domingo, 8 de julho de 2012

Recomendações sobre o teletrabalho - parte 3

O TELETRABALHO NO MUNDO


Trabalhe sem sair de casa. Esta é a oferta tentadora trazida por milhares de notícias nos jornais e dos apelos publicitários com referencias aos congestionamentos no
transito, que invadem ruas e lares, por correio, e-mail ou televisão. A evolução e o barateamento dos serviços online, além do momento em que se encontra o mercado de trabalho e o comércio mundial, estão contribuindo para o maior interesse pelo trabalho à distância.
Nos Estados Unidos, a quantidade de trabalhadores que trocaram as roupas formais e os cartões de ponto para se tornarem teletrabalhadores - profissionais que trabalham em casa, usando computador ou telefone, não necessariamente todos os dias da semana-já chega a 21 milhões e representa 18% da força de trabalho.
No Brasil, gerentes e diretores ainda precisam se habituar a comandar funcionários que não estão presentes fisicamente.
Não é preciso ser autônomo para ser um teletrabalhador. O profissional precisa ter um mínimo de infra-estrutura, como um computador, fax e telefone, além de softwares de controle de tarefas e ferramentas de comunicação, como e-mail e messenger, por exemplo. Algumas empresas oferecem equipamentos e arcam com os custos de internet e telefonia do funcionário virtual.
As empresas tais como, Dell, Xerox e Shell já utilizam o trabalho à distância, e empresas menores já demonstram interesse, principalmente com a redução dos custos. Existem empresas que trabalham 100% virtualmente e outras que podem ter parte do pessoal operando nessa modalidade.
A principal vantagem nesse tipo de estratégia é a redução de custo, pois, elimina-se gastos com transporte, alimentação, aluguel ou compra de uma sala, mesas, cadeiras, computadores, armários, limpeza, taxas, luz, condomínio, telefone, enfim, todos os gastos necessários para manter um escritório. Com essa economia, muitas empresas optam por melhorar a remuneração de seus funcionários, visando obter maior produtividade.
Desta maneira, não somente as empresas têm vantagens, como também os profissionais, já que gastam menos roupas, não vivem o estresse dos engarrafamentos e/ou até assaltos, além de contar com a flexibilidade dos horários e poder ficar mais tempo com a família.
No entanto, não é uma medida simples de ser tomada. O trabalho precisa ser bem distribuído e acompanhado, e, exige investimentos com softwares para administrar todo o processo, além de treinamento diferenciado ministrado aos gerentes, para sensibilizá-los na gestão das pessoas que não vão mais ao escritório todos os dias. Neste particular, é preciso que se tenha em mente que o que interessa são os resultados e a qualidade do trabalho.
A modalidade é vantajosa, mas antes de adotá-la é necessário levar em consideração o perfil das atividades da empresa para avaliar quando e como operar à distância.
Foi pensando em reduzir custos que a Pontnet (www.pontonet.com.br), empresa do
Rio de Janeiro, especializada em consultoria e estratégia para internet, resolveu em
2000 fechar as portas do seu escritório em Copacabana, e começou a trabalhar virtualmente.
A Pontonet faz manutenção de websites para grandes clientes, além de produzir informativos eletrônicos, desenvolver projetos de comunidades virtuais, ministrar treinamentos para melhorar a fluência digital de usuários e prestar consultoria em tecnologia.
Cada membro da equipe trabalha em casa, gerenciado pelo software E-trabalho, desenvolvido pela própria empresa, que permite que todos se relacionem pela internet. Atualmente, conta com uma equipe de cinco pessoas, sendo duas alocadas dentro de um dos clientes, três em casa, entre eles o coordenador.
A empresa preferiu investir os recursos em software e jogar fora pela janela os custos fixos desnecessários", comenta Carlos Nepomuceno, diretor-executivo da Pontonet e jornalista que escreve artigos especializados na área. O bom exemplo rendeu à Pontonet uma doação de R$ 400 mil da Faperj (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) para finalizar módulos do software ICOX, gerenciador de projetos de inteligência coletiva em comunidades virtuais e disponibilizar a versão gratuita do software.
Porém, não são todas as pessoas que têm perfil para trabalhar à distância. É preciso ter iniciativa, disciplina e forte senso de responsabilidade, onde algumas profissões são mais adaptáveis, como por exemplo, quem trabalha com metas e prazos, e principalmente das áreas de informática, administração, jornalismo, publicidade, marketing, vendas, direito, engenharia e arquitetura.
O problema maior apontado por muitas pessoas que optaram por se tornarem teletrabalhadores é a solidão profissional. Em alguns casos é necessário um mínimo de interação pessoal para não causar um isolamento social, que pode ser resolvido com reuniões semanais na sede da empresa, por exemplo.
Para que o trabalho flua, as empresas usam e-mail para solicitar tarefas para seus funcionários. No caso de projetos com preço fechado, com o desenvolvimento de um software ou de um website, é preciso contratar a equipe por tarefa. Assim é importante vincular a remuneração ao trabalho realizado e estabelecer os pontos de controle e monitorar para saber se estão sendo cumpridos.
Portanto, trabalhar a partir de casa pode ser ótima solução para profissionais autônomos e funcionários de empresas, porque reforça o moral e a satisfação no emprego e reduz o estresse.
Em uma análise de 46 estudos sobre pessoas que trabalham em casa, os pesquisadores constataram que trabalhar longe dos escritórios por meio de computadores, celulares e outros equipamentos eletrônicos pode ser mais positivo do que negativo para as pessoas e as companhias que as empregam. Os resultados demonstram que trabalhar de casa tem um efeito geral benéfico, porque o sistema oferece ao trabalhador mais controle sobre a forma pela qual realiza seu trabalho ( Gajendran, Universidade Estadual da Pensilvânia). Trabalhar de casa parece ter alguns efeitos modestamente positivos sobre o moral do trabalhador, quanto ao equilíbrio entre trabalho e vida familiar e com relação ao estresse. Gajendran e David Harrison, que publicaram o resultado de seu estudo na Journal of Applied Psychology, pesquisaram dados sobre 12.833 pessoas que trabalham fora do escritório de suas empresas.
Trabalhar de casa vem sendo uma tendência em alta nos Estados Unidos desde cerca de 2000. No ano passado, havia cerca de 45 milhões de norte-americanos trabalhando em casa, ante 4 milhões em 2003, de acordo com a revista WORLDATWORK.
Gajendran acredita que o número continuará a crescer à medida que se expande o acesso a serviços de banda larga.
Ao longo dos dois últimos anos, houve uma alta, especialmente no número de pessoas que trabalham em casa regularmente. Por regularmente entende-se as pessoas que o fazem ao menos uma vez por mês. A alta desse indicador foi de quase
60 por cento.
Ainda que algumas empresas e funcionários temam que trabalhar de casa possa prejudicar perspectivas de carreira ou abalar as relações com colegas e chefes, os pesquisadores não encontraram provas que sustentassem essa interpretação.
Trabalhar a partir de casa em termos gerais não tem resultado relacional negativo, ao contrário da crença mais comum (Gajendran)
Na Europa, o número de teletrabalhadores praticamente dobrou nos últimos 3 anos, alcançando a marca de 21 milhões em 2005, que trabalham em casa ao menos um dia ao mês e no Japão, 10 milhões (Revista Vencer). Nos EUA há duas estatísticas: uma realizada pelos US Bureau of Census que considera como teletrabalhadores baseados em casa apenas as pessoas que trabalham pelo menos três dias por semana em suas residências, registrando 3,3% da população, com 4,2 milhões de pessoas. Segundo a Current Population Survey (CPS), no levantamento das pessoas que trabalham em casa pelo menos uma vez por semana, esse volume atingia 20 milhões em 2001.
Nos Estados Unidos, entre os anos de 1999 e 2002, ao redor de metade dos gerentes da empresa AT&T, trabalhava em suas casas uma vez por mês, um quarto trabalhava uma vez por semana e 10% em um escritório virtual “full-time”. Dentre os setores que nos Estados Unidos estão adotando este sistema, destacam-se as seguintes áreas: telecomunicações, informática, seguros, consultorias de empresas, auditorias, serviços públicos, propaganda, publicidade, universidades, gás natural, etc.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD 2003) registrou que 5% da população trabalhadora brasileira exerce sua atividade exclusivamente a domicílio, um total de quase quatro milhões. Uma pesquisa realizada no município de São Paulo foram identificados
como teletrabalhadores baseados em casa 15% da amostra (SILVA,
2003). Outra pesquisa (Tachizawa e Mello, 2003) revelou que o teletrabalho no Brasil, vem sendo adotado majoritariamente na área de vendas (57,5%). A literatura consultada aponta que muitas empresas eliminaram por completo o escritório para o pessoal de vendas. No entanto, deve-se considerar que 42,5% atuavam fora desta área, sendo 23% em consultoria e 19,5% em outras funções. Pode ser que a área de vendas pelas suas características tem sido a primeira a usufruir o teletrabalho, com possibilidades futuras de ser ampliado para outros processos da empresa. Neste sentido, alguns desafios se colocam na gestão do colaborador virtual. De acordo com os especialistas, este número pode crescer particularmente tendo as casa como sede da empresa, com também o uso do teletrabalho, no exercício das atividades profissionais. Embora dados sobre o crescimento de número de teletrabalhadores no Brasil não estejam disponíveis de forma sistematizada, o grande número de matérias jornalísticas sobre o assunto indica que possa estar surgindo uma demanda por uma nova tipologia residencial.
Outros estudos relacionados ao perfil do teletrabalhador têm sido publicados. Tais estudos mostram que essa modalidade tem sido praticada em diversos níveis de
