domingo, 24 de maio de 2015

BIN LADEN: DIRETOR DE RECURSOS HUMANOS ??











Osama Bin Laden:


AP

um diretor de recursos humanos










(Foto: AFP)(Foto: AFP)

"Por favor, preencha a informação solicitada com honestidade e exatidão. Escreva de forma clara e legível. Nome, idade, estado civil. Deseja realizar uma operação suicida?".
O formulário para se alistar na Al-Qaeda se assemelha no início ao de qualquer empresa, mas as perguntas assumem um viés chocante: "Quem devemos contactar caso você se torne um mártir?".
O recrutamento para uma rede jihadista internacional é complicado, ainda mais se, como no caso de Osama Bin Laden, a pessoa que o realiza está escondida em uma residência no Paquistão para escapar dos drones americanos.
Mas esta não é uma desculpa para não ser metódico, como demonstra o detalhado formulário que leva a marca do "Comitê de Segurança, Organização Al-Qaeda".

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O texto é parte de um conjunto de documentos apreendidos pelos comandos americanos em 2 de maio de 2011, quando invadiram o esconderijo de Bin Laden na cidade paquistanesa de Abbottabad e mataram o homem mais procurado por Washington.
A CIA desclassificou nesta quarta-feira o formulário de recrutamento da Al-Qaeda e uma centena de outros documentos do arquivo de Bin Laden, o que permite conhecer um pouco mais de suas ações nos últimos anos.



Ficha de recrutamento da Al-Qaeda, traduzida pela CIA. (Foto: AFP)Ficha de recrutamento da Al-Qaeda, traduzida pela CIA. (Foto: AFP)




"Trabalho externo"

Grande parte do material traduzido pela CIA e entregue à AFP, que, no entanto, não pôde corroborar de maneira independente sua origem ou a qualidade da tradução, tem um viés poético e pessoal, sobretudo as cartas familiares ou os rascunhos de discursos que Bin Laden nunca chegou a pronunciar.
Mas vários documentos internos da Al-Qaeda dão a ideia de que o líder da organização jihadista se comportava como o diretor de recursos humanos de uma multinacional em apuros.
"Uma das especialidades que necessitamos e que não podemos descuidar é a ciência da administração", afirma em um dos textos, no qual pede o fomento de um programa de capacitação profissional.
Os jovens voluntários devem ter profundas convicções religiosas, mas também saber de ciência, engenharia e administração, segundo o documento. Devem ser treinados durante vários meses antes de serem enviados a realizar ataques no Ocidente, pedia Bin Laden.
"A pessoa deve ser piedosa e paciente", insiste em outra nota, que exalta a discrição dos jihadistas que realizaram o atentado na embaixada americana de Nairóbi em 1998.
"Qualquer pessoa que demonstre tédio, não termine as tarefas designadas ou se irrite facilmente tem que ser retirada do trabalho externo. No Quênia os irmãos permaneceram dentro da casa por nove meses", afirma.
Bin Laden dizia que não precisava conhecer os detalhes do trabalho externo, como eram chamados os ataques contra alvos ocidentais fora do campo de batalha, por razões de segurança, mas que em casos de atraso seria obrigado a intervir.
Em outro documento que os analistas da CIA acreditam que foi escrito por Bin Laden ou por outro líder da Al-Qaeda, o grupo adverte que às vezes os voluntários eram mobilizados muito cedo.
Cita o exemplo de um voluntário que só pôde permanecer dois meses porque precisava voltar ao Ocidente.
"Demos a ele um curso acadêmico de explosivos e voltou antes que seu visto de residência expirasse, e não voltamos a ouvir falar dele", explicou.
"Esperamos ouvir falar dele muito em breve", acrescentou.





- Departamento de desenvolvimento -

A Al-Qaeda sofria porque seus jihadistas mais experientes geralmente estavam identificados pelas agências de inteligência inimigas e não tinham documentos para viajar. Os jovens eram impacientes e não haviam sido propriamente treinados.
"Precisamos de um departamento de planejamento e desenvolvimento", oferece Bin Laden como solução, ao perfeito estilo de um gerente.
A Al-Qaeda queria criar um centro para melhorar os processos e garantir a eficiência da nova onda de voluntários.
"Enviaremos alguns irmãos inteligentes (...) para estudar nas universidades", diz o documento, que prevê uma nova geração de jihadistas com conhecimentos de computação, administração e ciência política.
A química é essencial, é claro, "para elaborar explosivos, que é algo que precisamos urgentemente", acrescenta o texto.
Os especialistas em comunicação também eram bem-vindos, uma vez que Bin Laden planejava uma campanha de relações públicas para marcar o décimo aniversário dos atentados de 11 de setembro de 2001, uma data que, no entanto, não chegou a presenciar.

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