quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Bancos terão que reservar mais dinheiro para poder conceder crédito

Instituições terão que se ajustar ao chamado acordo de Basileia 3, que entra em vigor em 2013, e terão que enfrentar consequencias como um aumento do custo do capital

Olívia Alonso, iG São Paulo | 20/10/2011 05:45

A entrada em vigor de Basileia 3, a partir de janeiro de 2013, levará a uma maior exigência de capital disponível para que os bancos possam fazer empréstimos. Para cumprirem as regras, as instituições bancárias de todo o mundo precisarão se organizar e fazer ajustes.

No Brasil, os bancos atualmente possuem uma quantidade de capital considerada “confortável” por especialistas, o que permitiria que emprestassem ainda mais dinheiro do que emprestam. Assim, para se adequarem às novas exigências, terão que fazer menos esforços do que instituições de outros países.

Exemplo disso é o índice de Basileia exigido pelo Banco Central do Brasil, que é de 11%, o que significa que para cada R$ 100 emprestados, a instituição precisa ter R$ 11 em capital. No exterior, a regra mais usada é a de Basileia 1, que é menos rigorosa e impõe um índice de 8%. Enquanto há bancos europeus operando perto do limite internacional, as instituições brasileiras operam, em média, com um índice de 16%.
Até 2019, quanto todas as imposições de Basileia 3 devem entrar em vigor, o índice mínimo de capital exigido pode chegar a 13%, índice que vai variar de uma instituição para outra, uma vez que entre os critérios de definição das exigências vão depender, por exemplo, do tamanho do banco e sua interligação com o sistema financeiro.

“Os bancos classificados como sistematicamente importantes poderão ter uma necessidade adicional de 1% a 2,5% de capital,” diz Ana Carla Abrão Costa, diretora de Pesquisa, Desenvolvimento e Capital do Itaú Unibanco.

Além disso, Basileia 3 vai alterar critérios de classificação de ativos que são considerados capital de reserva e vai impor medidas mais rigorosas de transparência e índices maiores de liquidez. Entenda Basileia 3.


Consequências

Entre as consequências desse maior rigor, estão o aumento do custo de capital, uma menor oferta de crédito, a necessidade de capitalização dos bancos e uma redução do pagamento de dividendos pelas instituições financeiras, dizem especialistas.

Além disso, há analistas que apostam que a busca por eficiência diante de uma maior dificuldade operacional poderá levar a uma consolidação do setor, com instituições se unindo para obter ganhos de sinergias.

Ainda que o Brasil sinta esses efeitos de uma forma mais amena, justamente por estar em uma situação mais confortável, as exigências de Basileia 3 levarão a uma maior exigência de capital em algum momento. “Há cálculos que mostram que alguns bancos podem precisar de uma capitalização em 2014 e 2015, mas isso vai depender muito do crescimento econômico,” diz Rogério Calderón, diretor de controladoria do Itaú Unibanco.


Com uma necessidade maior de recursos, a elevação do custo de capital é inevitável, diz Lucio Anacleto, sócio responsável pela área de Financial Risk Management da KPMG no Brasil. “Eu acho que isso deve ocorrer, seguramente, pois Basileia 3 pede maiores condições de capital disponível próprio dos bancos. Vai haver uma capitalização que, consequentemente, levará ao aumento do custo do capital,” diz.

O que pode elevar a necessidade de capitalização é a maior rigidez dos requisitos para a classificação de ativos bancários. O Comitê de Basileia estuda, por exemplo, a possibilidade de que os créditos tributários deixem de valer como capital. Hoje, esses ativos entram na conta das empresas como garantias para que façam empréstimos.

“Caso o crédito tributário não valha como capital em um cenário extremado da economia, os bancos acabariam tendo que se capitalizar,” diz Sergio Werlang, vice-presidente de Controles de Riscos e Financeiro do Itau Unibanco.

Anacleto também acredita em um movimento de fusões e aquisições entre instituições bancárias. “A minha percepção é que deve acontecer uma consolidação, aos poucos. Não será uma movimentação explícita, mas pouco perceptível, principalmente entre os bancos pequenos e médios, que têm mais dificuldade para se capitalizar.”

Na opinião do especialista da KPMG, alguns bancos poderão também se desfazer de ativos para ter mais recursos em mãos. “É possível que instituições menores vendam algum segmento específico, que não são seu negócio principal,” afirma.

Também é possível que os bancos nacionais precisem reduzir o pagamento de dividendos aos acionistas, direcionado o dinheiro que seria distribuídos para sua reserva de capital. Para Calderón, em uma situação em que as exigências sejam as máximas, a primeira tendência do setor seria justamente a redução dos dividendos distribuídos.

Uma consequência bastante positiva da adoção das regras de Basileia é a maior competitividade para os bancos que conseguirem se adequar mais rapidamente. “Quem antecipar seus ajuste poderá ganhar mais robustez e visibilidade,” diz Anacleto. Os brasileiros, por exemplo, poderão ter mais facilidade para captações externas, diz o analista.

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