sexta-feira, 9 de novembro de 2012

PAGAMENTO DE DIVIDENDOS ALTERADO

Novas regras do setor elétrico jogam sombra sobre pagamento de dividendos

Investidores que contam com proventos de empresas do setor podem ter que rever a estratégia para manter ganhos

Danielle Brant- iG São Paulo |
 

Tradicionalmente boas pagadoras de dividendos, as empresas do setor elétrico devem desapontar – e exigir mudanças de rumos – de seus investidores, caso seja aprovada a Medida Provisória 579, que trata da renovação das concessões do setor elétrico e, entre outras coisas, reduz as tarifas de energia. Se quiserem seguir recebendo os proventos, é provável que tenham de migrar para setores com menos probabilidade de sofrer com a "mão pesada" do governo nos próximos anos, afirmam analistas.
A boa fama do setor, enquanto pagador de dividendos, vem do fato que as empresas têm geração de caixa estável e já realizaram boa parte dos investimentos necessários para ter fluxo de caixa, explica Karina Freitas, analista da Concórdia. Por isso, distribuem parte de lucro líquido sob a forma de dividendos.


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Entre 2008 e 2011, por exemplo, a Eletropaulo – que não deve ser duramente atingida pela MP, mas terá que se ajustar aos cortes tarifários exigidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) – pagou 21,67% de seu lucro líquido anual, em média, como dividendos. No mesmo período, a AmBev, que também distribui dividendos, pagou em média 3,8%.
Mas as novas regras devem impactar esse cenário. “Com a redução das tarifas, as empresas afetadas vão ter que cortar gastos para manter a lucratividade dos meses anteriores”, afirma Galdi. Enquanto isso não acontece, a recomendação dos analistas é que o investidor com carteira concentrada nas empresas afetadas se desfaça de alguns papéis e diversifique os investimentos.


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“Não necessariamente a carteira vai ser afetada. Vai depender do perfil do cliente. Quem tem 30%, 40% da carteira em uma única empresa será muito afetado. Quem dispersa a participação em várias empresas deve ser menos afetado”, explica Karina Freitas. “A mudança na regra do jogo causa problema ao acionista que contava com os dividendos desses ativos”, avalia Bruno Gonçalves, da corretora Wintrade.
Nem todas as geradoras, transmissoras e distribuidoras de energia serão atingidas pela MP, na visão dos especialistas. As novas regras afetariam, sobretudo, companhias como Eletrobras, Transmissão Paulista e CESP, afirma a maioria dos profissionais ouvidos pela reportagem. Por outro lado, Tractebel, Taesa Light e AES Tietê não seriam tão penalizadas pelas mudanças.


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Os especialistas se dividem sobre para quais setores os investidores interessados em dividendos poderiam migrar. A maioria aponta os de concessões rodoviárias, infraestrutura, bancos e telecomunicações. Em comum, são áreas voltadas ao consumo interno e com tarifa reajustada pela inflação. Mas também estão sujeitas a intervenção governamental, como já ocorre com telefonia e bancos. “O mercado está com temor de que o governo mexa nesses setores”, adverte Thomas Chang, analista da UM Investimentos. Por causa disso, ele não recomenda exposição a esses segmentos.
Já companhias de consumo voltadas ao mercado interno, como a AmBev, podem ser boas opções para esses investidores, afirma Chang. “Embora a empresa não tenha um dividendo-yield alto [rendimento do dividendo], tem demanda inelástica, ou seja, não depende de oscilações do mercado”, explica.


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A Souza Cruz é outra aposta, na opinião do especialista em finanças pessoais Mauro Calil. “Por um motivo simples: ela não sofre concorrência. Ela pode distribuir o lucro e enviar recursos para a British American Tobacco [controladora da empresa], que os investe em mercados cujo consumo do tabaco cresce, como a África”, explica.
O mais importante, segundo Calil, é diversificar seu portfólio de ações pagadoras de dividendos. “Você não pode concentrar em um único setor. Se está apostando nos dividendos para sua aposentadoria, tem que diversificar e investir em fundos imobiliários, ou fundos de renda fixa”, ressalta.
Além disso, é preciso analisar antes de tomar a decisão de compra. “O investidor deve estudar a fundo a empresa, ver o segmento, se é bom, ruim, se a empresa está bem posicionada, quem é o controlador”, afirma Gonçalves, da Wintrade.
A MP 579, em tramitação no Congresso, deve ser votada ainda este mês.

FONTE: IG ECONOMIA

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