quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Aprenda com os erros de quem quebrou, mas abriu outra empresa e acertou

Veja as soluções de um franqueado que virou franqueador, um pasteleiro que se tornou consultor e um "nerd" que foi surpreendido – e depois ajudado – pela internet

Pedro Carvalho, iG São Paulo | 05/10/2011 05:55
O empresário Mário Kaphan lembra-se de ter ficado “surpreso e emocionado” ao entrar no prédio da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo para visitar um amigo, em meados de 1994. Dono da empresa líder em softwares para comunicação de dados, que tinha 47% do mercado na época, ele viu ali uma tela de computador que conseguia transportá-lo para os corredores do Museu do Louvre. Naquele instante, frente a frente com uma novidade chamada “internet”, Kaphan percebeu que o futuro seria cheio de possibilidades – mas que seu negócio tinha acabado de virar parte do passado.


Foto: Greg Salibian/iG Ampliar
Mário Kaphan: levado ao fracasso – e ao sucesso – pela chegada da internet


A empresa vendia “algo equivalente ao browser de hoje”, explica, referindo-se à janela virtual que é aberta quando você acessa a rede. Tornada obsoleta pela própria internet, não demorou para que a Humana Informativa passasse a ser inviável. Mas o empresário decidiu tentar novamente e fundar outro negócio.
Criou a Vagas, voltada para a parte tecnológica do recrutamento de funcionários – um processo que acabaria turbinado pela própria internet, algoz do empreendimento anterior. A empresa deve terminar o ano com 130 empregados, faturamento de R$ 19,5 milhões – e acaba de ocupar um novo andar num prédio do centro empresarial do Brooklin, área nobre da capital paulista.

Kaphan faz parte de uma classe de empresários que usou o aprendizado de um negócio fracassado em outro posterior, no qual acabou sendo bem sucedido. De acordo com uma pesquisa do SEBRAE-SP, entre os donos de empresas que fecharam as portas nos últimos anos na capital paulista, 16% tornaram-se novamente empresários. “Quando a gente abre o primeiro negócio, é comum termos características perigosas, como pressa ou falta de planejamento”, explica Reinaldo Messias, consultor do SEBRAE-SP. “A chance de acertar no segundo é maior”, diz.

O especialista acredita que seguir na mesma área de atuação – como fez Kaphan, permanecendo no campo da tecnologia da informação – é uma boa ideia. “Tem gente que fica mudando de ramo, pensando ‘o que será que está dando dinheiro agora?’”, diz. “Mas, se você pode levar a experiência da primeira tentativa, fica mais fácil – não precisa ser o mesmo tipo de negócio, mas o mesmo ramo de atividade”, diz. Foi também o que fez o próprio consultor do SEBRAE, quando viu que sua pastelaria estava fritando suas economias pessoais.
No início dos anos 1980, Messias decidiu apostar num produto que considerava revolucionário: os primeiros pastéis de frango com Catupiry da capital paulista. “Abri uma pastelaria na Penha, onde todo mundo estava acostumado a comer pastel de carne, queijo e palmito”, diz. “É muito difícil mudar os hábitos das pessoas”. Mas, além de esbarrar na questão cultural, houve um sério erro de planejamento.

O aluguel era muito caro, para um comércio que vendia um produto tão barato. “Tinha de vender muitos pasteis só pra pagar o aluguel. Percebi que o local ideial para se ter uma pastelaria é um trailer”, diz. Esse ponto – o planejamento financeiro – é outro no qual um negócio fracassado pode ajudar uma tentativa seguinte a dar certo.

“A própria experiência do primeiro negócio é um planejamento para o segundo – e as pessoas quebram, principalmente, por falta de planejamento”, diz. Segundo o SEBRAE-SP, entre as empresas que chegam vivas ao quinto ano, 73% haviam planejado antes de abrir as portas, e 52% não. Assim, após dois anos acumulando dívidas, Messias decidiu fechar a pastelaria e abrir um novo negócio, no qual poderia aproveitar a experiência do primeiro. Criou uma consultoria para o setor de serviços – e foi bem-sucedido.


