quinta-feira, 5 de julho de 2012

Economistas veem poucas vantagens na adesão da Venezuela ao Mercosul

Avaliação não é unânime. Paradefensores da ideia, é preciso enxergar o potencial de ganhos no médio e nolongo prazos

iG São Paulo |
A entrada da Venezuela no Mercosul, esperada para o final deste mês, terá mais efeitos políticos nocivos do que benefícios econômicos efetivos. É a avaliação de economistas da Faculdade de Economia e Administração da USP e da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM/SP). Mas há quem enxergue ganhos substanciais para o bloco, em especial no médio e no longo prazo, como Paulo Vicente, professor de estratégia da Fundação Dom Cabral (FDC). “O país não pode pensar em termos de governo, tem que pensar em termos de estado”, afirma o acadêmico.


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O principal motivo de preocupação é justamente a potencial instabilidade política gerada pela entrada de um país comandado por um líder político volátil e orientado por ideologia contrária à livre iniciativa privada, como Hugo Chávez. Com poder de veto no Mercosul, o presidente Venezuelano poderia, por exemplo, ir contra a entrada de países rivais no futuro, como a Colômbia – ainda que hoje os países tenham boas relações comerciais. A estatização de empresas multinacionais é outra questão à prova.

“Ganhos com a entrada da Venezuela, não temos”, diz Celso Grisi, da FEA. “Nós precisamos disso? Claramente, não. Eles não tem praticamente nada a nos exportar”. Mario Gaspar Sacchi, professor do curso de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), concorda: “em termos econômicos, não vai mudar muito”.


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Hoje, o comércio bilateral é marcado pela importação de derivados de petróleo, pelo Brasil, e de animais vivos, carnes, commodities agrícolas e alguns produtos industrializados, como pneus para ônibus e caminhões e autopeças, pela Venezuela. No ano passado, o Brasil comprou do vizinho do Norte US$ 1,27 bilhão e vendeu US$ 4,6 bilhões, garantindo saldo positivo de US$ 3,2 bilhões – o terceiro maior nos últimos 20 anos.


Ao contrário de Grisi e Sacchi, a concentração de corrente de comércio em bens de baixo valor agregado é justamente um dos pontos que Paulo Vicente, da FDC, vê como mais positivos na adesão da Venezuela ao Mercosul. “Existe uma sinergia econômica muito forte entre os dois países, por causa do petróleo e do mercado de consumo da Venezuela”, diz. O Brasil poderia produzir e importar o petróleo mais fino de lá e vender aos venezuelanos mais alimentos e produtos manufaturados.


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O principal entrave para que isso aconteça no curto prazo, avalia, é a falta de integração logística entre os dois países. Hoje são praticamente duas as opções, cabotagem ou frete aéreo. Mas a diversificação de modais seria uma questão de planejamento, para ser resolvida no longo prazo. “Poderíamos criar uma ferrovia ligando cidades como Belém a Caracas, passando pelas Guianas e pelo Suriname, por exemplo”, afirma.

No curto prazo, Vicente vê ainda como potenciais vantagens da adesão da Venezuela ao Mercosul a possibilidade de empresas brasileiras usarem o país como plataforma logística para exportar para o Caribe e os Estados Unidos. A instalação de centros de distribuição ao Norte facilitaria o processo de venda de mercadorias na região. A entrada da Venezuela no bloco econômico também poderia abrir novas portas para a Petrobras e para empresários do setor agrícola interessados em produzir localmente. E para empresas de áreas como construção pesada e TI, avalia.

Alguns analistas relacionam a pressão brasileira pela entrada da Venezuela no Mercosul como uma forma de garantir mais força ao bloco em negociações comerciais com a China. Algo com o que, do ponto de vista estratégico, e de forma geral, o professor da FDC concorda.

Grisi, da FEA, porém, em contraponto, pondera: “estamos falando de uma abstração chamada Mercosul, que ainda nem se efetivou. Estamos com um discurso profundamente futurista em uma realidade retrógrada – a de misturar assuntos políticos e econômicos em um bloco econômico”, diz.

fonte: IG ECONOMIA

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