quinta-feira, 31 de outubro de 2013

PREJUIZO OGX

Pequeno investidor de Eike perde até R$ 2 mi


 
 

Pequenos investidores de Eike perdem até R$ 2 milhões: "Deveria ser preso"

Conheça as histórias de investidores que acreditaram nas promessas do ex-bilionário e perderam suas economias ao comprar ações da OGX, que entrou em recuperação judicial

Marília Almeida - iG São Paulo |


AE
O empresário Eike Batista: investidores estão revoltados com excesso de expectativas sobre petroleira
"Se Eike Batista entrar em uma padaria e pedir pão com leite fiado, o padeiro não vai dar para ele!". É neste tom, e com a voz alterada, que um dos cerca de 50 mil investidores pessoas físicas da OGX, conta a história de seu investimento na petroleira do empresário Eike Batista. Ele perdeu cerca de R$ 2 milhões, "mais do que gostaria, menos do que poderia".
 
 
Detentora de uma dívida de R$ 11,2 bilhões , a OGX pediu recuperação judicial na quarta-feira (30). Agora tem 60 dias para apresentar aos credores um plano de recuperação.
Morador da cidade de São Paulo, André (nome fictício do investidor, que prefere o anonimato) resolveu vender suas ações quando a petroleira OGX anunciou que a perfuração dos poços de Tubarão Azul seria suspensa após o campo ser declarado comercialmente inviável, em julho deste ano.
"Três meses antes, a empresa havia divulgado grandes expectativas com relação ao poço". André comprou as ações a R$ 5,30. Vendeu por R$ 0,45.
André investe há sete anos em ações na bolsa de valores, e conta que já perdeu mais. "Faz parte da regra do jogo. Mas desta vez foi diferente. Uma coisa é assumir risco. Outra é divulgar informações mentirosas. Eu considero o caso um estelionato, é caso de polícia. Ele deveria ser preso". O sentimento? O pior possível, conta.
Diante do prejuízo com as ações da OGX, André diz ter "deixado de investir em coisa séria, gerar emprego e adquirir mais segurança. "Desta forma, teria meu patrimônio preservado". E se resigna em reaver o investimento. 
 
 
 
Poupança do pai
 
Marta Batista (que escolheu o sobrenome para seu nome fictício em homenagem a Eike), de São Paulo, sente raiva quando fala do que aconteceu com as ações da OGX. Seu pai, de 82 anos, decidiu criar uma aplicação para o período de cinco anos que beneficiaria ela e suas irmãs. Marta então recomendou a ele o investimento na petroleira de Eike Batista, ainda na época do lançamento das ações na bolsa, em junho de 2008.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Na ocasião, a oferta inicial de ações (IPO) da OGX foi considerada a maior da história da BM&FBovespa. Marta estima já ter perdido R$ 400 mil. Sente raiva e, o pai, decepção.
Agora, Marta não pensa em receber o dinheiro de volta e decidiu deixá-lo "virando pó". "Não tiramos da bolsa porque temos vergonha de atestar que caímos nesta armadilha, não nos conformamos". E resume: "Foi um crime". 
 
 
 
Quinze anos de bolsa
 
O investidor Marcelo (também um nome fictício), do Espírito Santo, é prestador de serviço na área de saúde, investia na bolsa há 15 anos na expectativa de fazer uma poupança de longo prazo. A primeira vez que errou a mão foi com a OGX. Agora, com o pedido de recuperação judicial, está apreensivo.
Marcelo esperou o preço da ação chegar a R$ 8. Para o minoritário, grandes investidores haviam levado a ação a um patamar inadequado. E apostou "sem medo", diz, 70% de suas aplicações na empresa. Perdeu, até agora, R$ 80 mil. Diante do futuro incerto da empresa, ainda acredita em uma virada.
Novato 
Angústia e muito stress foi o que sentiu o artista plástico carioca de 42 anos, aqui chamado de Rodolfo. Em seu primeiro investimento na bolsa de valores, resolveu apostar na OGX.
Rodolfo comprou as ações da companhia, em 2011, a R$ 19,70. E este ano, comprou mais, a R$ 2,60, como recomendação de sua corretora, pouco antes do papel despencar. Estima ter perdido até agora R$ 200 mil. 
O artista plástico lembra que Eike Batista lançava, na época, seu livro, "O X da questão - a Trajetória do Maior Empreendedor do Brasil". "Queria ter a coragem de tirar todo o dinheiro dos papéis da OGX. Para acabar com este sofrimento, esquecer essa etapa da minha vida".
O dinheiro, que acredita ter levado cerca de 15 anos para reunir, fruto do seu trabalho, estava aplicado antes em Certificados de Depósito Bancário (CDBs), seria direcionado para a sua poupança no futuro.
 
 
 
Transferência de investimentos
 
André, o investidor paulista que perdeu cerca de R$ 2 milhões, acredita que a bolsa levou uma pancada com o caso da OGX. Ele pretende desistir da aplicação em ações. "A partir de agora, irei investir em tijolo. Pelo menos não tomam de mim. Apesar que, no Brasil, sempre há esse risco aumentando impostos", conclui.
Marta conta que investia na bolsa pensando em uma poupança de longo prazo. Agora, se sente enganada. "Minha confiança na bolsa e em empresas diminuiu. Eike Batista me fez perder a fé no índice Ibovespa". Agora, Marta quer realizar aplicações em previdência, poupança e letras de crédito imobiliário (LCI).
Marcelo, o investidor do Espírito Santo, suspendeu seus investimentos na bolsa, até verificar o que acontecerá com o dinheiro aplicado. 
 
 
 
Muita propaganda
 
Mas por qual razão esses pequenos investidores apostaram muitas fichas na OGX, a petroleira de Eike Batista? Eles respondem: acreditaram no sonho americano, no empresário de sucesso. E até em uma empresa com grandes expectativas.
"As apresentações da OGX eram maravilhosas. A produção era fantástica. A impressão é que Eike divulgou somente as mais otimistas", relata André. Marta conta que acreditou na visão do "empreendedor do futuro" e na solidez do setor de petróleo. 
Para Marcelo, o fato da OGX não ser uma sociedade anônima e ter um dono de fato, que injetou capital na empresa, passava confiança. "Achei que ela estaria bem situada. Que ele não iria querer perder o dinheiro que apostou nela."
Na opinião de Rodolfo, havia muita 'propaganda' em torno da imagem do empresário. E, quando verificou que grandes bancos e até o próprio Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), disse: por quê não? "Era tudo uma maravilha. Nunca acreditei que pudesse virar pó", conclui.
 
 
 
Últimos da fila
 
O pedido de recuperação judicial garante à empresa um prazo de 180 dias – prorrogável por mais 180 – para apresentação de um plano de reestruturação e quitação dos débitos pendentes.
Caso o plano não seja aprovado por unanimidade, os credores da empresa têm mais 60 dias para ajustá-lo e aprová-lo. Caso não seja aprovado novamente, a empresa entra em processo de falência.
Se o plano de reestruturação for aprovado, a OGX deve executá-lo no prazo máximo de dois anos a partir da data da entrada do pedido de recuperação judicial. Caso não consiga implementá-lo, pode ser movida para liquidação de falência pelo tribunal.
No caso de liquidação, os acionistas da OGX só receberiam o pagamento caso a venda de ativos seja suficiente para reembolsar integralmente todos os credores da companhia, que têm prioridade no pagamento.
 
 
FONTE: IG ECONOMIA

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