Tempo para sacudir a poeira
Detectar rapidamente que um negócio está condenado é um fator importante. Quanto antes for decretado o fechamento das portas, menos dívidas serão acumuladas, explica o consultor do SEBREAE-SP. Mas, pisar no acelerador e “emendar” o segundo negócio no primeiro, é uma questão mais complexa.

No caso de Kaphan, que passou a se definir como "um nerd mais maduro", funcionou. Ao perceber que a Humana Informática não teria futuro, ele começou a planejar a próxima empreitada já nas salas da empresa antiga. Após três meses de “brainstorm”, o novo negócio estava quase pronto para nascer – inclusive com o aproveitamento de pessoas da equipe. Para não deixar que o passivo da primeira empresa atrapalhasse o investimento na segunda, ele manteve a Humana formalmente aberta e fez um plano para equacionar as dívidas, numa espécie de parcelamento – a empresa existe, no papel, até hoje.



Foto: Divulgação Ampliar
Hipólito: após decepção com Subway, "intervalo" como empregado custeou novo empreendimento


Já o empresário Artur Hipólito não pode fazer o mesmo. Após apostar na chegada da rede de alimentação Subway ao Brasil, em 1995, ele quebrou e precisou voltar a ser funcionário de carteira assinada – ainda que temporariamente. “Foram três anos de investimento e dedicação a um projeto que vimos naufragar da noite para o dia. Os recursos se esvaíram, pois arcamos com o prejuízo dos valores investidos e com o fechamento da empresa”, conta. “Voltei para o mercado de trabalho e ingressei na área comercial do Grupo Wizard”, lembra o empresário.

Após reerguer as finanças, Artur e a esposa Léa decidiram tentar outra vez. Fizeram, também, a opção de continuar numa área na qual tinham acumulado experiência: a de franquias. Abriu – e passou a franquear – uma marca voltada ao reforço escolar, chamada Tutores. Deu certo. Em pouco tempo, o negócio se transformou em uma rede de microfranquias – que, em 2009, fez nascer o Grupo Zaion, que já conta com 500 franqueados no Brasil.

Ao passar de franqueado para franqueador, o empresário levou experiências importantes do primeiro para o segundo negócio. “Aprendi, com a primeira e triste experiência no franchising, que precisamos ter muita atenção com nossos franqueados, pois o sucesso deles será o sucesso da nossa operação”, conta.


Churchill explica
Nos EUA, principalmente entre os empreendedores digitais do Vale do Silício, tem força a ideia de que não se deve lamentar – ou condenar o empresário – em caso de fracasso, e sim tirar proveito da situação.

Vários exemplos de sucesso, por lá, surgiram após tentativas malsucedidas – como o Lisa, computador da Apple, lançado em 1983, que naufragou rapidamente, mas foi o antecessor do Macintosh.

Não a toa, foi uma americana, chamada Cass Phillips, a criadora do FailCon, uma conferência inteira para discutir a importância de fracassar nos negócios. A edição deste ano acontece no próximo dia 24. Também foi numa faculdade americana, a de Harvard, que J. K. Rowling, autora da série Harry Potter, fez um emblemático discurso sobre os benefícios do fracasso.

Mas, quando o assunto é esse, talvez nenhum nome seja mais lembrado que o do legendário político e escritor inglês Winston Churchill. No começo de sua trajetória, ele foi apontado como o principal responsável pelo fracasso do exército inglês na Campanha dos Dardanelos. Depois, é quase desnecessário dizer, teve papel fundamental na vitória aliada sobre os nazistas, durante a Segunda Guerra.

Diversas frases são infinitamente citadas como se fossem de Churchill na internet – “o sucesso não é o final, o fracasso não é fatal: o que conta é a coragem para continuar”, ou “sucesso é ir de fracasso em fracasso sem nunca perder o entusiasmo”. Elas nunca foram ditas por ele, segundo informa a Fundação Winston Churchill ao iG. Mas a experiência pessoal fez, sim, com que Chirchill eternizasse algumas palavras sobre derrotas e vitórias – que, com certeza, cabem ao mundo dos negócios. Um exemplo? ”Ninguém pode garantir o sucesso na guerra, mas apenas merecê-lo”.
 

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