quinta-feira, 10 de março de 2016

DELCÍDIO CONTA TUDO...


... MAS VOCÊ SÓ SABE UMA PARTE !




Surgiu sem muito alarde nos jornais desta quarta-feira, 09/03, a notícia de que Aécio Neves (PSDB-MG) teria sido citado na até agora sigilosa,pero no mucho, delação premiada do colega Delcídio do Amaral (PT-MS).

Desde então uma multidão de eleitores começou a cobrar, pelas redes, detalhes sobre a misteriosa citação – que, contada desse jeito, pode ser qualquer coisa, inclusive uma mera menção ao dia em que os senadores saíram para tomar sorvete e conversaram sobre a Lua.
Na dúvida, parte dos eleitores se mobilizou para pedir nada demais a não ser o mesmo peso e a mesma medida em relação ao crédito do delator e aos esforços para detalhar a citação. Por pesos e medidas iguais se apegam à máxima de que todos são iguais perante a Justiça - querendo não crer que uns são mais iguais que outros. No caso, que uns têm direito a vazamento na íntegra e outros, a vazamento pela metade.
À primeira vista parece o velho cabo de guerra de soma zero: eu fiz, tu fizeste, eles fizeram, logo tudo está tão errado que parece certo. Não está.
Uma hora dessas, a citação sobre a suposta a ciência e a participação da presidenta Dilma Rousseff e seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, nos esquemas investigados pela força-tarefa colocava em módulo de fervura a temperatura do ambiente político. Neste ambiente o juiz Sérgio Moro determinou, na sexta-feira, 04/03, a condução coercitiva do ex-presidente até a Polícia Federal para prestar esclarecimentos – que ele deve, diga-se.
No próximo domingo, milhares de manifestantes vão às ruas para pedir a renúncia, a prisão e a exclusão da vida pública de quem estiver envolvido nas falcatruas investigadas pela Java Jato. O problema é que ninguém (há controvérsias) sabe quem de fato está envolvido nas falcatruas. Ou só sabe parte delas.
Eis o risco mais grave quando apenas um lado da história merece ter a vida pública e privada revirada e revelada em detalhes: condenados pela opinião pública antes de qualquer decisão da Justiça, eles deixariam um vácuo de poder a ser ocupado não por quem conhecemos, mas por quem não conhecemos ou só conhecemos pela metade.
O eleitor tem direito de saber por que diabos uma delação sigilosa só alcançou uma parte das autoridades citadas. Sem direito a essas informações, as manifestações do próximo dia 13 não serão um conjunto de atos contra a corrupção ou pela moralidade. Serão manifestações de quem não gosta do governo que está aí – e tem suas razões para não gostar, diga-se novamente.
Essa multidão tem direito a mostrar o que pensa a respeito dos que repudiam. Mas deveriam ter direito também de saber mais sobre seus candidatos a solução para o mundo.
O nome de Aécio, favorito hoje em qualquer cenário para a sucessão, já surgiu outras vezes em depoimentos de outros investigados (a maioria das suspeitas foi arquivada). Nenhum dos depoentes recebeu tanto crédito quanto Delcídio do Amaral, um ex-tucano que subiu na vida quando era diretor da Petrobras nos tempos de Fernando Henrique Cardoso. Foi naquela época que ele conheceu Nestor Cerveró, seu ex-gerente que o acusa agora de receber propina de contratos das empresas Alstom e GE quando ambos trabalhavam na Diretoria de Gás e Energia da Petrobrás, em 2001. Em um dos acertos, afirmou o ex-diretor da área Internacional da Petrobrás, a propina saiu de um contrato de US$ 500 milhões de turbinas de ar.
Na semana passada, a colunista da Folha de S.Paulo Mônica Bergamo já havia noticiado que, com receio de se tornar alvo nas investigações, o PSDB havia decidido atacar Delcídio do Amaral após receber informações de que o senador poderia envolver integrantes do partido.
Pelo visto, não estavam precipitados.
Virtual vencedor nas urnas com o (nem tão virtual) colapso do PT, o PSDB já figurou em outras declarações de delatores acima e abaixo de qualquer suspeita. A essa altura pouca gente se lembra (ou quer se lembrar) da acusação, levantada por mais de um delator, de que o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra (PE) – morto em 2014 – recebeu R$ 10 milhões para abafar a CPI da Petrobras de 2009.
Os tucanos, dirão a turma do deixa-disso, são inocentes no diz-que-diz-que até que se prove o contrário. Até aí, todos são.

Reuters
Em tempo. 
Há cerca de um ano pouca gente ousaria imaginar que o presidente da maior empreiteira do país estaria atrás das grades. Há poucas semanas, era possível imaginar que ele passaria tanto tempo preso. Ou que fosse condenado a 19 anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa. 
Na sentença, o juiz Sérgio Moro acolheu a acusação de que houve fraudes nas licitações, seguidas de pagamentos de propinas, nas obras das refinarias Presidente Getúlio Vargas, no Paraná, Abreu e Lima, em Pernambuco, no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro e no contrato de fornecimento de nafta da Petrobras para a empresa Braskem, controlada pela Odebrecht.
A decisão é simbólica e educativa. Para haver corrupção são necessários dois lados. Um é o corrupto. Outro é o corruptor. Antes só os primeiros tinham rosto – e nem sempre eram condenados.
Numa visão otimista, é possível prever que, daqui em diante, ofertas para obter vantagens em contratos públicos já não serão fechadas sob o argumento de que é assim que as coisas funcionam e não há a quem recorrer. Aos que se dizem aliciados e impotentes diante de esquemas do gênero, a sentença pode servir como uma perspectiva de bifurcação. Em vez do cofre, a conversa pode acabar na polícia.

Na foto, senador Aécio Neves (PSDB-MG) cumprimenta senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). (Beto Barata/Agência Senado)



FONTE:

9 de março de 2016

YAHOO NOTÍCIAS

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