quarta-feira, 30 de março de 2016

PMDB: GOVERNO NA MIRA


CRISE POLÍTICA





PMDB rompe 

com o governo 

e busca papel 

de protagonista 

na política nacional


PMDB tem chances reais de voltar ao comando do país sem ter sido diretamente eleito.
© Foto: Agência Brasil 
PMDB tem chances reais de voltar ao comando do país sem ter sido diretamente eleito.

O PMDB anunciou nesta terça-feira o rompimento com o governo federal,
o que eleva consideravelmente o risco de Dilma Rousseff sofrer um
 impeachment e de o país passar a ser comandado pelo vice Michel Temer,
presidente da sigla desde 2001.
“Estamos vivendo um momento histórico”, disse o senador
Romero Jucá (PMDB-RR) durante o anúncio da saída.
O fim dessa estremecida relação ocorre no momento em que
 o governo está mais frágil, atingido pela crise econômica e pela escalada
de acusações e protestos pedindo o afastamento de Dilma.
Caso a presidente sofra mesmo um impeachment, o controle do Brasil cairá
novamente no colo do partido após um momento de instabilidade política.
Mesmo sem jamais ter conseguido eleger diretamente um presidente, nas
últimas três décadas a legenda esteve quase sempre muito próximo do poder
como aliado do governo, independente de qual fosse seu espectro ideológico
– se mais à esquerda ou à direita.
Para cientistas políticos ouvidos pela BBC Brasil, tratou-se de uma estratégia
deliberada da sigla, que chegou ao poder pela primeira vez indiretamente
com a posse de José Sarney, vice do falecido Tancredo Neves, em 1985.
Depois disso, após duas tentativas frustradas de eleger um presidente
em 1989 e 1994, os peemedebistas entenderam que teriam mais sucesso
alcançando grandes bancadas na Câmara e no Senado, 
tornando seu apoio algo fundamental para a governabilidade.
A estratégia tem sido exitosa para o partido, que tem aumentado cada
vez mais seu espaço na Esplanada dos Ministérios.

No entanto, apesar de terem recebido sete pastas na última reforma
realizada por Dilma, os peemedebistas diziam se ressentir de não ter
poder decisório na formulação das políticas públicas.
“O PMDB, do Sarney para cá, sempre esteve no governo, mas nunca esteve
no poder”, afirma Ibsen Pinheiro, presidente da sigla no Rio Grande do Sul,
um dos principais focos de oposição à Dilma.

Vinte anos sem lançar candidato

Apesar de ser o maior partido do país, o PMDB não lança candidato a
presidente desde 1994, quando Orestes Quércia recebeu apenas 1,24% dos votos,
ficando em sexto lugar. Em 1989, Ulysses Guimarães – o “pai da Constituinte” –
levou 4,7% dos votos, amargando o sétimo lugar na disputa.
“Foram duas derrotas fragorosas”, resume Antonio Lavareda, professor de
ciência política da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).
Na sua avaliação, esse fiasco tem a ver com o fracasso do governo
José Sarney (1985-1990) no plano econômico. Em 1986, embalado pelo
sucesso momentâneo do Plano Cruzado, que congelou os preços para
estancar a inflação, o partido elegeu 22 dos 23 governadores. Logo
após as eleições estaduais, o congelamento acabou, levando a uma
disparada dos preços e da insatisfação popular.
“A população entendeu que houve estelionato eleitoral e não
perdoou o partido nos pleitos presidenciais seguintes”, diz Lavareda.
Depois disso, avalia o professor, o PMDB entendeu que o melhor era
 se fortalecer regionalmente e eleger grandes bancadas de parlamentares.
“Derrotado duas vezes, (o partido) desenvolveu a estratégia de não
disputar a cadeira presidencial e fazer alianças regionais, alianças
estratégicas nos Estados, elegendo em alguns lugares governadores e senadores,
mas sempre bancadas de expressão na Câmara que facultem sempre
a participação no governo federal seja à esquerda ou à direita”, explica.
“Essa bancada serve também para o PMDB ter fundo partidário e tempo
de televisão, o que torna as alianças com o partido uma coisa muito apetitosa
nos momentos eleitorais.”
O PDMB não participou do início do governo Itamar Franco,
que assumiu definitivamente a Presidência em dezembro de 1992,
após o impeachment de Fernando Collor. O partido era, inclusive,
crítico ao novo governo. Itamar voltou à sigla posteriormente, ainda
durante sua gestão.

Metamorfose

Outro fator que explica a dificuldade do PMDB em lançar candidatos
presidenciais e sua consequente opção pelo fortalecimento regional é a
profunda metamorfose que o partido sofreu nas últimas décadas, passando
de uma legenda progressista para uma sigla fragmentada e sem linha
ideológica clara, afirma o cientista político Rafael Moreira, que pesquisa
a sigla em seu doutorado pela USP.
O PMDB nasce como MDB (Movimento Democrático Brasileiro)
formalmente em março de 1966, quando o regime militar instaurou o
bipartidarismo no Brasil – a Arena era o partido governista e o MDB a
oposição consentida.

