sexta-feira, 16 de agosto de 2013

46o. MAIS PODEROSOS DO BRASIL

                     

Os 60 mais poderosos

José Dirceu: poder e controvérsias

José Dirceu
De líder estudantil a réu condenado do mensalão: história de José Dirceu sempre foi construída por embates

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Biografia de um dos homens mais poderosos e controversos da República é repleta de sinuosas curvas e surpreendentes retornos
Seu primeiro esboço, elaborado pelo jurista alemão Hans Welzel para o julgamento dos crimes do Partido Nazista, acabaria rejeitado pelos tribunais alemães. Mais tarde, já sistematizada pelo também germânico Claus Roxin, adquiriu projeção internacional, sendo usada na condenação da Junta Militar da Argentina e do ex-presidente peruano Alberto Fujimori por sequestros e assassinatos cometidos durante seu governo. Agora, há quem acredite que a teoria do domínio do fato – que recentemente saltou dos alfarrábios da literatura jurídica para se tornar expressão do cotidiano nacional – tenha selado o destino de José Dirceu, arremessando-o neste satânico escaninho de associações históricas.

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Os mais prudentes, no entanto, escutam o som dos dados que ainda rolam sobre a mesa. Sábia cautela. A biografia de um dos homens mais poderosos e controversos da República é repleta de sinuosas curvas e surpreendentes retornos. 

Para alguns, José Dirceu virou a personificação do mal na política brasileira – algo não tão distante da opinião compartilhada por quem ousou enfrentá-lo, notadamente dentro do próprio PT. Seria o mentor do mensalão, o chefe de um dos maiores esquemas de corrupção já montados no País, com o objetivo de desviar recursos públicos para o pagamento de partidos da base aliada.

Mas terá o Supremo induzido o juízo comum ou terá o veredito popular induzido o Supremo? Nestas horas, há quem prefira evocar Churchill, para quem não havia opinião pública, e sim a opinião publicada. De qualquer forma, a ordem dos fatores não altera a sentença: 10 anos e 10 meses por formação de quadrilha e corrupção ativa.

Na cova dos leões 

José Dirceu nunca foi preso; mas Daniel, sim. O jovem líder estudantil fez jus ao nome e foi jogado na cova dos leões. "Caiu" em outubro de 1968, preso durante o histórico congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Ibiúna (SP). A esta altura, já levava sobre as costas mais de três anos de movimento estudantil. Ainda no ensino secundário, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Migrou para a facção mais radical do PCB, atraído pelo ideário de Carlos Marighella. Rompeu com o partido e colaborou na formação das chamadas "Dissidências", ovo do qual eclodiria a Ação Libertadora Nacional (ALN), da qual não chegaria a fazer parte.

Em outubro de 1968, o então presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE) capitaneou o conflito entre aproximadamente mil alunos da Faculdade de Filosofia da USP e do Colégio Mackenzie com a polícia no centro de São Paulo. Um estudante morreu, dez ficaram feridos e a cama ficou armada para o que se veria dias depois em Ibiúna. 

A aura de mito entre seus pares do movimento estudantil ficou mais espessa. Depois de quase um ano na prisão, José Dirceu fez parte do grupo de 15 presos políticos deportados do País em troca da libertação do embaixador norte-americano Charles Elbrick. A partir daí, Dirceu caiu no mundo, numa trajetória que, de uma forma ou de outra, já foi exaustivamente dissecada e compõe, em grande parte, o personagem sob domínio público. Viajou para o México, exilou-se em Cuba, estudou, recebeu treinamento militar, retornou ao Brasil, viveu clandestinamente em São Paulo, volveu à ilha, fez cirurgias plásticas e regressou de vez em 1975 para se fixar em Cruzeiro do Oeste, no interior do Paraná, onde casou, teve filho e atendeu pelo nome Carlos Henrique Gouveia de Mello. Não está de todo errado quem se pergunta: afinal, quem é realmente José Dirceu?  

Da guerrilha para a política partidária

Carlos Henrique se foi e José Dirceu reemergiu com a anistia, não sem antes passar por Cuba onde rebobinou a fita e reverteu sua cirurgia plástica. Seguiu fazendo o que sempre fez, política, novamente sob uma sigla. Foi um dos "founding fathers" do PT. Mais do que isso: é o líder de um partido próprio, de um dos vários PTs que coabitam o PT. Dirceu, como se sabe, sempre foi dado a dissidências.

Após vários mandatos como deputado federal, e uma candidatura derrotada ao governo de São Paulo, sua trajetória política chegou ao cume em 2003, com a nomeação para a Casa Civil. Dirceu, de fato, chegava ao poder, ao lado de Lula, com quem sempre manteve uma relação de respeito mútuo, mas extremamente tensa e marcada por notórias divergências. 

Não faltou quem insinuasse que Dirceu era o "verdadeiro presidente da República" e conduzia os passos de Lula. Coisa de quem não conhece Dirceu. Coisa, sobretudo, de quem não conhece Lula. Dirceu sabia que aquela não era a sua hora. Mas estava convicto de que ela viria em 2010. Em 1º de janeiro de 2003, ele era candidato natural e quase obrigatório à sucessão de Lula. 

Dirceu já foi apontado como "verdadeiro presidente". Coisa de quem não conhece Dirceu. E, sobretudo, de quem não conhece Lula


Essa estrada começou a ruir em 2005, com o escândalo dos Correios, as denúncias de Roberto Jefferson e materialização do episódio do mensalão. Na primeira estação em que o trem parou, Lula afastou-o da Casa Civil. Meses depois, mais um revés. Já passava da meia-noite de 1º de dezembro de 2005 quando José Dirceu teve seu mandato de deputado federal cassado por quebra de decoro parlamentar. 

Podia ter renunciado, preservado seus direitos políticos e, possivelmente, aplacado a ira popular pelo tempo de exposição negativa. Convicto de sua inocência ou movido pela certeza de que estava diante da ira de adversários que precisava enfrentar, resolveu encarar o processo até o fim. Foi cassado. Dirceu, e não Daniel, estava na cova dos leões.

Na defesa e no ataque

Nos últimos anos, Dirceu tem jogado na defesa, sem deixar de encarar os felinos. Aguarda o julgamento pelo STF dos embargos declaratórios e infringentes. Garante que, se o Supremo mantiver sua condenação, recorrerá à Comissão Interamericana de Direitos Humanos e ao Tribunal Internacional Penal, em San José, na Costa Rica. 

Nos últimos anos, Dirceu tem jogado no ataque. Poder não é categoria precificada em contratos futuros. Só tem valor se usado a presente. E Dirceu sabe como poucos usar seu maior ativo. Mesmo expulso e sem direito a assinar a súmula do jogo, segue em campo, fazendo o que sempre fez, em sentido cada vez mais amplo. 

No PT, permanece movimentando peças no tabuleiro. Tampouco teve completamente amputados seus tentáculos no governo – ainda que muitos digam que Dilma se sentiria ainda mais confortável em seus tailleurs se o STF corroborar sua decisão. As denúncias sobre tráfico de influência sequer provocam mossas em sua couraça de rinoceronte. É possível dizer, de forma genérica ou não, que José Dirceu é capaz de nivelar e encurtar os caminhos mais íngremes e oblíquos. Dirceu nunca precisou da luz do sol para ser Dirceu, ou Daniel, ou Carlos Henrique.  

A condenação não transformou Dirceu em uma figura hanseniana. É bem verdade que muitos de seus interlocutores e clientes desertaram, mas sua agenda segue repleta de encontros com alguns dos mais renomados dirigentes empresariais do País.
 
 
FONTE: IG POLITICA

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