Os 60 mais poderosos
Luiza, a dama do varejo brasileiro
Os 60 mais poderosos do país
Luiza Trajano
Influência
Luiza Trajano
Uma das mulheres mais poderosas do País, ela conduz um
grupo de cerca de 800 lojas e transita com tranquilidade entre clientes que
reclamam da torradeira e o Palácio do Planalto
Quando recebeu o convite para assumir o Ministério da
Micro e Pequena Empresa, Luiza Helena Trajano se aconselhou com pessoas
próximas. Uma delas já havia ocupado um importante ministério e disse à amiga:
"Só vá para Brasília se garantirem uma boa estrutura de trabalho, que você não
ficará em uma salinha com uma equipe de meia dúzia de pessoas". O tempo passou,
o convite caiu no esquecimento. Hoje, a julgar pela quase nula
representatividade do ministério e pelo sinuoso rumo que o cargo tomou ao ser
entregue ao vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, pode-se dizer
que a intuição de Luiza Helena, que não se entusiasmou com a proposta de colocar
os pés na política, falou mais alto. Aliás, como quase sempre.
O instinto e o tino comercial – expressão tirada do tempo em que a menina de 12 anos aproveitava suas férias escolares para ficar no balcão da loja da família – são marcas registradas da mulher que transformou o Magazine Luiza em uma das maiores redes varejistas do País. Luiza Helena é uma empresária à moda antiga – ou, ao menos, faz de tudo para parecê-lo. Mesmo depois de duas décadas no comando da companhia, preserva velhos hábitos, como visitar as lojas e trocar dois dedos de prosa com clientes e funcionários – aos quais pede para ser chamada simplesmente de Luiza. Como dizia Kant, todo o conhecimento começou com intuições.
A trajetória de Luiza Helena Trajano se confunde com a do próprio Magazine Luiza. Confunde-se tanto que é comum e quase automático se imaginar que ela é a Luiza que dá nome à rede. Na verdade, o batismo do magazine foi uma homenagem a sua tia, de quem herdou o nome. Luiza Trajano Donato e seu marido, Pelegrino José Donato, fundaram a empresa a partir de uma pequena loja de eletrodomésticos e móveis sediada em Franca, no interior paulista, comprada ainda na década de 1950.
Convocação em um bilhete
Luiza Helena Trajano começou a trabalhar efetivamente na rede varejista aos 18 anos de idade. Cumpriu a trajetória padrão do empresário-herdeiro: passou por todos os departamentos da companhia até chegar à superintendência. Nesse momento, seu caminho já estava traçado. Bastava apenas a formalização. Ela veio em 1991, de forma pouco usual. Por meio de um bilhete, Luiza Helena foi avisada pela tia de que chegara a hora de assumir o comando da companhia. A convocação foi prontamente aceita.
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Atualmente, Luiza Helena não está sozinha à frente da orquestra. Em abril de 2009, decidiu profissionalizar a gestão e dividir com o executivo Marcelo Silva a missão de reger os cerca de 23 mil funcionários e as quase 800 lojas da empresa. Bem, “dividir a regência” talvez não seja a expressão mais correta. Silva fica com as matinês e a overture de um ou outro concerto principal. Mas a batuta permanece grudada à mão de Luiza Helena, primeira e única, responsável por todos os arranjos da sinfonia estratégica da rede varejista. O discurso oficial, é bem verdade, caminha na direção oposta. A empresária costuma hastear a bandeira da gestão descentralizada e da partilha de poderes. Só se for no terreno do vizinho, dizem executivos que trabalharam com Luiza Helena. De fato, a prática não parece disposta a corroborar a teoria. A defesa da desconcentração administrativa soa paradoxal quando entoada por uma empresária que checa prateleiras de lojas, aprova pessoalmente cada campanha publicitária e cuida diretamente do Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) da rede varejista. Não raramente, Luiza Helena passa horas respondendo, ela própria, e-mails de consumidores. “Não posso perder contato com as demandas das pessoas”, costuma justificar. Não por acaso, há quem diga no setor que a companhia deveria se chamar “Magazine da Luiza”.
