quarta-feira, 27 de maio de 2015

EMPREGO: SIM, HÁ VAGAS





Há vagas para técnicos: Em ano de desemprego no País, empresas contratam mão de obra considerada escassa
                 








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Conquistar um emprego ou até manter-se na empresa em um ano de ajuste fiscal tem se tornado um verdadeiro desafio para qualquer brasileiro — de quem tem só ensino fundamental até o pós-graduado. Demissões em massa são cada vez mais frequentes e conseguir uma recolocação ficou mais difícil. O desemprego cresce a níveis alarmantes neste ano: a taxa de desocupação medida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) subiu para 6,4% em abril. O nível de desemprego é o maior desde março de 2011, quando ficou em 6,5%.
A indústria é um dos setores que sofrem com recuo no emprego. Em março, a queda foi de 0,6% — a 14ª queda consecutiva do emprego no setor.
Em um panorama nada otimista, contudo, sobram vagas em um segmento profissional fundamental para um país em desenvolvimento como o Brasil. Com um gap enorme entre oferta de trabalhadores e demanda das empresas que se arrasta por anos, os técnicos ainda são uma mão de obra escassa no País. Um estudo recente da consultoria ManPowerGroup revela que o Brasil é o quarto país, entre 42 nações, com mais dificuldades para contratação de mão de obra — e justamente o profissional que está mais em falta no mercado atual é o técnico. Segundo o estudo, 16% das vagas abertas no Brasil são para cargos técnicos específicos do setor da indústria.
"Nos últimos 20 anos, os jovens focaram nos cursos superiores e deixaram de considerar a formação técnica. Isso fez com que as empresas sofressem hoje com a falta desta mão de obra, mais especializada e técnica", analisa a diretora de Recursos Humanos da ManPowerGroup, Márcia Almström.
O professor Almério Melchíades de Araújo, coordenador de ensino médio e técnico do centro Paula Souza, lembra que a taxa de jovens com ensino técnico no Brasil ainda é baixa em relação aos outros países – até mesmo os que têm economias parecidas com a nossa. “Por aqui, apenas 7% dos jovens entre 16 e 20 anos fazem um curso técnico. Em outros países, como o Chile, a porcentagem de jovens com ensino técnico é de 45%”, compara o responsável por administrar 218 escolas técnicas estaduais (Etecs) e 64 faculdades de tecnologia (Fatecs) em São Paulo.
Um estudo encomendado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) ao Ibope reforça esse baixo índice de adesão ao ensino técnico. Apenas 6% dos jovens brasileiros de 16 a 24 anos estavam matriculados em cursos de educação profissionalizante em 2014. O País fica muito abaixo da média registrada pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) entre as 34 nações mais desenvolvidas, onde a porcentagem de matrículas no ensino técnico entre jovens de 15 a 24 anos é de 35%.

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Sim, há vagas de emprego
“Em época de pleno emprego, ter um curso técnico ou profissionalizante se torna menos relevante. Muitos aprendem na prática, no dia a dia e acabam deixando de lado uma formação profissional. Mas quando o desemprego aumenta, momento que estamos vivendo hoje, as pessoas sem formação são excluídas e a recolocação fica ainda mais difícil”, explica o professor Almério Melchíades, do centro Paula Souza. “As indústrias preferem reter profissionais especializados, pois esses são mais difíceis de encontrar no mercado.”
Segundo o gerente de estudos e prospectivas da CNI, Márcio Guerra, a taxa de empregabilidade de quem se forma nos cursos do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial ) é acima de 75%.
O diretor da escola de educação profissional Petrocenter, Samuel Pinheiro, afirma que são cada vez mais demandados técnicos que atuem principalmente em campo, onde os processos industriais se desenvolvem, normalmente nas fases de montagem, instalação de projetos e pequenas manutenções em oficinas e laboratórios.
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A oferta de vagas é alta também por causa da má distribuição dos profissionais pelo País, segundo Almério Melchíades. “São Paulo concentra, em média, 30% de pessoas com formação técnica. Outros estados e municípios com polo industrial sofrem com falta de mão de obra técnica.”
É o caso do Rio de Janeiro, com crescente demanda na indústria de petróleo, de Pernambuco, com fabricantes de equipamentos para transportes, com a chegada da Fiat, e de Minas Gerais, um grande centro siderúrgico e metalúrgico do País.
Mas não é só na atividade industrial que a demanda por técnicos persiste: há vagas também no setor de serviços — nas áreas de hotelaria, turismo, alimentação e nutrição — , de informática e de química.
“Estamos num momento de cautela na economia, mas as empresas não pararam [de contratar técnicos]. Não houve queda na demanda entre nossos clientes, mas sim uma falta de profissionais para determinados cargos”, avalia Ricardo Haag, diretor da Page Personnel, uma das maiores empresas globais de recrutamento especializado desse tipo de profissional.
A pedido do Brasil Post, a Page Personnel listou os cargos técnicos para os quais há mais dificuldade de encontrar candidatos. A remuneração para essas funções varia de R$ 3 mil a R$ 8 mil:
                    

