"Incompetência de Eike foi muito grande"
"A incompetência foi muito grande", diz ex-diretor da Petrobras sobre Eike
Ildo Sauer questiona: "quem será o responsável por todo este espetáculo?". E compara a derrocada da petroleira do empresário a do banco Halles na década de 1970
"Não esperava que a incompetência fosse tão grande". Essa é a
opinião do ex-diretor de energia e gás da Petrobras, Ildo Sauer, sobre a
situação da petroleira controlada pelo empresário Eike Batista, a OGX, após
anunciar um calote de sua dívida esta semana.
Hoje diretor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de
São Paulo (USP), Sauer trabalhou na maior empresa de petróleo do País entre 2003
e 2007.
Sauer lembra que, em 2007, OGX e Petrobras disputaram de forma acirrada blocos de óleo, mesmo considerando que a petroleira de Eike tinha apenas "alguns meses" de existência. "A empresa já se sentiu habilitada", opina.
Criada em julho daquele ano, a OGX arrematou poucos meses depois, em novembro, 21 blocos na 9ª rodada de licitações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Para Sauer, há suspeitas de atos ilícitos. "A empresa pode ter tido
acesso à informação privilegiada sobre modelo geológico e reservas potenciais
nos blocos, já que muitos gestores da Petrobras foram recrutados
progressivamente pela OGX", diz.
No momento em que a OGX começou a perfurar os poços para produzir
óleo, não contava com dois problemas, na visão do engenheiro: petróleo pesado,
muito viscoso, e um reservatório com matriz fechada, que dificultam a
exploração. "A empresa deveria ter uma equipe específica para tecer estas
considerações. Parece que não tinha, bem como a tecnologia necessária".
Para Sauer, o sucesso de Eike em festas e eventos criou
expectativa, junto com a publicação sucessiva de comunicados na Comissão de
Valores Mobiliários (CVM). "Aonde estavam os órgãos reguladores para fiscalizar
estes anúncios?", questiona Sauer. "Me surpreende a incompetência de todos. A
expectativa gerada especialmente no mercado de capitais deu a impressão de que
tudo fosse um passeio".
Ele ressalta que a auditoria das reservas de óleo, realizada pela
Degolyer Macnaughton, se limitavam à quantidade de óleo que poderia ser
explorado. "Sabemos que tem muito nos blocos. Mas é difícil produzir, exige
tecnologia especial para conseguir recuperar o óleo, retirá-lo".
Sauer lembra que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) declarou a
comercialidade do campo. Segundo a própria ANP, declaração de comercialidade é
unilateral da empresa. "Se for assim, não precisamos da ANP. Cada um declara o
que quer", opina.
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E agora?
Sauer decreta: a incompetência superou o otimismo e oportunismo.
"Resta saber: quem é o maior responsável por este espetáculo todo? Foi uma
aventura que abalou a confiança no sistema regulatório de petróleo e no mercado
de capitais. É uma situação constrangedora, para dizer o mínimo, que deve passar
por investigação do Senado, Ministério Público e até da polícia".
Na sua opinião, o "dinheiro já sumiu". "O gato levou. Foi distribuído no IPO
(Oferta Pública Inicial de Ações) da empresa. Tenho conhecidos que apostaram
tudo na OGX. O caso me lembra o do Banco Halles. Até a professorinha de Campinas
(interior de São Paulo) investiu no seu fundo, e viu o dinheiro evaporar",
conclui.O Banco Halles, conta Sauer, era conhecido por sua propaganda intensa feita por agentes autônomos, com promessa de altos ganhos. Os preços de suas cotas aumentavam até que o banco foi à falência, levando a poupança de muitos aplicadores. "A lógica era a mesma das empresas de Eike Batista: especulativa. O produto de investimento era visto como miraculoso".
FONTE: IG ECONOMIA