Jovem lança plataforma de investimento
para bancar painéis solares
Projeto aposta em investidores que escolhem ativo com base
em valores sociais
The New York
Times-| Peter DaSilva/The New York Times
Logo após o segundo ano na Universidade de Yale, em 2002, Billy
Parish viu que a geleira que alimenta o rio Ganges diminuía rapidamente na
Índia. Ele se convenceu de que estava frente a frente com a mudança climática e
que precisava fazer algo a respeito.
Não demorou muito tempo. Ao voltar aos Estados Unidos, ele começou
uma coalizão jovem que, em poucos anos, mobilizou milhares de pessoas com
preocupações ambientais similares. Ele nunca chegou ao terceiro ano da
faculdade.
Desde então, Parish chegou a outra conclusão: o capitalismo é uma
força poderosa que pode ser utilizada no combate ao aquecimento global. Agora,
aos 31 anos de idade, ele já está a meio caminho andado para colocar em prática
uma nova missão: construir uma plataforma de investimento em energia solar que
possa transformar gente comum em microfinanciadores.
Conhecida como Mosaic, a empresa funciona como um banco virtual de energias
renováveis, solicitando investimentos para projetos solares e fazendo
empréstimos que geralmente devem ser pagos após dez anos. A Mosaic recebe uma
taxa de cada empréstimo e funciona de forma similar a uma plataforma de
crowdfunding [ financiamento por meio de doações ] como o
Kickstarter, um site que liga empreendimentos criativos a apoiadores
financeiros. No caso da Mosaic, com um mínimo de US$ 25, os investidores já
podem receber algum lucro.
"Nosso objetivo é criar a plataforma de investimentos número 1 para energias
limpas", afirmou Parish. Ele acrescentou que a Mosaic permite que os
investidores "não sejam apenas consumidores passivos, mas criadores, donos e
colaborem para que as coisas aconteçam."
2.000 clientes
A empresa ainda está no começo. Cerca de 2.000 clientes e 44 estados
injetaram mais de US$ 4 milhões no financiamento de projetos desde que ela
começou a pedir dinheiro em janeiro deste ano, e está aberta em todo o país para
investidores autorizados – uma categoria que inclui certos indivíduos de grande
potencial financeiro – e, até o momento, o público geral de Nova York e da
Califórnia.
Ainda não se sabe se a Mosaic será capaz de colocar sua visão em prática, mas
a empresa tem boas chances de crescer, com a negociação de acordos que poderiam
permitir que os investidores usassem dinheiro de contas de aposentadoria. Isso,
ao lado de novas regulamentações financeiras que permitem um marketing mais
amplo para projetos de investimento, promete expandir drasticamente as fontes
potenciais de dinheiro para projetos solares, bem como para outros tipos de
energias renováveis que a empresa planeja desenvolver.
Embora essa seja uma das primeiras plataformas de crowdfunding focadas em
energia, a Mosaic se inspirou em outros empreendimentos online que deram aos
consumidores acesso mais direto a produtos e serviços. Financiar projetos de
tecnologias e startups limpas é algo perfeito pra esse tipo de abordagem,
afirmam seus apoiadores, uma vez que apenas um pequeno grupo de investidores tem
podido participar até o momento, dificultando e encarecendo o investimento.
"Todas essas plataformas são conhecidas como 'mercados' porque ajudam a
reunir populações, sejam homens e mulheres no Match.com [ site de
encontros ] ou bancos e mutuários no Lending Tree [ de comparação de
empréstimos ]", afirmou Judd Hollas, fundadora do EquityNet, que permite
investimento direto em empresas novatas como uma forma de plataforma de capital
de risco para as massas. "Era lógico presumir que a mesma coisa poderia e
deveria acontecer com investimentos em private equity."
Muitos acreditam que a abordagem da Mosaic esteja unindo projetos solares de
pequena escala, que são descentralizados por natureza, além de uma nova geração
que se sente confortável com a tecnologia.
"Em uma era de redes sociais e de experiências de mídia, criação de músicas
entre usuários e todos esses setores, tirar proveito dessa capacidade – unir
esse fenômeno distribuído e descentralizado – e aplicá-la para o financiamento
de uma fonte de energia que também foi criada em torno de uma arquitetura
distribuída é um grande plano", afirmou Danny Kennedy, fundador da empresa de
desenvolvimento solar Sungevity e membro da diretoria da Mosaic. "É por isso que
o crowdfunding faz tanto sentido. É um futuro distribuído."