Dessa forma, predominavam no partido bandeiras democráticas e liberais,
como voto direto e liberdades civis.
Em 1979, com o fim o bipartidarismo, a sigla ganhou seu nome atual –
Partido do Movimento Democrático Brasileiro.
“O PMDB surge em 79 com uma composição muito de centro-esquerda,
ainda tem comunista dentro dele. Só que vai se
transformando ao longo dos anos”, observa Moreira.
Ao longo dos anos seguintes, explica o pesquisador da USP, quadros
com perfis mais ideológicos vão saindo do partido para ingressar
em siglas de esquerda que voltavam à legalidade, como PCB, PC do B e PSB.

Em 1988, outro grupo progressista sairia do PMDB e fundaria o PSDB –
entre eles estão Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Geraldo Alckmin.
Por outro lado, o PMDB vai atraindo cada vez mais políticos “pragmáticos”,
sem linha ideológica clara, muitos deles egressos da Arena
(transformado em PDS) que buscavam de distanciar da ditadura
conforme o regime ruía.
O próprio Sarney foi umas das principais lideranças do Arena e primeiro
presidente do PDS. Ele entrou no PMDB para ser vice-presidente da
chapa de Tancredo Neves, após ter perdido a indicação de seu
partido para Paulo Maluf. A chapa peemedebista saiu vitoriosa em
eleição indireta pelo Congresso Nacional – com a morte do
presidente eleito pouco antes da posse, o líder maranhense foi empossado
no cargo.
“O PMDB tem uma vulnerabilidade que é sua principal virtude:
seu grande aspecto ideológico. Isso vulnerabiliza o partido para
formular uma proposta nacional e ter uma candidatura presidencial.
É difícil você achar um nome de união nacional”, nota Ibsen Pinheiro.
“Mas isso lhe dá muita força regional em todos os Estados, em
todos os municípios.
E também lhe dá um papel central na superação de crises e um papel
secundário na rotina administrativa”, acrescentou.
Para Pinheiro, essa realidade torna improvável que o PMDB lance
candidato próprio em 2018. Moreira também considera mais viável o
partido apoiar algum candidato tucano nas próximas eleições.
Já Lavareda diz acreditar que, caso Temer venha a ser presidente e
faça um bom governo, possa tentar se candidatar à reeleição, 
mesmo que um acordo pelo impeachment com o PSDB 
preveja um compromisso de que isso não ocorra.
“Se o governo dele for absolutamente exitoso e a sociedade pressionar,
forçando a revisão de um acordo, isso pode correr”, disse.
Embora o próprio Temer já tenha sido citado na Operação Lava Jato,
a exemplo de outras lideranças do partido, como o presidente do Senado,
Renan Calheiros, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, parece haver
cada vez mais apoio a um eventual governo peemedebista no Congresso.

Os três negam participação no esquema.

Relações Desgastadas

A relação entre PT e PMDB teve seu ápice no segundo governo Lula,
quando a popularidade do líder petista estava nas alturas,
e vem se deteriorando desde que Dilma se tornou presidente.
A reedição da chapa Dilma-Temer em 2014 só teve apoio de
 60% do PMDB em sua Convenção Nacional.
Com o avanço da crise econômica e o desgaste gerado pela
Operação Lava Jato e a nomeação de Lula como ministro,
a oposição ao governo vem crescendo a cada dia dentro do partido.
Vale lembrar que a eleição municipal, que ocorre em outubro,
torna ainda mais custosa a manutenção da aliança.
O quadro para a administração petista se tornou ainda mais
dramático após o PMDB do Rio, que vinha sendo um dos principais
bastiões de sustentação de Dilma dentro do partido, ter anunciado
na última semana a retirada do seu apoio ao governo.
A resistência que ainda existe à saída vem principalmente dos integrantes
que têm cargos.

Nesta segunda, porém, o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves,
entregou sua vaga. A expectativa é que seja estabelecido nesta terça
um prazo para que os demais seis ministros e outras centenas
de peemedebistas que ocupam cargos em escalões inferiores deixem
o governo sem atropelo.
Reuters: Foco de resistência ao impeachment, Renan aceitou estratégia do PMDB© Copyright British Broadcasting CorporationFoco de resistência ao impeachment, Renan aceitou estratégia do PMDB
A notícia da saída do PMDB não é nada boa para a gestão Dilma,
que teme que o desembarque do partido gere uma debandada
de outras siglas da base.
Para tentar garantir o apoio mínimo necessário para barrar
a abertura de um processo de impeachment na Câmara
(172 votos, entre contrários, ausências e abstenções),
o Palácio do Planalto tenta agora identificar os peemedebistas que
ainda apoiam o governo para lhes dar os cargos que serão
entregues pelo outro lado.




FONTE:

BBC Brasil
BBC BRASIL

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