quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Dólar fraco leva custo da mão de obra ao maior nível desde 2001

Variação cambial gera perdas de 30% à indústria local e corrói ganhos obtidos com aumento da produtividade



Klinger Portella, iG São Paulo 18/11/2010 05:45


O custo da mão de obra no Brasil está nos níveis mais altos dos últimos dez anos. Por conta do fortalecimento do real em comparação com o dólar e do aumento da renda do trabalhador, o custo unitário do trabalho em dólares (ULC-US$, na sigla em inglês) – indicador que mede o custo da mão de obra na produção de uma unidade do produto – atingiu, em setembro, o maior nível desde 2001. Os números constam na base de dados do Banco Central.



O indicador chegou a 147,8 pontos no mês de setembro, superando os 147,7 de julho, o mais alto até então. Em 2001, quando a série histórica começou a ser apurada, o ULC estava em 63,7. “A desvalorização da moeda barateia as importações e encarece, relativamente, os bens e serviços produzidos localmente”, diz o professor do Instituto de Economia da Unicamp e ex-presidente da Associação Brasileira de Estudos do Trabalho (Abet), Cláudio Dedecca.



O custo da mão de obra

Confira a evolução do ULC desde 2001 e a comparação entre o câmbio e a produtividade


Segundo os dados do Banco Central, desde dezembro de 2008 – quando o mundo ainda se via em meio ao caos da maior crise econômica dos últimos 70 anos -, os produtores brasileiros perderam cerca de 30% com a variação cambial. No período, o índice de taxas reais de câmbio baixou de 103,7, em dezembro de 2008, para 72,5 em setembro de 2010. As perdas, no entanto, foram parcialmente compensadas com o ganho de produtividade, que ficaram próximos de 15% nos últimos dois anos.



“O mercado de trabalho está muito aquecido e, com isso, há um ganho enorme de renda. Por conta disso, o custo do trabalho não consegue ser compensado pelo ganho de produtividade”, diz o economista da Tendências Consultoria Bernardo Wjuniski.



Entre dezembro de 2008 e setembro deste ano, o indicador que mede o índice de taxa real de câmbio corrigida pela produtividade baixou de 71 pontos para 59,1 pontos. Com isso, a relação câmbio-salário corrigida pela produtividade fechou o nono mês de 2010 em 69,6 pontos, o segundo menor nível da história.



Segundo Cláudio Dedecca, o Brasil “é penalizado” por não conter a forte valorização cambial. “Outros países em desenvolvimento atuaram contra a valorização da moeda, especialmente a China, impedindo o aumento espúrio do custo do trabalho.”



Apesar disso, continua o professor, o custo da mão de obra no Brasil não é um dos mais altos do mundo, sendo superado pelos países desenvolvidos. Dedecca diz, no entanto, que, em relação aos emergentes, a situação do Brasil é “desfavorável”.



“No imediato pós real, se adotou a política de redução dos custos da mão de obra, que não recompôs a competitividade, além de ter agravados os problemas de emprego, ao reduzir a renda do trabalho e reiterar, portanto, o movimento de queda do consumo e da produção”, diz.



Dedecca defende o aumento de competitividade via maior incorporação tecnológica, mas faz uma ressalva: “é necessário enfrentar o problema do câmbio, cujo ponto de partida é inevitavelmente a redução da taxa de juros básica”.



Risco de investimentos menores

Com o encarecimento da mão de obra no Brasil, algumas empresas podem mudar seus planos de investimentos para o País nos próximos anos. O economista da LCA Consultores Homero Guizzo diz que o Brasil, neste sentido, não é páreo para países como a China.



“Uma indústria que é muito intensiva em mão de obra tem chances de deixar de investir no Brasil. Mas o custo do trabalho não é o único motivo que é considerado pelas empresas”, afirma.



Cláudio Dedecca, por sua vez, concorda que o câmbio pode reduzir o apetite das companhias pelo mercado brasileiro, mas diz que o movimento é minimizado pelo bom momento que atravessa a economia. “O Brasil é hoje um dos principais destinos do investimento produtivo estrangeiro”, diz.



“É a perspectiva de crescimento do País que comanda este processo. A estabilidade institucional em geral e da regulação do mercado de trabalho contribui para reforçar a atração dos investimentos”, completa o professor da Unicamp.



Perspectivas


Para 2011, o cenário com relação ao custo de mão de obra no Brasil não deve mudar de tendência. Isso porque, além dos reajustes do salário mínimo em reais – que influenciam o valor do ULC – há perspectivas de que o dólar mantenha a trajetória de desvalorização frente ao real.



“O câmbio não deve cair muito mais do patamar em que ele já está. A não ser que os termos de troca do Brasil continuem subindo”, diz Homero Guizzo, economista da LCA Consultores.



“A relação entre os preços das exportações e os das importações, hoje, é uma das mais altas que já vimos. Isso muda o câmbio real de equilíbrio e, portanto, para o qual a gente espera que ele convirja”, completa.



Na avaliação dos especialistas, um dos caminhos para reduzir o ULC no Brasil seria baixar os salários, o que está completamente descartado. “A outra forma seria via câmbio, mas não vemos medidas de impacto a médio e longo prazos”, diz Guizzo.



Bernardo Wjuniski, da Tendências, diz que o dólar deve se manter, em 2011, próximo do patamar atual, o que vai tirar, em parte, a pressão sobre o custo da mão de obra. Por outro lado, alerta ele, “o aumento de renda vai continuar”.



Leia também:


Cresce a importação de mão de obra na engenharia

Mão de obra escassa pode abrandar exigências

Governo discute como evitar falta de mão de obra

Vidas na contramão do mercado de trabalho

Conheça 20 estagiários que viraram presidentes



FONTE: IG ECONOMIA

Nenhum comentário: