Proposta para 'limpar nome' na internet deve caber no bolso
Sites recém-lançados permitem ao consumidor fazer proposta para quitar dívida ou avaliar descontos oferecidos pelo credor. Especialistas recomendam cautela
Um trabalhador de classe média financia seu carro em 48 meses com um banco. Paga as três primeiras parcelas, mas percebe que a dívida não cabe no seu orçamento. Então deixa de pagar. Este devedor fictício receberia, em breve, uma ligação de uma financeira ou uma carta do banco com a cobrança do empréstimo. Mas um site lançado em novembro de 2012, o Quitei.com, está propondo o caminho inverso: o devedor é quem procura a empresa para renegociar a dívida pela internet.
Pelo menos 10 mil pessoas já enviaram propostas pelo site. Destas, 84% renegociaram suas dívidas com os credores, segundo o fundador e CEO do Quitei, Charles Duek. Ele explica que o site apenas promove o encontro entre as partes e não interfere na negociação. O devedor deve se cadastrar, gratuitamente, informando a proposta, além de nome, CPF, endereço, telefone, email e dados da empresa credora.Com plano de faturar R$ 10 milhões em 2013, o site quer mudar a postura do devedor. “Nosso objetivo é fazer com que ele saia da zona passiva e tome e iniciativa na negociação, sugerindo juros menores, dentro de seu orçamento”, explica o executivo, que acredita que quem demonstra intenção de pagar já facilita a negociação.
Proprietário de uma empresa de cobrança de dívidas há 25 anos, Duek afirma que, tradicionalmente, sempre foi o credor quem procurava o cliente inadimplente, esforço que aumenta os gastos da empresa com a cobrança. “O maior custo do spread bancário é com inadimplência. Isto poderia ser reduzido se houvesse educação financeira ao renegociar a dívida”.
LIMPA NOME
A Serasa Experian também lançou, há três meses, o serviço “Limpa Nome Online”. Neste caso, é a empresa credora que envia a proposta de desconto da dívida, por meio da Serasa, ao devedor. Segundo o superintendente de informações sobre consumidores da companhia, Vander Nagata, 20 grandes empresas já aderiram ao serviço.
A pedido do credor, a Serasa comunica o inadimplente que há uma oferta ou desconto para pagar sua dívida. Oferece um login e senha no portal, onde ele pode negociar direto com a empresa, via internet. A proposta de desconto, com condições pré-estabelecidas, pode ser feita em massa, contemplando um grupo de devedores. “Se o consumidor aceitar a proposta, basta imprimir um boleto com a cobrança pelo site da Serasa e fazer o pagamento em um banco. Em seguida, o credor identifica a quitação da dívida em até cinco dias úteis”, explica Nagata.
CUIDADOS
A economista do Idec, Ione Amorim, recomenda que o consumidor pesquise em órgãos de defesa do consumidor a idoneidade do site que oferece estes serviços e observe quem já os utilizou. “É importante avaliar as condições da proposta: se o devedor tem reserva para pagar, se o desconto é satisfatório e se o valor do parcelamento cabe no orçamento”.
Embora o serviço seja gratuito, a especialista lembra que a empresa que negocia de forma coletiva, como bancos ou administradoras de cartões, ganha sobre o volume de dívidas quitadas, diminuindo sua carteira de devedores. “É sempre vantajoso para o credor fazer este tipo de proposta”, diz.Ione orienta que o consumidor desconfie de ofertas muito generosas e de “promoções” com grandes descontos. “Usar a palavra ‘promoção’, neste caso, é tratar a dívida como um produto, e dívida não é isso”, finaliza.
Para Denise Santos, advogada especializada em direito do consumidor, a intermediação entre devedores e credores é quase sempre desnecessária. “É mais seguro que o devedor procure o setor de cobrança da empresa diretamente com sua proposta”.
Segundo a advogada, os descontos de até 80% da dívida oferecidos pelos serviços intermediários são vantajosos para a empresa, mas nem sempre para o consumidor. “Se o valor inicial da dívida era de R$ 1mil, e foi corrigido por juros em quatro anos para R$ 15 mil, mesmo com um desconto de 80%, a empresa receberá o valor principal da dívida, mais atualização. Ou seja, não está perdendo dinheiro”, exemplifica.
JUROS
Um levantamento da Proteste, feito no ano passado, mostrou que quando o consumidor assume um financiamento, acaba pagando quase 200% a mais que o valor original do bem adquirido, devido à alta taxa de juros. No crédito com cartões ou cheque especial, por exemplo, a empresa já embute nos juros o risco da operação, ou seja, a possibilidade de inadimplência, lembra Denise.
A coordenadora institucional da Proteste, Maria Inês Dolci, concorda que mesmo que o credor ofereça um bom desconto, o consumidor deve avaliar se terá condição para assumir este novo pagamento. Segundo a Proteste, 46,5% das famílias brasileiras contraíram um novo empréstimo depois de não terem conseguido pagar dívidas anteriores.
Antes de optar por uma nova dívida ou aceitar a proposta, o devedor deve saber o quanto pode pagar, aconselha Maria Inês. “É preciso prestar atenção à negociação e às cláusulas do contrato, sabendo o que elas impõem”.
A especialista recomenda, ainda, sempre procurar o credor diretamente e fazer uma proposta cara a cara. “É melhor se adiantar, em vez de esperar ser procurado. Negociar frente a frente é sempre melhor, porque você mostra boa fé”, acredita.
FONTE: IG ECONOMIA
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