terça-feira, 26 de julho de 2011

Biotecnologia, um setor formado por pequenas e jovens empresas

Estudo mapeou 237 companhias, 85% delas com até 50 empregados, 65% criadas após 2000 e 76% com receita até R$ 2,4 milhões


Marina Gazzoni e Pedro Carvalho, iG São Paulo 26/07/2011 05:07


Nos corações de mais de 3 mil brasileiros já está implantado o primeiro “stent” feito totalmente no País. O produto foi desenvolvido pela Innovatech, fabricante de pequenas próteses que impedem o entupimento de artérias coronárias. “O stent brasileiro cria uma cadeia de desenvolvimento nacional. E o nosso produto é significativamente mais barato que os americanos e europeus”, afirma Allan Bereczki, responsável pelo desenvolvimento e controle de qualidade da Innovatech. Mas, apesar do pioneirismo tecnológico, a empresa possui somente seis funcionários e fica numa sala de 55 metros quadrados.



A Innovatech é uma típica empresa de biotecnologia brasileira. Um estudo divulgado neste mês pela Associação Brasileira de Biotecnologia (BrBiotec) aponta que 85% das empresas são de pequeno porte e têm menos de 50 empregados. O setor é formado por companhias jovens, a maioria delas (65%) criada a partir do ano 2000. Mais da metade fatura até R$ 2,4 milhões, o teto para participar do Simples Nacional, categoria especial para tributação de micro e pequenas empresas brasileiras. E um quinto das companhias ainda não gera receita.


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A BrBiotec conseguiu mapear 237 companhias brasileiras de biotecnologia. “É possível que algumas tenham ficado de fora do estudo, mas esse número certamente não passa de 300. O importante é que identificamos um perfil”, afirma Fernando Kreutz, presidente da associação.



O levantamento deixou evidente que o empreendedorismo no ramo de biotecnologia floresce próximo ao ambiente acadêmico. Quase todas as empresas (94,5%) mantêm parcerias com universidades ou institutos de pesquisa.



Nesse setor, é comum que empresas nasçam a partir de uma iniciativa empreendedora de cientistas. “Muitos pesquisadores saem do ambiente acadêmico com a intenção de montar empresas, mas esbarram na falta de recursos e conhecimento de gestão”, diz Kreutz. São nas incubadoras (espaço de apoio para empresas tecnológicas nascentes) que eles encontram assessoria para viabilizar os projetos.



Metade das empresas mapeadas pela BrBiotec é ou foi uma incubada. Existem 13 incubadoras no Brasil com projetos relacionados à biotecnologia, segundo o levantamento da associação. O maior polo é o de São Paulo, onde estão 40% das empresas. Em seguida estão Minas Gerais (24,5%), Rio de Janeiro (13,1%), Rio Grande do Sul (8%) e Pernambuco (4,2%).



Foi no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia da USP (Cietec), em São Paulo, que a Zelus, a primeira companhia a fabricar remédios transdérmicos do País, encontrou espaço para se desenvolver. A Zelus faturou R$ 400 mil no ano passado e deve fechar 2011 com aproximadamente R$ 1 milhão em vendas – e ela ainda está na fase de incubação.



Ativos intangíveis

Mais do que a receita, são os ativos intangíveis que agregam valor às companhias biotecnológicas. A gaúcha FKBiotec, por exemplo, têm valor contábil de R$ 4 mil para suas patentes. Mas o valor de pesquisas com vacinas da empresa, que inclui medicamentos para câncer de próstata e tuberculose, foi estimado por investidores canadenses em US$ 56 milhões (cerca de R$ 87 milhões). O registro de patentes é comum nesse segmento e foi solicitado por 40% das empresas de biotecnologia brasileiras.



As pesquisas, em geral, são financiadas com dinheiro público. Quase 80% das empresas ouvidas pela BrBiotec captaram recursos em instituições como Finep, BNDES, agências de fomento estatais e CNPQ.



Apesar do alto índice de utilização de linhas de crédito estatais, a BrBiotec diz que o apoio ainda é insuficiente. Com o raio-X do setor em mãos, a empresa deve negociar uma agenda positiva com o governo para desenvolver as empresas de biotecnologia no Brasil.



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FONTE: IG ECONOMIA - EMPRESAS

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