Com um metro e sessenta e oito de altura, João Santana mantém seu poder persuasivo na fala e no olhar vigilante
João Santana
Influência
Baiano da cidade de Tucano, jornalista por vocação e
compositor engajado nos anos 70 e 80, João Santana se tornou uma espécie de
Midas da política nacional e internacional
Pouco mais de quatro décadas atrás surgiu uma nova
espécie de personagem no universo político brasileiro: o marqueteiro, misto de
estrategista, analista político e pitonisa. Publicitários sempre estiveram
próximos ao poder, mas desde os anos 80, eles se tornaram estrelas de primeira
grandeza. Hoje o nome mais destacado é o de João Cerqueira de Santana Filho,
consultor político de Dilma Rousseff, muitas vezes apontado, com uma boa dose de
maledicência, como o mais importante ministro da presidente.
A
presença dos marqueteiros não é nova. Nos anos 70, analistas vindos dos Estados
Unidos organizavam campanhas eleitorais na América Latina, caso do pioneiro
David Sawyer, que atuou nas eleições presidenciais da Venezuela e de importantes
deputados, senadores e governadores norte-americanos, além de estender sua
influência do Oriente Médio às Filipinas.
Leia também:
João
Santana domina "teatro da política" internacional
Entenda
o ranking Os 60 mais poderosos do País
Confira o ranking
dos 60 mais poderosos do País
No Brasil, Fernando Henrique Cardoso
fez uso das prestidigitações do também americano James Carville, um bem-
sucedido marqueteiro responsável pela primeira campanha de Bill Clinton à Casa
Branca, além de pencas de congressistas e outros líderes no exterior, como Tony
Blair, no Reino Unido, e Gonzalo de Lozada, na Bolívia.
João Santana, de
60 anos, pode ser considerado de uma nova geração de consultores políticos
brasileiros. E passou a exportar seu know-how para outros países. Dirigiu as
campanhas de Lula e Dilma no Brasil, de Hugo Chávez na Venezuela, de Mauricio
Funes em El Salvador, de Danilo Medina na República Dominicana e de José Eduardo
dos Santos em Angola. Acredita-se que esta última investida servirá como cabeça
de praia para uma invasão marqueteira na África, onde partidos sequiosos de
assumir – ou se manter – o poder necessitem de um "tapa" no visual.
No
Brasil, também esteve à frente das campanhas de Marta Suplicy, em 2008, e
Fernando Haddad, em 2012, para a Prefeitura de São Paulo. Entre seus maiores
orgulhos estão as vitoriosas campanhas de José Manuel de la Sota para o governo
de Córdoba, em 1998, na Argentina, e a do senador Delcídio Amaral, em 2002, no
Mato Grosso do Sul, quando o candidato começou com 2% dos votos e ganhou.
"Sou um anfíbio. Sou baiano, mas vim do meio jornalístico e
artístico e desemboquei na publicidade"
A despeito da desenvoltura
que exibe ao realizar grandes mudanças na imagem de políticos, o marqueteiro
mais valorizado do Brasil não veio da publicidade. Ao contrário de outros
consultores, como Nizan Guanaes e Duda Mendonça, João Santana se notabilizou
como jornalista. O próprio marqueteiro lembra que, depois de mais de duas
décadas de ditadura, o Brasil teve de reaprender a fazer campanhas políticas e
destaca nessa nova fase da democracia os baianos Duda Mendonça e Geraldo Walter
e os paulistas Chico Santa Rita e Luiz Gonzalez. "Sou um anfíbio nesse meio. Sou
baiano, mas vim do meio jornalístico e artístico e desemboquei na publicidade.
Modestamente, tento buscar o que há de melhor em cada corrente", define-se.
