quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Ouro foi a única aplicação que bateu a inflação em 2010

Bolsa de Valores marca o segundo pior desempenho do governo Lula, só perdendo para a queda de 41% registrada em 2008


Nelson Rocco, iG São Paulo | 30/12/2010 05:54
 
 
O ouro encerra o ano de 2010 como a aplicação mais rentável e como a única que bateu a inflação. As ações, que já foram as grandes vedetes da década, tiveram desvalorização de 0,8% no último ano do governo Lula, a segunda pior marca desde que assumiu a Presidência da República, em 2003.

O metal acumulou valorização de 30,64% até o dia 28 de dezembro, quase 20 pontos percentuais acima da inflação medida pelo IGP-M, de 11,32%. Se a comparação for com o IPCA, a inflação oficial, estimada para fechar o ano em 5,89%, o ganho é ainda mais expressivo. A busca da preservação do valor em oposição aos riscos de outros investimentos é a explicação dos analistas para a alta. Os títulos de renda fixa atrelados aos índices de inflação superaram a alta de preços, mas devido ás características desse tipo de papel. A poupança rendeu 6,9%, enquanto o dólar teve queda de 2,98% até dia 28.







Foto: AE
Barras de ouro, metal que teve valorização de mais de 30% neste ano


O desempenho do ouro neste ano se assemelha à valorização registrada em 2008, quando a piora da crise internacional puxou para baixo a cotação da maioria dos ativos e o mercado procurou um porto seguro no metal, que subiu mais de 32%. Em 2009, ele devolveu os ganhos e fechou em queda de 3,05%.

“O ouro foi a vedete deste ano”, sentencia José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.

“O ouro tem a característica de preservar valor no montante de sua escassez combinada com o atributo de não gerar riqueza”, diz. Ele ressalta que, apesar de não render juros ou dividendos, o metal não tem custos de armazenagem. E, num momento em que a preocupação dos investidores é com a preservação de valor, o ouro é uma alternativa aos riscos que outros ativos oferecem.

 

As aplicações em 2010

Aquiles Pereira Salerno Júnior, gerente de operações com ouro da distribuidora Ouro Minas, lembra que o metal passou anos em baixa devido à abundancia no mercado, o que levou à retração dos investimentos em exploração em meados da década de 1980. “As mineradoras só voltaram a investir em 1999, quando começaram a colocar o ouro no mercado novamente. Com o ataque às Torres Gêmeas nos EUA, em 2001, os investidores passaram a olhar para o metal e começou a faltar ouro.” Agora, com a crise na Europa e as incertezas nos Estados Unidos, o mercado voltou a procurar o ouro.
Salerno lembra que as cotações do metal subiram mais de 300% em dez anos. Segundo ele, as previsões do setor são de que o metal irá fechar o ano de 2011 com a cotação da onça-troy por volta de US$ 2.500. Se isso ocorrer, o rendimento deverá ser superior às previsões anteriores de valorização de 40% sobre as cotações do final de 2010. Nesta quarta-feira, a onça-troy fechou na casa dos US$ 1.400 em Nova York. Onça-troy é a medida padrão de negociação do metal, que equivale a 31,104 gramas.


Bolsa

A Bolsa de Valores, um importante termômetro do humor dos investidores, vem se mantendo “de lado”, como dizem os operadores, desde o início do ano. Até o dia 28 de dezembro, o Ibovespa – índice que mede a variação dos preços dos papéis mais negociados na Bolsa paulista – acumulava queda de 0,80%. É o segundo pior desempenho dos mercado acionário do governo Lula – só perde para a queda de 41,2% registrada em 2008, ano em que o agravamento da crise financeira internacional espalhou pânico pelo mercados do mundo todo.

Gonçalves, do Fator, vê duas razões para o fraco desempenho do mercado acionário neste ano: a crise europeia e as incertezas quando ao crescimento da China associadas à piora dos indicadores dos Estados Unidos. Segundo ele, a crise dos deficits europeus marcou o desempenho da Bolsa no primeiro semestre e levou à alta do dólar. “A valorização do dólar no primeiro semestre mostrou que o mercado fugiu de qualquer coisa que o euro pudesse afetar. Quando se vislumbrou uma solução para os deficits crescentes dos países europeus, em junho, a Bolsa melhorou um pouco”, lembra.

 

Bolsa no governo Lula

De acordo com o economista-chefe do Fator, o movimento de alta foi frustrado no segundo semestre pelos riscos de que o crescimento da China não seja, no futuro, tão vigoroso como se esperava. Além disso, pesou também o anúncio de injeção de US$ 600 bilhões na economia americana pelo governo para tentar estancar os efeitos da crise.

Para completar, houve incertezas políticas que afetaram as cotações das ações da Petrobras e os rumores de sucessão na Vale, que também abalaram seus papéis, o que ajudou a desvalorizar o mercado acionário. As ações da Petrobras e da Vale têm grande peso no Ibovespa.

Outro fator que conturbou os mercados, na opinião de Fabio Colombo, administrador de investimentos, foi a chamada “guerra das moedas”, onde se viu os EUA tomando medidas para desvalorizar o dólar, de modo a tentar nivelar sua balança comercial e de pagamentos, situação que afetou a maioria dos países, inclusive o Brasil.

Para 2011, Gonçalves diz não ver grandes “expectativas” para a Bolsa no Brasil. “O ano de 2011 está mais para papéis de renda fixa e títulos públicos”, diz ele, lembrando que as expectativas são de alta da inflação e de elevação das taxas de juros justamente para tentar conter o aumento de preços. Fabio Colombo, administrador de investimentos, projeta um ponto médio para o Ibovespa de 66 mil pontos em 2011, devendo oscilar entre o máximo de 85 mil pontos e o mínimo de 39 mil pontos. No dia 28, o Ibovespa fechou levemente acima dos 68 mil pontos.

FONTE: IG ECONOMIA - MERCADOS

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