renda, podendo ser baseado na informação, intelectuais, mas também sob a forma de trabalhos artesanais (LAVINAS, SORJ, LINHARES e JORGE, 1998). Longe de ser considerado como um modismo, o teletrabalho é uma realidade no Brasil onde, de acordo com a SOBRATT-Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades, organizações de diferentes setores econômicos, o praticam, de maneira formalizada ou não, destacando-se empresas sejam nacionais ou estrangeiras, tais como: Semco, Siemens; W/Brasil; AT & T; Dupont; Price Waterhouse Coopers; Kodak; Cisco System
; Anixter ; IBM ; Natura ; Shell ; SSA ; Movicarga ; Bayer; WEG , Ticket , Sun
Microsistems, Dell, Cargill, Nortel, e Google dentre outras.
Na década de 80, o trabalho a distância foi apontado como uma tendência irreversível nas empresas. Imaginava-se que, com a evolução da tecnologia, as companhias teriam fortes razões para permitir que seus funcionários trabalhassem em casa: eles não padeceriam no trânsito e não perderiam tempo jogando conversa fora ao lado do bebedouro. Assim, produziriam mais e melhor. Menos gente nos escritórios também significaria redução nos custos fixos em aluguéis e equipamentos. Nos anos seguintes, porém, o cenário inexorável do teletrabalho não só deixou de se concretizar com o impulso esperado como começou a ser visto como algo temerário para o equilíbrio familiar dos profissionais, e para o desempenho das próprias companhias, que teriam sua coesão cultural ameaçada. Quase duas décadas depois, aos poucos a idéia volta a fazer sucesso no mundo corporativo. Durante muito tempo, o teletrabalho esbarrou no modo descuidado com que as empresas procuravam implementá-lo. Agora as companhias estão descobrindo que ele pode ser uma boa solução, desde que adotado com cautela.
A Ticket, braço de serviços do grupo Accor, é uma das empresas que apostaram recentemente no teletrabalho. O alvo foi a área comercial, pois a empresa precisava aumentar a presença no país e, ao mesmo tempo, reduzir ao máximo os investimentos em estrutura física. Como conseqüência da adoção deste novo modelo de trabalho foram fechadas as filiais de 17 cidades e, do total de 96 vendedores e gerentes de vendas em todo o país, 42 passaram a usar a infra-estrutura tecnológica montada pela empresa em suas casas. Embora gastassem a maior parte do dia na rua visitando clientes, esses profissionais perdiam tempo indo e vindo ao escritório para realizar tarefas burocráticas, como por exemplo, encaminhar relatórios e pedidos. A elaboração e a implantação do projeto custaram à Ticket 400 000 reais.Contudo, a economia com a redução dos custos operacionais chegou a 2 milhões de reais. Mas o principal benefício foi o aumento da produtividade -- desde o início do projeto, as vendas da equipe remota aumentaram 76%, e o volume de contratos fechados, 40%.
Para chegar a esses resultados, a Ticket precisou treinar os funcionários para a mudança, ao orientar os chefes para conversar com as equipes e monitorar aqueles que podiam ser resistentes ao processo. Houve também uma preocupação de que os profissionais tivessem tempo para se acostumar com a nova rotina. Por outro lado, os executivos envolvidos neste projeto também se cercaram de cuidados para evitar que funcionários fossem vítimas de alguns perigos que rondam o teletrabalho, pois segundo os especialistas, esta modalidade de trabalho se mal implantada, pode alienar os profissionais. Neste sentido, o isolamento social é algo com que as empresas têm mesmo de se preocupar. A receita para minimizar este risco é incentivar as equipes a criar rituais para continuarem se encontrando presencialmente,ou seja , que os funcionários possam ter dia e hora certos para discutir problemas, trocar idéias e fofocar, como por exemplo, criando uma rotina de almoço com seus pares às sextas-feiras. Vale salientar que, o contato com os colegas é essencial, muito embora se reconheça que normalmente no escritório ele acaba sendo uma boa fonte de dispersão.
Contudo, os vendedores da Ticket não são os únicos seduzidos pelas vantagens do trabalho a distância. No Serpro, órgão responsável pelo processamento de dados do governo federal, 23 funcionários de Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo participaram de um projeto piloto de teletrabalho, considerado pioneiro na administração pública federal. Assim como a Ticket, o Serpro precisou acrescentar um termo aos contratos de trabalho explicitando as mudanças, uma forma de evitar processos na Justiça do Trabalho. Também para se prevenir de problemas trabalhistas, a intranet do órgão é bloqueada se o funcionário exceder as 40 horas semanais permitidas na frente do computador. Iniciativas como as da Ticket e do Serpro ainda parecem acanhadas quando comparadas às de empresas européias e americanas. Na Sun Microsystems, nos Estados Unidos, quase 50% dos funcionários trabalham em casa. Na Agilent, outra empresa de tecnologia, 70%. Os 42 funcionários da Ticket que trabalham em casa representam menos de 5% dos empregados da empresa,porém, essas comparações devem ser feitas com ressalvas, pois o Brasil ainda está neste sistema distante desses países,porém, já no caminho correto.



fonte: Beca-Ework

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