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Lucro do Magazine Luiza sobe mais de duas vezes em um ano
Magazine Luiza vende parte de depósito a fundo imobiliário
Não obstante a rotina de quem, numa mesma manhã, autoriza um investimento de milhões de reais e, poucos minutos depois, providencia, pessoalmente, a troca da torradeira defeituosa de um cliente insatisfeito, Luiza Helena ainda mantém uma intensa agenda de palestras. Suas apresentações, na maioria das vezes, vão para a estante da autoajuda corporativa. A CEO do Magazine Luiza tem especial predileção por temas como a importância da mulher no universo empresarial (“Temos mais sensibilidade, intuição e espírito de servir, atributos indispensáveis para o sucesso dos negócios”), o relacionamento com colaboradores (“Toda a organização deve enxergar o funcionário como um empreendedor”) e o atendimento ao cliente (“Trate sempre os outros da maneira como você deseja ser tratado”). Tem por hábito também exortar os valores patrióticos que “toda a empresa deve manter”, ao menos às segundas-feiras, dia em que o Hino Nacional é executado no início do expediente em todas a unidades da rede varejista.
Festa além do interior
Luiza Helena Trajano ancora tantas lições em seu notório saber. Sob a gestão da empresária, o Magazine Luiza deixou de ser uma empresa confinada ao interior de São Paulo e de Minas Gerais para se tornar uma rede nacional, com operação em 16 Estados. A expansão foi resultado de uma política de aquisições que atingiu o ápice na primeira metade da década passada. Em 2003, Luiza Helena comprou as lojas Líder, de Campinas (SP), e a Wanel, de Sorocaba (SP). Em 2004, finalmente fincou sua bandeira no Sul do País com a incorporação em sequência das redes Arno, do Rio Grande do Sul, e Base, Kilar e Madol com lojas no Paraná em Santa Catarina. Paralelamente, Luiza Helena tocou a construção de centros de distribuição em várias regiões do País. Em 2008, a empresária concretizou um de seus maiores projetos: a entrada da rede varejista na cidade de São Paulo. Em 2010, voltou às compras e botou no bolso a paraibana Lojas Maia. No ano seguinte, fechou a aquisição das Lojas do Baú.
Mas nem tudo são flores nos canteiros de Luiza Helena Trajano. Apesar de todo o ímpeto expansionista, a empresária não chegou nem perto dos grandes movimentos feitos por seus principais competidores, leia-se, notadamente, a compra da Casas Bahia, em 2009, pelo Pão de Açúcar, e a fusão entre Ricardo Eletro e Insinuante, anunciada no ano seguinte. Está difícil acompanhar o galope da concorrência. No ano passado, o Magazine Luiza faturou cerca de R$ 7,7 bilhões, um número altamente respeitável. Mas ficou atrás da Máquina de Vendas (Ricardo Eletro/Insinuante), com vendas acima de R$ 8,5 bilhões, e a léguas de distância da ViaVarejo (Ponto Frio/Casas Bahia), que fechou 2012 com uma receita próxima a R$ 23 bilhões.
É neste cenário de concorrência cada vez mais acirrada que Luiza Helena Trajano enfrenta hoje um de seus maiores desafios empresariais: anabolizar a rentabilidade do Magazine Luiza. O desempenho recente da companhia é um tributo às avessas à trajetória de Luiza Helena. Em 2011, a rede varejista já havia registrado um resultado esquálido: apenas R$ 11 milhões de lucro, ou o equivalente a 0,2% de retorno sobre a receita. No ano passado, a situação ficou ainda pior: a companhia teve perdas de R$ 6 milhões. Os funcionários do Magazine Luiza já perceberam: em períodos como este, um poucos mais duros de atravessar, o número de imagens religiosas na sala de Luiza Helena costuma crescer.