Investimento e política
Ao mesmo tempo, muitos americanos têm mostrado um interesse
crescente em alinhar dinheiro e posicionamento político, especialmente entre
investidores mais jovens. Quase metade dos investidores da geração X com mais de
US$ 1 milhão de dólares escolhe seus investimentos com base em valores sociais,
de acordo com uma pesquisa recente feita pelo Spectrem Group, um grupo de
pesquisa em investimento.
Durante o colegial, Parish passou um semestre na Mountain School,
em Vermont, onde sua preocupação com "o que está acontecendo ao redor do
planeta" se cristalizou; em Yale, ele montou sua grade curricular com base no
desenvolvimento econômico sustentável e trancou a matrícula permanentemente para
começar a Coalizão de Ação pela Energia, que se descreve como "uma coalizão de
50 grupos de jovens com mentalidade ambiental e voltada para a justiça
social".
"Os jovens sempre estiveram na linha de frente de qualquer grande
movimento social da história e até aquele momento não havia praticamente nenhuma
participação de jovens nas questões relacionadas à mudança climática", afirmou.
Aos 21 anos, ele fazia a gestão de um orçamento de US$ 5 milhões de dólares e
de uma equipe de 89 pessoas nos Estados Unidos e no Canadá. Esse trabalho deu
origem a uma iniciativa que, segundo Parish, ajudou a inspirar o programa de
empregos verdes do presidente Barack Obama, além do livro "Making Good: Finding
Meaning, Money, and Community in a Changing World" (Fazendo Bem: Encontrando
Sentido, Dinheiro e Senso de Comunidade em um Mundo em Transformação, em
tradução livre), que escreveu ao lado de Dev Aujla, fundador da organização de
caridade DreamNow.
Todavia, foi o período em que passou trabalhando na Coalizão da Água de Black
Mesa, em Flagstaff, Arizona, a partir de 2007, que uniu a visão empresarial de
Parish com sua rede de contatos. Foi lá que ele trabalhou ao lado da esposa
Wahleah Johns para fechar usinas de carvão mineral que infectaram as fontes de
água potável da Nação Navajo.
Parish também se reaproximou de Dan Rosen, atual executivo-chefe da Mosaic,
que havia conhecido Parish enquanto buscava painéis solares para a escola onde
fazia ensino médio em Ridgewood, Nova Jersey, e tinha ido trabalhar em Black
Mesa após a graduação.
"Foi um daqueles momentos de revelação sobre o que viria a ser a Mosaic",
afirmou Rosen, referindo-se à discussão sobre o desenvolvimento da energia solar
como parte da transição após o fechamento das usinas de carvão mineral. Os
índios navajo afirmaram que "queriam ser donos dos projetos – queriam ser os
proprietários, queriam participar, queriam empregos e estavam até dispostos a
investir".
Com sede em Oakland, Califórnia, a Mosaic está tentando capitalizar nesse
desejo, encontrando e adaptando o máximo de projetos que sua equipe de 22
pessoas é capaz de fazer enquanto arrecada mais dinheiro para poder expandir as
operações.
A Mosaic faz empréstimos apenas para projetos que já têm acordos de venda
para a eletricidade que produzirão; em seguida, a empresa arrecada dinheiro de
investidores, que recebem em troca de 4% a 6% quando o empréstimo é quitado. A
empresa cobra uma taxa de 1% sobre cada investimento, além de um pequeno
percentual sobre cada empréstimo, que varia de acordo com o projeto.
Os projetos da empresa foram modestos até o momento; entre outros, há um
painel solar sobre o centro de empregos para jovens em Oakland, bem como no
centro de convenções de Wildwood, Nova Jersey, e nos apartamentos da moradia da
Universidade da Flórida, em Gainesville. Para seu projeto de maior proporção, a
empresa planeja ajudar a financiar a instalação de mais de 55.000 painéis
solares em mais de 500 casas militares em Fort Dix, Nova Jersey.
Os investidores afirmam que gostam de saber aonde o dinheiro está indo, ao
invés de comprar somente fundos mútuos.
"Assim parece que há uma história e o dinheiro é investido de forma muito
clara", afirmou Laura Deer Moore, diretora de um banco comunitário que conheceu
a Mosaic porque queria investir seu pequeno plano de previdência de forma
"consciente", segundo ela, e estava tendo dificuldades para encontrar uma forma
de fazer isso. "Há uma missão muito bem definida e gosto disso."
