Alta da Bolsa dificilmente
se sustenta
sem cassação de Dilma,
dizem analistas
SÃO PAULO - Os investidores que estavam ativos no mercado em 2014 se lembram muito bem de como o noticiário político pode influenciar as ações da Bolsa.
Em um ano de eleições, quando a presidente Dilma Rousseff parecia mais próxima da reeleição o Ibovespa caía e quando era um dos seus adversários que se aproximava do topo nas pesquisas a Bovespa subia.
Em 2016 parece que estamos vendo um retorno a este cenário.
Na semana passada, a Polícia Federal deflagrou a sua 23ª fase, denominada Acarajé, e decretou a prisão do publicitário João Santana, que foi responsável pelas duas campanhas eleitorais de Dilma, da de Lula em 2006 e do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. A possibilidade de que Santana tivesse recebido recursos ilícitos para financiar a campanha da presidente em 2014 reforçou a tese de cassação da chapa Dilma-Temer no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), justamente em um momento no qual o impeachment parecia extremamente improvável. Resultado, o Ibovespa subiu 4,07%.
Nestes três últimos dias, o movimento se repetiu. Uma onda de acusações contra Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pipocaram na mídia. Ontem, a Bolsa subiu principalmente depois da notícia de que 11 empresários confirmaram que a Andrade Gutierrez pagou ilegalmente a campanha da presidente em 2010 e hoje, a Bovespa sobe de novo com a perspectiva de que o ex-presidente da OAS, Léo Pinheiro, fará delação premiada na qual falará sobre o triplex que Lula supostamente teria no Guarujá (SP), além de admitir que a OAS pagou dívidas da campanha de Dilma seis anos atrás.
É claro que o mundo também subiu nestes três dias, mas para Cassiano Leme, gestor da Constância Asset, o impacto da política não pode ser ignorado. "Se houvesse uma troca de governo nós teríamos uma retomada forte de credibilidade. Na Argentina, por exmplo, o mercado começou a subir antes do Macri ser eleito", afirma.
Na sua avaliação, não há uma melhora nos fundamentos da economia brasileira, o que leva o investidor à única conclusão possível de que o rali recente da Bolsa, que já acumula 7,93% de alta desde a segunda-feira se deve ao exterior e à política. Um cenário que demanda cautela, já que a volatilidade fica alta e notícias sobre Lava Jato e brigas políticas entre Dilma e o PT tendem a ter um peso muito maior do que os fundamentos das empresas e da economia para os investidores.
"Não tem nada de concreto. Uma possível cassação da Dilma ajuda, mas enquanto não acontecer não adianta ficar otimista", diz o estrategista da Sonar Asset, André Delben Silva.
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