Integrante do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), constantemente citada como uma das mulheres mais influentes do País e “quase ministra” no passado recente, Luiza Helena diz que não faz política. Depende por onde se olha. Numa mesma conversa, por mais reservada que seja, é capaz de fazer elogios à Dilma Rousseff e tecer loas a Geraldo Alckmin. É mais política, portanto, do que o próprio Afif Domingos, seu “sucessor” no Ministério.
O instinto e o tino comercial – expressão tirada do tempo em que a menina de 12 anos aproveitava suas férias escolares para ficar no balcão da loja da família – são marcas registradas da mulher que transformou o Magazine Luiza em uma das maiores redes varejistas do País. Luiza Helena é uma empresária à moda antiga – ou, ao menos, faz de tudo para parecê-lo. Mesmo depois de duas décadas no comando da companhia, preserva velhos hábitos, como visitar as lojas e trocar dois dedos de prosa com clientes e funcionários – aos quais pede para ser chamada simplesmente de Luiza. Como dizia Kant, todo o conhecimento começou com intuições.
"A gente não era convidado para nada e não tinha uma voz lá
dentro [do governo]. Os bancos brigam entre si, mas têm um órgão forte. Nós
precisamos de união, somos o maior empregador do Brasil"
A trajetória de Luiza Helena Trajano se confunde com a do próprio Magazine Luiza. Confunde-se tanto que é comum e quase automático se imaginar que ela é a Luiza que dá nome à rede. Na verdade, o batismo do magazine foi uma homenagem a sua tia, de quem herdou o nome. Luiza Trajano Donato e seu marido, Pelegrino José Donato, fundaram a empresa a partir de uma pequena loja de eletrodomésticos e móveis sediada em Franca, no interior paulista, comprada ainda na década de 1950.
Convocação em um bilhete
Luiza Helena Trajano começou a trabalhar efetivamente na rede varejista aos 18 anos de idade. Cumpriu a trajetória padrão do empresário-herdeiro: passou por todos os departamentos da companhia até chegar à superintendência. Nesse momento, seu caminho já estava traçado. Bastava apenas a formalização. Ela veio em 1991, de forma pouco usual. Por meio de um bilhete, Luiza Helena foi avisada pela tia de que chegara a hora de assumir o comando da companhia. A convocação foi prontamente aceita.
Leia também:
Entenda o ranking Os 60 mais poderosos do País
Confira o ranking Os 60 mais poderosos do País
Atualmente, Luiza Helena não está sozinha à frente da orquestra. Em abril de 2009, decidiu profissionalizar a gestão e dividir com o executivo Marcelo Silva a missão de reger os cerca de 23 mil funcionários e as quase 800 lojas da empresa. Bem, “dividir a regência” talvez não seja a expressão mais correta. Silva fica com as matinês e a overture de um ou outro concerto principal. Mas a batuta permanece grudada à mão de Luiza Helena, primeira e única, responsável por todos os arranjos da sinfonia estratégica da rede varejista. O discurso oficial, é bem verdade, caminha na direção oposta. A empresária costuma hastear a bandeira da gestão descentralizada e da partilha de poderes. Só se for no terreno do vizinho, dizem executivos que trabalharam com Luiza Helena. De fato, a prática não parece disposta a corroborar a teoria. A defesa da desconcentração administrativa soa paradoxal quando entoada por uma empresária que checa prateleiras de lojas, aprova pessoalmente cada campanha publicitária e cuida diretamente do Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) da rede varejista. Não raramente, Luiza Helena passa horas respondendo, ela própria, e-mails de consumidores. “Não posso perder contato com as demandas das pessoas”, costuma justificar. Não por acaso, há quem diga no setor que a companhia deveria se chamar “Magazine da Luiza”.
