terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Como gerar mais investimento produtivo?

Estava lendo um material interessante do economista David Mericle, da Goldman Sachs nos EUA, sobre quais fatores influenciam o crescimento do investimento de capital produtivo de um país.
Já abordei o tema investimento inúmeras vezes, como pode ser visto no link abaixo:

http://colunistas.ig.com.br/ricardogallo/2012/12/07/sem-investimento-nao-ha-crescimento/

Bem, o Sr. Mericle não acredita em “miracles” sobre o tema…

Ele aponta que há basicamente 3 modelos econômicos que determinam as causas ou os motivadores principais do investimento privado na economia:

a. O modelo do acelerador de Keynes, que diz que o investimento reage ao crescimento econômico. Ou seja, de acordo com este modelo os empresários reagem ao aumento da produção corrente em decorrência de um aumento da demanda por seus produtos. Com o aumento do produto corrente, os empresários são levados a aumentar o estoque de capital para atender ao novo nível de produção;

b. O Modelo de Tobin’s Q, que diz que quanto maior o valor de mercado dos ativos de uma empresa ( que pode ser aproximado como sendo o valor de mercado das Ações de uma empresa mais o valor de suas obrigações) em relação a seus custo de reposição ( custo de adquirir os mesmos ativos no mercado de bens ), maior a tendência do empresário em investir em bens de capital. A ideia é simples: como o valor de mercado de um ativo é determinado pela expectativa de lucros futuros, faz sentido para um empresário investir para expandir a capacidade quando o custo de fazê-lo é menor do que os ganhos que são esperados. Ou seja, a expectativa de lucros futuros seria o principal fator determinante para se fazer novos investimentos. No mundo real: se você pretende montar uma loja gastando X e seu amigo te oferece uma loja idêntica por metade do custo que você teria para montar uma loja do zero, você simplesmente abandona a ideia de investir em novos móveis, equipamentos, ponto e de contratar mais gente, e simplesmente compra a loja de seu amigo. Ou seja, quando é mais barato comprar um ativo existente de alguém do que montar algo do zero, o investimento na economia cai. Logo, para aumentar o valor dos ativos existentes e estimular assim mais investimentos, é preciso que os empresários vejam lucros crescentes.

c. Há também um outro modelo defendido pelo Bernanke que diz que o volume de investimentos depende fundamentalmente da capacidade das empresas tomarem recursos emprestados no mercado. Ou seja, quanto mais fácil for tomar recursos para financiar projetos mais investimentos são feitos.

O economista do GS mostra que o modelo (a) e o modelo (c) combinados explicariam melhor o comportamento dos investimentos nos EUA, porém o modelo (b) também funciona, mas com menor precisão.

O ponto é que, sejam quais forem as medidas tomadas pelo governo para estimular o investimento produtivo em nossa economia, elas precisam endereçar os 3 pontos acima, senão elas serão inócuas, pelo menos na opinião dos economistas que estudam o assunto.
No Brasil eu não saberia dizer qual dos 3 funcionaria melhor (deixo isto para os econometristas de plantão), porém vale a pena comentar cada um destes modelos a luz da realidade brasileira deste momento:

a. Bom, se dependermos da atividade corrente para puxar os investimentos futuros, podemos começar a rezar. A economia vem desacelerando e está patinando na retomada. Logo, deste mato parece que não sai coelho. Nossa esperança é de que nos próximos 6 meses os efeitos dos diversos estímulos dados a economia se manifestem. Porém, se em 6 meses a coisa não pegar, DIO MIO! ( meu pitaco: economia melhora no começo do ano que vem…porém não sei se tal melhora dura muito),

b. Com relação ao Tobin Q, podemos estimar a valorização dos ativos através da cotação do IBOVESPA, que está parada desde 2008 ao redor dos 60 mil pontos, sendo que a inflação do período foi de 30%… ou seja, em termos reais, a relação entre o valor de mercado dos ativos e seu custo caiu em termos reais 24% pelo menos. Parece que deste mato não sai coelho tampouco.

c. Com relação a disponibilidade de financiamento, temos alguns sinais positivos:
  • Os bancos públicos aumentaram a oferta de crédito visando forçar uma redução dos spreads cobrados por seus competidores;
  • O BNDES tem expandindo suas linhas e reduzido seu custo;
  • O governo tem reduzido às restrições à entrada de capital estrangeiro, que, com o dólar mais alto, ficou mais atraente para os tomadores brasileiros. Finalmente o governo percebeu o efeito negativo do controle na entrada de capitais estrangeiros sobre o investimento doméstico. Ou seja, para termos um dólar mais caro precisaríamos impedir a entrada de dólares reduzindo a oferta de crédito que vem de fora, o que sufocaria investimentos;
  • Os bancos privados reduziram seus spreads, embora também tenham apertado os critérios de concessão de crédito e reduzido a oferta de novos empréstimos, pois a inadimplência ainda está elevada.
Logo, podemos dizer que há hoje um ambiente de financiamento favorável em virtude da ação dos bancos públicos.

Eu suspeito que estamos experimentando uma crise de crescimento pela exaustão da disponibilidade que tínhamos nos fatores de Produção, Capital e Trabalho, exaustão esta que não está sendo compensada pela ampliação da produtividade. Simples: falta capital humano e físico em alguns setores críticos para expandir a produção, como na infra. Além disto, a produtividade, na margem, cresce pouco. Ou seja, assumindo que tenhamos de fato uma limitação para o aumento do capital humano empregado na produção, dependemos de investimentos e produtividade para aumentar a renda (salário + lucros). Agora, assumindo que o investimento só sobe depois do aumento da produção ( Keynes…) , dependemos, num primeiro momento, de um aumento da produtividade para aumentar a produção, o que geraria mais produto e renda, que por sua vez levaria a mais investimento. Porém tal produtividade não está aparecendo.

A aposta do governo e de alguns economistas é que os estímulos à produção e ao consumo dados pelo governo aumentarão a demanda nos próximos trimestres. E como geramos nos últimos meses uma certa capacidade ociosa em alguns setores da economia, além da forte redução dos estoques que os últimos números do PIB mostraram, isto tudo deve dar um certo espaço para acomodar um reaquecimento temporário da economia sem elevar a inflação no curto prazo. Se isto será suficiente para atrair novos investimentos e colocar a roda para girar, eu não sei. O próprio Tombini tem demonstrado preocupação.

Se a demanda se acelerar como o governo deseja, mas não for acompanhada de uma aceleração do investimento, teremos uma inflação mais elevada no final de 2013. Este é outro ponto que preocupa, pois estamos com o PIB andando a 2% a.a. há 2 anos mas temos o desemprego na mínima histórica e a inflação bem acima do centro da meta. Pensa assim: pretendíamos ir daqui a Campinas em uma hora, a 100 km / h e usando 10 litros de gasolina, ou seja, a 10km / litro de consumo. Bem, depois de meia hora, andamos 25 km a 50 km /h, e só temos 5 litros no tanque de combustível…. Ou seja, para atingirmos nossa meta devemos andar a 150 km/h pelos próximos 75 km com um consumo de 15 km / litro. Acho que devemos trocar nosso Opalão veio por um carro elétrico ou vamos levar várias multas da Polícia Rodoviária do Banco Central.

por Ricardo Gallo

fonte: IG COLUNISTAS

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