Conheça os cinco vilões do crescimento
do Brasil
BBC Brasil
"Dilma Rousseff | Crédito da foto: Agência
Brasil"
Embora já tenha conquistado o posto de sexta maior economia do
mundo em 2011, o Brasil ainda se vê às voltas com dificuldades estruturais,
burocráticas e econômicas que destoam do papel assumido pelo país na cena
internacional nos últimos anos.
Tal conjunto de entraves, o chamado 'Custo Brasil', impede um
crescimento mais robusto da economia, minando a eficiência da indústria nacional
e a competitividade dos produtos brasileiros.
Segundo especialistas, o recente cenário da queda dos juros
deixou tais entraves ainda mais evidentes.
'Por muito tempo, as empresas aproveitaram-se dos juros altos
para ganhar dinheiro, aplicando seus lucros no mercado financeiro com vistas a
maiores retornos. Porém esse cenário está mudando', afirmou à BBC Brasil André
Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.
Na prática, com aplicações agora menos rentáveis, as empresas
começam a deslocar as aplicações do setor financeiro para o setor produtivo,
investindo na expansão dos próprios negócios.
Nessa transição, o 'Custo Brasil' acaba ficando mais
transparente, apontam os analistas.
Na semana passada, o governo anunciou um pacote de R$ 133
bilhões em concessões ao setor privado de rodovias e ferrovias brasileiras pelos
próximos 25 anos, na tentativa de contornar graves gargalos da infraestrutura do
país.
A decisão foi comemorada, porém ainda há um longo caminho a
percorrer. Confira os cinco principais vilões do crescimento da economia
brasileira, que, segundo as últimas previsões, não deve crescer acima de 1,75%
neste ano.
1) Infraestrutura precária
Segundo um estudo do Departamento de Competitividade de
Tecnologia (Decomtec), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
(Fiesp), as empresas têm uma despesa anual extra de R$ 17 bilhões devido à
precariedade da infraestrutura do país, incluindo péssimas condições das
rodovias e sucateamento dos portos.
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"Rodovia | Crédito da foto: Agência
Brasil"
Como resultado, os custos logísticos acabam encarecendo o
produto final. De acordo com um levantamento do instituto ILOS, cerca de 30% do
preço da tonelada soja produzida em Mato Grosso e exportada do porto de Santos,
por exemplo, referem-se apenas aos gastos com transporte do grão.
'O Brasil também fez uma opção pelo transporte rodoviário,
mais caro do que outros meios, como ferrovias ou hidrovias', afirmou Márcio
Salvato, coordenador do curso de Economia do Ibmec.
Além da infraestrutura, o país também sofre com as altas
tarifas de energia elétrica, apesar de cerca de 70% de sua matriz energética ser
proveniente de hidrelétricas, consideradas mais limpas e baratas.
Uma pesquisa da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro
(Fierj), publicada no ano passado, mostrou que o custo médio de energia no
Brasil é 50% superior à média global e mais do que o dobro de outras economias
emergentes.
2) Déficit de mão de obra especializada
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"Indústria | Crédito da foto: Agência
Brasil"
Em alguns setores da indústria, o Brasil já vive 'um apagão de
mão de obra', com falta de profissionais qualificados capazes de executar
tarefas essenciais ao crescimento do país.
Segundo o mais recente levantamento feito pela consultoria
Manpower com 41 países ao redor do mundo, o Brasil ocupa a 2ª posição entre as
nações com maior dificuldade em encontrar profissionais qualificados, atrás
apenas do Japão.
Entre os empresários brasileiros entrevistados para a
pesquisa, 71% afirmaram não ter conseguido achar no mercado pessoas adequadas
para o trabalho.
Para efeitos de comparação, na Argentina o índice é de 45%, no
México, de 43% e na China, de apenas 23%.
'Se no Japão o maior entrave é o envelhecimento da população,
o problema no Brasil é a falta de qualificação profissional', afirmou à BBC
Brasil Márcia Almström, diretora da Recursos Humanos da filial brasileira da
Manpower.
De acordo com uma pesquisa divulgada neste ano pelo Ipea, o
governo direcionou apenas 5% do PIB em 2010 para a educação, contra 7% do padrão
internacional.
'Sofremos com a falta de profissionais de nível técnico, de
operações manuais e de engenheiros', acrescentou Almström.
Atualmente, segundo a consultoria McKinsey, apenas 7% dos
trabalhadores brasileiros têm diploma universitário, atrás da África do Sul (9%)
e da Rússia (23%).
3) Sistema tributário complexo
Segundo o relatório 'Doing Business' do Banco Mundial, são
necessárias 2.600 horas por ano para empresas de médio-porte brasileiras somente
para pagar impostos, contra 415 na Argentina, 398 na China e 254 na Índia.
'Já passou da hora para que o Brasil simplifique seu sistema
tributário', disse André Perfeito, economista-chefe da Gradual
Investimentos.
BBC Brasil
"Imposto | Crédito da foto: Agência
Brasil"
Um dos exemplos da alta complexidade tributária no Brasil pode
ser verificado no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Como está presente em todos as etapas da cadeia produtiva, seu
recolhimento ocorre diversas vezes e leva à cobrança de imposto sobre imposto,
também conhecido de 'imposto em cascata'.
'São 27 legislações, uma para cada estado, além de alíquotas
diferentes para cada produto. Isso sem falar na alíquota interestadual', afirmou
Felipe Salto, economista da Tendências Consultoria e professor da FGV-SP. 'Isso
dificulta a vida do empresariado brasileiro', acrescentou.
O resultado são produtos menos competitivos, que chegam mais
caros às gôndolas e sofrem maior concorrência dos estrangeiros.
4) Baixa capacidade de investimentos público e privado
Historicamente, a taxa de investimentos tanto pública quanto
privada é baixa no Brasil, em torno de 18% do PIB.
Especialistas consideram que seria necessário elevar esse
patamar para, pelo menos, 25% do PIB, de forma a permitir um crescimento
sustentável da economia.
Isso porque, sem investimentos, para a compra de novos
maquinários ou para a construção de novas rotas de escoamento, por exemplo, há
uma menor eficiência produtiva, o que encarece e diminui a competitividade dos
produtos brasileiros.
'É preciso que o governo faça os ajustes necessários para
aumentar a confiança do empresariado e, assim, incentivar o investimento',
acrescentou Salto.
5) Burocracia excessiva
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"Cristina Kirchner | Crédito da foto:
AFP"
Segundo o Banco Mundial, entre 183 países o Brasil ocupa o
126º lugar quando se analisa a facilidade de se fazer negócios, abaixo da média
da América Latina (95º) e atrás de países como Argentina (115º), México (53º),
Chile (39º) e Japão (22º).
Até obter retorno sobre seus investimentos, cabe aos
empresários brasileiros vencer uma via-crúcis, que, inclui, entre outras etapas,
13 procedimentos apenas para abrir um negócio, ou 119 dias.
Na Argentina, são necessários 26 dias, no Chile, 7 e na China,
14.
Entre tais procedimentos estão, por exemplo, a homologação da
empresa em diferentes órgãos de supervisão, o registro dos funcionários e
licenças ambientais.
'Ao fim e ao cabo, o custo das empresas é extremamente alto,
antes mesmo que elas produzam qualquer centavo', afirmou Salvato.
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Atualizado: 22/08/2012 04:40
FONTE: NOTÍCIAS - MSN
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