma migração. Quando o cliente tiver vontade, acreditamos que ele vai buscar outros produtos,” diz Bruno di Giorgio, superintendente de marketing do Banif Invest, home broker da Banif Corretora.



Competindo com os bancos


O Tesouro Direto, que foi lançado em 2002 e hoje tem um estoque de cerca de R$ 6,5 bilhões, também tem sido uma arma das corretoras para competirem com os bancos.
“É uma forma de concorrermos com o CDB,” diz Manente, da Socopa. “Às vezes o cliente quer tirar dinheiro de bolsa e colocar em outra opção de renda fixa. O Tesouro é uma opção para que esse investidor não busque um produto de um banco,” acrescenta Magalhães, da Título.



Incentivo da Bolsa

Em 2011, as corretoras ganharam um terceiro motivo para dar uma atenção especial os títulos do governo. Em janeiro, a BM&FBovespa lançou um programa em que dá desconto no pacote de serviços cobrados das corretoras de acordo com o volume que movimentam com os títulos do governo.

No primeiro semestre deste ano, 74 casas pouparam cerca de R$ 2,7 milhões, no total, segundo a bolsa de valores brasileira. O objetivo da bolsa, com o programa, é o mesmo das corretoras: atrair investidores que possam, no futuro, operar ações.

O bom retorno das aplicações no Tesouro Direto também contribui para que a estratégia das corretoras faça ainda mais sentido. Como os títulos são prefixados, indexados à inflação ou indexados às taxas de juros, o alto ganho - em um cenário de inflação em torno de 7% e juro a 12% - é garantido.

“As pessoas estão buscando aplicações atreladas aos juros e à inflação,” diz Cardoso, da RenaTrader.
Apenas em agosto deste ano, 6.239 novos participantes se cadastraram no Tesouro Direto, segundo dados oficiais do Tesouro. No total, 258.968 investidores estavam inscritos no programa ao final do mês passado. “Ao oferecer os títulos, aproveitamos a oportunidade do momento favorável para criar um relacionamento com essas pessoas,” acrescenta. 


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