   


O estigma da formação técnico-profissionalizante


Dados do Senai mostram que, nos últimos quatro anos, o número de alunos matriculados em cursos técnicos pulou de 2 milhões, em 2011, para 4 milhões em 2014. Mesmo assim, o número de interessados na formação técnica continua baixo (ver gráficos acima).
Na avaliação de Márcia Almström, diretora de RH da ManPowerGroup, há um estigma sobre a formação técnica:
"Culturalmente se criou uma imagem em torno do curso superior, como se fosse o único caminho para obter sucesso profissional. Por anos, o olhar do jovem foi direcionado ao ensino superior, especialmente, para cursos da área de Humanas. Não só faltam profissionais com formação técnica, como faltam profissionais das áreas de Exatas."
A média salarial dos profissionais técnicos recém-formados é de R$ 2,2 mil, Mas, com baixa oferta de profissionais para determinadas vagas, a remuneração pode aumentar consideravelmente para cerca de R$ 8 mil. “Alguns cargos muito específicas, como a de soldador subaquático, pode ter remuneração de R$ 15 mil”, conta Márcio Guerra, gerente de estudos da CNI.
Os salários também variam conforme a região e os segmentos da indústria. De acordo com o site de empregos Catho, áreas como Extração de Petróleo, Óleo e Gás e Academia e Esportes oferecem uma remuneração média de R$ 3 mil para quem acaba de concluir o curso. Um técnico em petróleo, por exemplo, recebe um salário médio de R$ 5.103.
As áreas com maior salário médio para profissionais recém-formados estão listadas a seguir:

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Problemas na produtividade do País
A escassez da formação técnico-profissionalizante vai muito além do poder de barganha dos profissionais. Ela mostra a fragilidade da produtividade do País.
“Para o Brasil dar um salto de produtividade – o que estamos precisando –, é necessário ter um esforço maior para criar um ambiente favorável. E a base para criar esse ambiente é avançar na educação”, conta Márcio Guerra, da CNI. Hoje, a população empregada brasileira tem um índice muito baixo de produtividade, atrás do Chile, Colômbia, Bolívia, Paraguai e Trinidad e Tobago, segundo o ranking mundial de qualificação de mão de obra divulgado pelo Fórum Econômico Mundial.
Almério Melchíades acrescenta que hoje as empresas não sustentam mais os salários dos profissionais:
“Estou longe de dizer que ganhamos muito, mas o crescimento da massa salarial não foi acompanhado pela expansão da infraestrutura, da tecnologia e da educação do brasileiro, o que resulta em uma má produtividade. A má qualidade da educação tira a competitividade."
"Não tenho dúvidas que, no contexto atual, o Brasil só se tornará um País desenvolvido quando expandir a indústria, o setor de serviços e a área técnica", ressalta Márcia Almström.
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Como se destacar neste ano de crise?
O perfil dos estudantes de cursos técnicos mudou consideravelmente nos últimos 20 anos. A faixa etária, até os anos 90, era de jovens de 15 a 20 anos, que faziam o curso junto com o ensino médio. Depois, essa formação começou a ser procurada por adultos, que trabalhavam durante o dia e buscavam aulas à noite.
Segundo Márcio Guerra, da CNI, atualmente a maioria dos alunos vem de escolas públicas e já tem Ensino Médio completo. “São jovens de 17 a 24 anos que buscam uma formação rápida para entrar no mercado de trabalho”, descreve.
Mas, será que aqueles que se formam estão em sintonia com o que o mercado busca?
“É preciso entender o que as empresas querem dizer quando falam sobre profissionais qualificados. Na maior parte das vezes, a qualificação vai muito além da formação profissional”, diz o gerente da CNI. Segundo ele, é ncessário propor soluções a partir dos conhecimentos técnicos e dominar outro idioma, principalmente o inglês técnico, uma vez que diversos equipamentos são adquiridos no exterior.
São exatamente essas qualidades em que as empresas estão de olho, segundo Ricardo Haag:
“Em época de ajustes fiscais, inflação alta e queda do consumo e produção, o empregador espera um profissional mais compromissado, que entenda a crise atual e ajude a solucionar problemas. Muitas empresas pedem também disponibilidade para viajar. Um profissional difícil de ser encontrado é o técnico de campo, por exemplo, que precisa viajar constantemente.”
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FONTE:

BRASIL POST


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