segunda-feira, 9 de julho de 2012

“Poucas marcas tem verdade no discurso”


Luciano Deos
Deos: Brasil não tem política para produtos internacionalizados (Foto: Divulgação)

As empresas brasileiras ainda não descobriram todo o potencial de valor agregado às suas marcas, na opinião de Luciano Deos, CEO da consultoria GADLippincott e presidente da Associação Brasileira de Empresas de Design (Abedesign). Ele foi presidente do Júri de Design no Cannes Lions 2011.

Em entrevista ao Poder Econômico, ele afirma que as empresas com atuação no mercado internacional tem mais cuidado com a marca, mas cobra uma política governamental para um fortalecimento dos produtos brasileiros no exterior:
- Para termos produtos internacionalizados, precisamos de uma política de criação de valor. Não temos uma estratégia de Brasil.


Poder Econômico – Como você avalia o cuidado das empresas brasileiras com suas próprias marcas?
Luciano Deos – As marcas precisam ser observadas sob duas óticas: tem a marca de empresa enquanto corporação e tem marca de produtos e serviços. São mundos diferentes. De forma geral, o tema marca no Brasil é muito novo, ainda está começando a ser trabalhado e as empresas estão começando a trabalhar o papel da marca como construção da imagem e elemento que direciona o discurso da organização.


Poder Econômico – Qual o papel das marcas no contexto das corporações?
Luciano Deos - Os papeis da marca são múltiplos. Dependendo do tipo de corporação tem mais ou menos ênfase. No consumo, temos mais apelo ao consumidor, já o B2B é a imagem e a reputação. Ainda estamos começando a compreender a marca no Brasil. É um estágio de entender que existe valor em questões intangíveis. O mundo dos negócios normalmente é pautado pelo tangível, mas a marca também tem valor. É um ator novo em termo de valor nessas indústrias mais novas.


Poder Econômico – Quem melhor trabalha essa questão de marca atualmente?
Luciano Deos - Principalmente as corporações que já estão mais em contato com o mundo globalizado. Essas exportadoras, como Vale e Gerdau, empresas que estão em um processo de construção de produtos globalizados, como Natura, Havaianas, Melissa, Stefanini. Mas carecemos de mais produtos com valor agregado para competirmos no mercado internacional. Temos poucos produtos brasileiros internacionalizados. Isso é característica da nossa indústria, somos uma indústria de baixo valor agregado. A verdade é que jamais teremos marcas internacionalmente reconhecidas se não tivermos produtos. São coisas únicas.
Para termos produtos, precisamos ter uma política de criação de valor. Não temos uma estratégia de Brasil. A Coreia teve uma estratégia clara de investir em indústria de tecnologia e se desenvolveu para isso. Os produtos coreanos eram conhecidos como de segunda e terceira categoria. Eles fizeram um investimento pesado em imagem e hoje se tornaram marcas referenciadas.


Poder Econômico – As novas empresas de tecnologia podem ditar uma nova tendência para marcas?
Luciano Deos - Essa indústria de tecnologia, com essa proposta mais escrachada, no bom sentido, com o funcionário que vai de calça jeans, tem uma proposta diferente de falar e agir. Esses caras estão mudando os padrões. Eles não estão preocupados mais com estabilidade. Eles não entram em uma empresa para ficar 20 anos… Essas empresas vão ditar uma nova linguagem. Marca é relacionamento e essas empresas vão mudar a forma de se relacionar.

As marcas hoje são mais simples, num sentido amplo, despojadas, mais próximas, com um discurso mais excitante. Quem não for isso vai ter pouca chance de criar algum vinculo. Esse é o novo mundo que atrai as pessoas. Todas as empresas de certa forma vão ter de se mover para esse ambiente. Algumas terão verdade nesse discurso novo, mas a grande maioria não terá. É como sustentabilidade: poucas empresas tem verdade no discurso. A grande maioria se move muito mais por obrigação.


FONTE: IG COLUNISTAS

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