O gosto pelas palavras é antigo. O garoto de Tucano, cidadezinha na
região nordeste da Bahia onde nasceu no dia 5 de janeiro de 1953, sempre
demonstrou interesse por arte e cultura. Estudou com os irmãos Maristas, em
Salvador, e depois jornalismo na Universidade Federal da Bahia. Nessa época se
interessava também por poesia e se tornou letrista da banda de rock Bendegó,
liderada pelo cantor e compositor Gereba. Lançou seis LPs entre 1973 e 1989,
além de participar da faixa "Canto do povo de um lugar", do disco "Joia", de
Caetano Veloso, e também do LP "Norte Forte", de 1977, com a participação de
Belchior, Ednardo, Fagner, Banda de Pífanos de Caruaru, Tom Zé e Orquestra
Armorial, entre outros grupos e artistas. Uma de suas músicas de maior sucesso
foi "Sinal de amor e de perigo", celebrizada pela voz de Diana Pequeno.
Na época, Salvador mantinha uma atividade musical bastante intensa cujos
artistas mais conhecidos vinham do Tropicalismo: Caetano Veloso, Tom Zé e
Gilberto Gil. O cenário, entretanto, era bem mais amplo e possuía uma
consistente programação de música de concerto e contemporânea, com músicos de
vanguarda como o alemão Hans-Joachim Koellreutter e o suíço Anton Walter Smetak,
já presentes na década de 50 na capital baiana. Este último é uma das
influências mais marcantes na vida de João Santana que, na época, utilizava o
pseudônimo de Patinhas para assinar suas composições. Segundo ele, nada a ver
com a sovinice do pato das histórias em quadrinhos, criado em 1947 pelo
cartunista Carl Barks. "Este apelido, que vem da minha adolescência, já estava
caindo em desuso. É porque fui tesoureiro do grêmio quando estudava nos
Maristas, em Salvador. Depois passei a usá-lo, como pseudônimo, para assinar
minhas músicas."
"O que fazem marketing e propaganda política? Exercício de
persuasão, usando instrumentos legítimos"
O período musical acabou
substituído pela vida nas redações. Trabalhou no Jornal da Bahia e foi chefe da
sucursal de O Globo. Ainda atuou como repórter na revista Veja e, em Brasília,
no Jornal do Brasil e na Isto É. Nesta, conseguiu seu maior feito como
jornalista ao entrevistar o motorista Eriberto França, o que ajudou a derrubar o
então presidente Fernando Collor de Mello, em 1992. A entrevista lhe deu o
Prêmio Esso daquele ano.
Como consultor político chegou a trabalhar – e
firmar sociedade – com o hoje distante Duda Mendonça. Desde a entrevista de
Eriberto, Santana esteve próximo a políticos do PT, relação que se estabeleceu
definitivamente em 2005, quando comandou a reeleição de Lula. Dilma o recebeu
como herança do governo anterior e, de encontros ásperos no começo do mandato, a
relação evoluiu para uma forte confiança mútua, a ponto de políticos adversários
se queixarem da influência do marqueteiro sobre a presidente. Caso típico foram
as conversas em junho passado, quando Dilma aconselhou-se com ele antes de fazer
seu discurso televisivo sobre as manifestações que varreram o Brasil.
Com um metro e sessenta e oito centímetros de altura e uma barriga cada
vez mais dilatada, este sexagenário mantém seu poder persuasivo na fala e no
olhar vigilante. É capaz de discutir horas a fio a respeito da psicologia de
massas de Tchakhotine e dos escritos de Napoleão Bonaparte. Sua postura é
bastante contrária à bullet theory, teoria de comunicação que pensa de forma
passiva no consumidor/espectador e da mesma linhagem das ideias racistas do
psicólogo francês Gustave Le Bon e de todos que pensam nos eleitores como massa.
Para João Santana, o marketing adapta a política ao gosto do eleitor e o maior
problema na aceitação do trabalho do marqueteiro está exatamente entre
compreender a diferença entre persuasão e manipulação.