Criador do PivotPlanet concluiu que é importante testar a
nova profissão antes de mergulhar de cabeça na carreira ou negócio desejado
NYT|
Deus escreve certo por linhas tortas. Na primavera de 2011, Gerry
Owen, pastor assistente de uma megaigreja em Garland, Texas, estava lendo os
comentários deixados pelos fiéis em uma caixa da igreja após o culto de domingo.
Ele deparou com um cartão de um fiel que era proprietário da Generator Coffee, a
cafeteria onde Owen, de 55 anos, e a segunda esposa, Melissa, haviam se casado
alguns meses antes.
"O cartão dizia: 'Reze por mim, preciso vender minha cafeteria'",
recordou Owen. Quando contavam a história, ele e Melissa estavam sentados no
Cafe Brazil, uma cafeteria em Plano, Texas – nem a que pedia orações, nem a que
Melissa estava planejando abrir.
"Então li o cartão e perguntei a Melissa: 'Será que damos conta de fazer
isso?'"
Ou seja, será que Gerry, que antes de se tornar pastor havia passado a vida
toda trabalhando em uma Frito-Lay, e a esposa, enfermeira cirúrgica, poderiam
comprar a cafeteria? Afinal, eles faziam questão que o local onde haviam se
casado fosse bem sucedido.
Os Owens pensaram sobre comprar o nome e revitalizar os negócios,
mas quanto mais pensavam, mas percebiam que não tinham a menor ideia de como ser
donos de uma cafeteria. Por isso, eles entraram na internet e descobriram um
site chamado PivotPlanet, que desde 2003 reúne pessoas interessadas em mudar de
carreira e as ensina a dar os primeiros passos.
No site, eles conheceram Duncan Goodall, proprietário do Koffee on
Audubon, que desde 1993 era o ponto de referência do bairro artístico de Audubon
Street, em New Haven, Connecticut. Por cerca de 1.000 dólares cada, os Owens
poderiam seguir Goodall na loja durante dois dias e receber dicas sobre
praticamente tudo: de como escolher a máquina de café espresso certa, a como
ganhar dinheiro com os pãezinhos que não fossem vendidos. Eles toparam,
compraram as passagens de avião e, em setembro de 2011, viajaram até New Haven
para dois dias inteiros na Escola Duncan.
A primeira coisa que Goodall fez foi convencer os Owens a não
comprar o Generator, afirmando que esse não seria o investimento correto para
eles. Contudo, ao final de seu curto aprendizado em New Haven, os Owens chegaram
à conclusão de que ainda estavam empolgados com a ideia de abrirem o próprio
café.
"Oramos muito", afirmou Melissa Owen. "Gerry me ensinou tanto sobre como ser
paciente. Quando estava no ministério, ele sempre dizia: 'Ei, agora está nas
mãos de Deus'." Eles desistiram de comprar o Generator, que agora tem um novo
dono, mas continuaram a buscar novas possibilidades.
E graças ao PivotPlanet, agora eles têm duas estrelas guias, Deus e Duncan
Goodall. "Ainda consigo ouvi-lo dizendo", afirmou Gerry Owen, referindo-se a
Goodall, não a Deus. "As ideias dele ainda reverberam."
Melissa Owen concordou, acrescentando: "Como o Duncan colocaria o balcão?
Suas palavras ainda nos guiam todos os dias."
Brian Kurth teve a ideia daquilo que se tornaria o PivotPlanet em 2001,
quando tinha 34 anos e havia acabado de deixar o emprego como executivo de
telecomunicações, tentando descobrir o que fazer com a vida dali em diante.
"Queria ver se o mar dava pé e pensei e me tornar proprietário de uma creche
para cachorros”, afirmou Kurth. Então, ele acompanhou o dono de uma creche local
durante três dias. Foi um exercício muito interessante.
"Percebi que não queria recolher cocô o dia inteiro", afirmou Kurth. E foi
daí que ele tirou a ideia "de que é importante testar seu emprego dos sonhos
antes de mergulhar de cabeça".
Assim, em 2003 ele abriu a VocationVacations, uma empresa que reunia pessoas
que queriam mudar de carreira, com gente que já fazia aquilo que tinham em
mente. Kurth afirmou que foi um pioneiro na transformação de "tutorias em um
produto para o consumidor", embora tenha sido rapidamente imitado por empresas
similares, como a Skillshare e a MentorMob.
Mais tarde, Kurth refinou a ideia e incluiu programas de tutoria por Skype,
algo que a maior parte dos clientes usa antes de agendar uma viagem – na
verdade, como uma forma de testar o tutor que os ajudará a experimentar a
carreira.