Leia também:
Unido, varejo prevê que década será de formalização
Luiza Trajano, do balcão das lojas a ministra do Governo
Lucro do Magazine Luiza sobe mais de duas vezes em um ano
Magazine Luiza vende parte de depósito a fundo imobiliário
Não obstante a rotina de quem, numa mesma manhã, autoriza um investimento de milhões de reais e, poucos minutos depois, providencia, pessoalmente, a troca da torradeira defeituosa de um cliente insatisfeito, Luiza Helena ainda mantém uma intensa agenda de palestras. Suas apresentações, na maioria das vezes, vão para a estante da autoajuda corporativa. A CEO do Magazine Luiza tem especial predileção por temas como a importância da mulher no universo empresarial (“Temos mais sensibilidade, intuição e espírito de servir, atributos indispensáveis para o sucesso dos negócios”), o relacionamento com colaboradores (“Toda a organização deve enxergar o funcionário como um empreendedor”) e o atendimento ao cliente (“Trate sempre os outros da maneira como você deseja ser tratado”). Tem por hábito também exortar os valores patrióticos que “toda a empresa deve manter”, ao menos às segundas-feiras, dia em que o Hino Nacional é executado no início do expediente em todas a unidades da rede varejista.
Festa além do interior
Luiza Helena Trajano ancora tantas lições em seu notório saber. Sob a gestão da empresária, o Magazine Luiza deixou de ser uma empresa confinada ao interior de São Paulo e de Minas Gerais para se tornar uma rede nacional, com operação em 16 Estados. A expansão foi resultado de uma política de aquisições que atingiu o ápice na primeira metade da década passada. Em 2003, Luiza Helena comprou as lojas Líder, de Campinas (SP), e a Wanel, de Sorocaba (SP). Em 2004, finalmente fincou sua bandeira no Sul do País com a incorporação em sequência das redes Arno, do Rio Grande do Sul, e Base, Kilar e Madol com lojas no Paraná em Santa Catarina. Paralelamente, Luiza Helena tocou a construção de centros de distribuição em várias regiões do País. Em 2008, a empresária concretizou um de seus maiores projetos: a entrada da rede varejista na cidade de São Paulo. Em 2010, voltou às compras e botou no bolso a paraibana Lojas Maia. No ano seguinte, fechou a aquisição das Lojas do Baú.
Mas nem tudo são flores nos canteiros de Luiza Helena Trajano. Apesar de todo o ímpeto expansionista, a empresária não chegou nem perto dos grandes movimentos feitos por seus principais competidores, leia-se, notadamente, a compra da Casas Bahia, em 2009, pelo Pão de Açúcar, e a fusão entre Ricardo Eletro e Insinuante, anunciada no ano seguinte. Está difícil acompanhar o galope da concorrência. No ano passado, o Magazine Luiza faturou cerca de R$ 7,7 bilhões, um número altamente respeitável. Mas ficou atrás da Máquina de Vendas (Ricardo Eletro/Insinuante), com vendas acima de R$ 8,5 bilhões, e a léguas de distância da ViaVarejo (Ponto Frio/Casas Bahia), que fechou 2012 com uma receita próxima a R$ 23 bilhões.
É neste cenário de concorrência cada vez mais acirrada que Luiza Helena Trajano enfrenta hoje um de seus maiores desafios empresariais: anabolizar a rentabilidade do Magazine Luiza. O desempenho recente da companhia é um tributo às avessas à trajetória de Luiza Helena. Em 2011, a rede varejista já havia registrado um resultado esquálido: apenas R$ 11 milhões de lucro, ou o equivalente a 0,2% de retorno sobre a receita. No ano passado, a situação ficou ainda pior: a companhia teve perdas de R$ 6 milhões. Os funcionários do Magazine Luiza já perceberam: em períodos como este, um poucos mais duros de atravessar, o número de imagens religiosas na sala de Luiza Helena costuma crescer.
Integrante do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), constantemente citada como uma das mulheres mais influentes do País e “quase ministra” no passado recente, Luiza Helena diz que não faz política. Depende por onde se olha. Numa mesma conversa, por mais reservada que seja, é capaz de fazer elogios à Dilma Rousseff e tecer loas a Geraldo Alckmin. É mais política, portanto, do que o próprio Afif Domingos, seu “sucessor” no Ministério.
FONTE: IG POLÍTICA
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