"Há um limite
entre essas duas ações e muita confusão desde a Grécia antiga. Os detratores da
publicidade política-eleitoral acham que nós apenas manipulamos e que a massa é
imbecil. Hoje, o meu corpo, o meu afeto e minha relação afetiva e sexual passam
pelo mundo da mídia. Por que a política não passaria por aí? E o que fazem o
marketing e a propaganda política? Um exercício de persuasão, usando
instrumentos legítimos. E a democracia é isso: o choque de elementos de
persuasão." Nas eleições de 2014, João Santana deve utilizar suas capacidades de
convencimento como nunca.
FONTE: IG POLITICA
A presença dos marqueteiros não é nova. Nos anos 70, analistas vindos dos Estados Unidos organizavam campanhas eleitorais na América Latina, caso do pioneiro David Sawyer, que atuou nas eleições presidenciais da Venezuela e de importantes deputados, senadores e governadores norte-americanos, além de estender sua influência do Oriente Médio às Filipinas.
Leia também:
João Santana domina "teatro da política" internacional
Entenda o ranking Os 60 mais poderosos do País
Confira o ranking dos 60 mais poderosos do País
No Brasil, Fernando Henrique Cardoso fez uso das prestidigitações do também americano James Carville, um bem- sucedido marqueteiro responsável pela primeira campanha de Bill Clinton à Casa Branca, além de pencas de congressistas e outros líderes no exterior, como Tony Blair, no Reino Unido, e Gonzalo de Lozada, na Bolívia.
João Santana, de 60 anos, pode ser considerado de uma nova geração de consultores políticos brasileiros. E passou a exportar seu know-how para outros países. Dirigiu as campanhas de Lula e Dilma no Brasil, de Hugo Chávez na Venezuela, de Mauricio Funes em El Salvador, de Danilo Medina na República Dominicana e de José Eduardo dos Santos em Angola. Acredita-se que esta última investida servirá como cabeça de praia para uma invasão marqueteira na África, onde partidos sequiosos de assumir – ou se manter – o poder necessitem de um "tapa" no visual.
No Brasil, também esteve à frente das campanhas de Marta Suplicy, em 2008, e Fernando Haddad, em 2012, para a Prefeitura de São Paulo. Entre seus maiores orgulhos estão as vitoriosas campanhas de José Manuel de la Sota para o governo de Córdoba, em 1998, na Argentina, e a do senador Delcídio Amaral, em 2002, no Mato Grosso do Sul, quando o candidato começou com 2% dos votos e ganhou.
"Sou um anfíbio. Sou baiano, mas vim do meio jornalístico e
artístico e desemboquei na publicidade"
A despeito da desenvoltura que exibe ao realizar grandes mudanças na imagem de políticos, o marqueteiro mais valorizado do Brasil não veio da publicidade. Ao contrário de outros consultores, como Nizan Guanaes e Duda Mendonça, João Santana se notabilizou como jornalista. O próprio marqueteiro lembra que, depois de mais de duas décadas de ditadura, o Brasil teve de reaprender a fazer campanhas políticas e destaca nessa nova fase da democracia os baianos Duda Mendonça e Geraldo Walter e os paulistas Chico Santa Rita e Luiz Gonzalez. "Sou um anfíbio nesse meio. Sou baiano, mas vim do meio jornalístico e artístico e desemboquei na publicidade. Modestamente, tento buscar o que há de melhor em cada corrente", define-se.
O gosto pelas palavras é antigo. O garoto de Tucano, cidadezinha na região nordeste da Bahia onde nasceu no dia 5 de janeiro de 1953, sempre demonstrou interesse por arte e cultura. Estudou com os irmãos Maristas, em Salvador, e depois jornalismo na Universidade Federal da Bahia. Nessa época se interessava também por poesia e se tornou letrista da banda de rock Bendegó, liderada pelo cantor e compositor Gereba. Lançou seis LPs entre 1973 e 1989, além de participar da faixa "Canto do povo de um lugar", do disco "Joia", de Caetano Veloso, e também do LP "Norte Forte", de 1977, com a participação de Belchior, Ednardo, Fagner, Banda de Pífanos de Caruaru, Tom Zé e Orquestra Armorial, entre outros grupos e artistas. Uma de suas músicas de maior sucesso foi "Sinal de amor e de perigo", celebrizada pela voz de Diana Pequeno.