Durante algum tempo, Kurth teve dois sites: o VocationVacations para viagens,
e o PivotPlanet para tutorias por Skype e telefone. Em janeiro deste ano, quando
mudou a empresa de Portland, Oregon, para Austin, Texas, ele unificou ambos os
serviços sob a marca PivotPlanet. Também abriu a Pivot Enterprise, uma
plataforma de negócios que as empresas utilizam para realizar tutorias
in-company para funcionários que desejem tentar uma nova vaga na mesma
empresa.
Kurth não informou o faturamento preciso, nem usou números ao se referir à
empresa, que é particular, mas afirmou que ao longo da última década ajudou
"dezenas de milhares" de pessoas que aspiravam mudar de carreira. (Esse número
inclui pessoas que participaram de oficinas e quem comprou seu livro "Test-Drive
Your Dream Job".)
O PivotPlanet possui tutores em cerca de 200 áreas de atuação, de
acupunturistas a terapeutas de cães, passando por apresentadores de televisão.
Você deseja ser meteorologista? Paul Cousins, de Portland, Maine, dará conselhos
via Skype por US$ 84 por hora. Quer ser vinicultor? O site conta com quatro
tutores. Está interessado em se tornar um "pequeno construtor"? Brad Kittel, em
Luling, Texas, mostra como fazer isso.
Alguns dos tutores são surpreendentemente famosos. Por US$ 130 a
hora, um aspirante a escritor pode receber a tutoria de Ethan Watters,
jornalista e autor do livro "Urban Tribes" (Tribos Urbanas, em tradução livre),
publicado em 2004. Clique em "DJ" no PivotPlanet e poderá falar com Cut Chemist
por US$ 180 a hora. Ele era um dos membros do grupo de rap Jurassic 5, e suas
músicas tocaram em comerciais da Apple e no filme "Amor Sem Escalas".
Há também o item "dono de cafeteria", com apenas um nome na lista: Duncan
Goodall, de New Haven, por 180 dólares a hora.
"A grana é boa, mas essa não é a verdadeira razão para que eu faça isso",
afirmou Goodall, de 41 anos, quando o visitei no Koffee on Audubon. "Gosto de
ensinar e, em um nível filosófico mais profundo, acredito que as pessoas são
mais livres e felizes quando são donas do próprio negócio".
Goodall tem a atitude de quem se livrou do azar: afinal, sua empresa o
salvou. Depois de se formar em Yale em 1995, ele entrou para a Bases, uma
divisão da Nielsen que oferece consultoria e previsão para novos produtos.
Depois de seis anos, ele foi para outra empresa de consultoria e continuava se
sentindo sobrecarregado e triste.
"Estava me transformando em um babaca grande e gordo, tanto literal, quanto
figuradamente", afirmou Goodall. "Não dava mais pra viver daquele jeito." No
verão de 2002, Goodall estava no Koffee, como a cafeteria é conhecida, bem em
frente ao campus de Yale. Ele costumava frequentar o lugar quando ainda estava
na graduação.
"Estava olhando em volta e pensando: 'Santo Deus, esse lugar já viu dias
muito melhores'. O ambiente estava sujo e o café com um gosto horrível. Os
funcionários eram mal educados e grosseiros com os clientes".
Ainda assim, havia um número surpreendente de clientes ali dentro. Goodall
encontrou o dono e perguntou se ele estaria pensando em vendê-lo. "E ele disse:
'Na verdade, coloquei o café a venda há dois meses'."
Não existem dados confiáveis sobre a frequência com a qual os americanos
mudam de carreira, mas o número certamente está crescendo, seja porque a
recessão agitou o mercado de trabalho, ou porque muitas pessoas desempregadas
não conseguiram mais encontrar empregos semelhantes ao que faziam antes. Além
disso, há o crescimento de profissões como consultoria, que muitos profissionais
– assim como Goodall – abandonam depois de aprender uma série de habilidades que
pode utilizar em outro contexto.
Goodall comprou o Koffee, começou a reformá-lo e, logo em seguida, deixou o
emprego como consultor e reabriu a cafeteria em janeiro de 2003. Em quatro meses
ele começou a lucrar com uma empresa que estava dando US$ 2 mil de prejuízo por
mês. Ele abriu duas outras cafeterias na cidade – ambas faliram, ao passo que a
Koffee original continuou de vento em popa e agora conta com 16
funcionários.