Na época, Salvador mantinha uma atividade musical bastante intensa cujos artistas mais conhecidos vinham do Tropicalismo: Caetano Veloso, Tom Zé e Gilberto Gil. O cenário, entretanto, era bem mais amplo e possuía uma consistente programação de música de concerto e contemporânea, com músicos de vanguarda como o alemão Hans-Joachim Koellreutter e o suíço Anton Walter Smetak, já presentes na década de 50 na capital baiana. Este último é uma das influências mais marcantes na vida de João Santana que, na época, utilizava o pseudônimo de Patinhas para assinar suas composições. Segundo ele, nada a ver com a sovinice do pato das histórias em quadrinhos, criado em 1947 pelo cartunista Carl Barks. "Este apelido, que vem da minha adolescência, já estava caindo em desuso. É porque fui tesoureiro do grêmio quando estudava nos Maristas, em Salvador. Depois passei a usá-lo, como pseudônimo, para assinar minhas músicas."
"O que fazem marketing e propaganda política? Exercício de
persuasão, usando instrumentos legítimos"
O período musical acabou substituído pela vida nas redações. Trabalhou no Jornal da Bahia e foi chefe da sucursal de O Globo. Ainda atuou como repórter na revista Veja e, em Brasília, no Jornal do Brasil e na Isto É. Nesta, conseguiu seu maior feito como jornalista ao entrevistar o motorista Eriberto França, o que ajudou a derrubar o então presidente Fernando Collor de Mello, em 1992. A entrevista lhe deu o Prêmio Esso daquele ano.
Como consultor político chegou a trabalhar – e firmar sociedade – com o hoje distante Duda Mendonça. Desde a entrevista de Eriberto, Santana esteve próximo a políticos do PT, relação que se estabeleceu definitivamente em 2005, quando comandou a reeleição de Lula. Dilma o recebeu como herança do governo anterior e, de encontros ásperos no começo do mandato, a relação evoluiu para uma forte confiança mútua, a ponto de políticos adversários se queixarem da influência do marqueteiro sobre a presidente. Caso típico foram as conversas em junho passado, quando Dilma aconselhou-se com ele antes de fazer seu discurso televisivo sobre as manifestações que varreram o Brasil.
Com um metro e sessenta e oito centímetros de altura e uma barriga cada vez mais dilatada, este sexagenário mantém seu poder persuasivo na fala e no olhar vigilante. É capaz de discutir horas a fio a respeito da psicologia de massas de Tchakhotine e dos escritos de Napoleão Bonaparte. Sua postura é bastante contrária à bullet theory, teoria de comunicação que pensa de forma passiva no consumidor/espectador e da mesma linhagem das ideias racistas do psicólogo francês Gustave Le Bon e de todos que pensam nos eleitores como massa. Para João Santana, o marketing adapta a política ao gosto do eleitor e o maior problema na aceitação do trabalho do marqueteiro está exatamente entre compreender a diferença entre persuasão e manipulação.
"Há um limite entre essas duas ações e muita confusão desde a Grécia antiga. Os detratores da publicidade política-eleitoral acham que nós apenas manipulamos e que a massa é imbecil. Hoje, o meu corpo, o meu afeto e minha relação afetiva e sexual passam pelo mundo da mídia. Por que a política não passaria por aí? E o que fazem o marketing e a propaganda política? Um exercício de persuasão, usando instrumentos legítimos. E a democracia é isso: o choque de elementos de persuasão." Nas eleições de 2014, João Santana deve utilizar suas capacidades de convencimento como nunca.
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