segunda-feira, 18 de maio de 2015

VEJA: REDUÇÃO RADICAL DO LIXO

 


Um ano sem lixo:

Designer narra em blog

mudança de hábitos para

reduzir radicalmente

o lixo que produz



CRISTAL
Reprodução/Instagram






Você já parou para pensar em quanto lixo produz todos os dias? O copo descartável de café, o sachê de açúcar, a embalagem que envolve seu lanche...


Inspirada pelo blog Trash is for Tossers, da americana Lauren Singer, Cristal Muniz resolveu se propor um desafio: produzir o mínimo de lixo possível.


“Quando vi o blog fiquei meio curiosa sobre ‘como assim ela não produz lixo, que história é essa?’”, conta a designer, que vive em Florianópolis (SC).
“Ela é super cool, vive no Brooklyn, nada a ver com esse estereótipo hippe e eco que muita gente tem. Achei sensacional. Devorei o blog dela no mesmo dia, e resolvi fazer uma busca na internet para ver o que eu achava e poderia usar no Brasil.”
Cristal conta que a busca foi uma boa surpresa, e que encontrou por aqui uma grande quantidade de produtos 100% biodegradáveis.





“O que não achei de jeito nenhum é um sabão feito à base de azeite de oliva, que pode ser usado para fazer tudo: desde lavar o cabelo até a louça. A opção de sabão vegetal que temos por aqui é o de coco.”
Além de mudar de hábitos, Cristal resolveu narrar a transição no blog Um ano sem lixo. Criado no final de 2014, o espaço é um serviço para outras pessoas interessadas em reduzir o consumo e, consequentemente a produção de lixo em suas vidas. Cristal conta que o blog também acaba sendo um espaço para trocas e dicas vindas de leitores.






Por onde começar?


Cristal conta que, definida a meta de produzir cada vez menos lixo, precisou observar sua rotina como um todo. A designer conta que lançou para si mesma algumas perguntas fundamentais:
O que eu faço?
O que eu compro?
O que eu desperdiço?

“Uma das primeiras mudanças foi passar a comprar muito menos comida, apenas o que eu vou cozinhar. Quando abri as gavetas e os armários da minha cozinha, me dei conta de que muita coisa estava fora do prazo de validade, e teria que ser jogada fora. O coletor menstrual também foi uma das primeiras coisas que comprei, e me adaptei super bem. Além disso, outras coisas como shampoo, desodorante e condicionador em barra.”
Cristal também precisou “destralhar”, ou seja, se livrar de tudo aquilo que não é usado. “Esse é um processo cíclico de olhar tudo o que você está fazendo e onde pode reduzir”.
Até a rotina de sua gata, Nina, foi adaptada: a caixinha ganhou material biodegradável, em vez da tradicional areia encontrada nos mercados.





Dificuldades
“O que é mais difícil são as situações de emergência: quando eu não estou em casa ou quando saio meio despreparada.”
Desde o começo do ano, Cristal sai de casa com o que chama de “arsenal”: um copo ou um pote de vidro (que cumpre o papel de copo), talheres e hashi (para evitar o uso de descartáveis), um guardanapo de pano (para pegar itens que seriam embalados em papel, por exemplo) e uma sacola de pano.
arsneal
“Se eventualmente eu esqueço alguma coisa dessas, fica mais difícil.”
Ela conta que ainda não encontrou solução para duas questões cotidianas em sua vida: o descarte correto do papel higiênico e a depilação.
“No Brasil, não é possível jogar o papel higiênico no vaso sanitário, pois o resíduo não será tratado adequadamente. Também não se pode colocar na composteira, pelo risco de contaminação. Esse é um dos únicos lixos que eu ainda ‘descarto errado’, por não ter descoberto nenhuma alternativa.”
A depilação, segundo Cristal, também se torna um problema: a cera quente, popular entre as brasileiras, não é reciclável, assim como a maioria das lâminas de barbear. Essa questão, no entanto, parece estar mais perto de ser resolvida: a designer pretende testar uma receita de cera caseira com açúcar e limão – que derrete em contato com a água – ou comprar uma lâmina 100% de metal.
“Também tem as coisas que são difíceis porque são inevitáveis, como lâmpadas, por exemplo.”



Piloto automático
“Eu estou um pouco mais alerta, mas já me acostumei e nem penso mais sobre isso.”
Segundo Cristal, a mudança no seu estilo de vida não foi radical. Ela conta que segue fazendo as mesmas coisas.
“Minha dieta já não incluía congelados, enlatados e muitos produtos que vêm em embalagem, então não foram hábitos muito difíceis de mudar.”
Isopor – que não é reciclado em Santa Catarina – e embalagens longa-vida também estão fora da sua lista de compras, que conta do que sente falta da sua “vida pregressa”: “água de coco em caixinha e cogumelo, que aqui em Floripa só vende em bandeja de isopor”.






Economia?


Segundo Cristal, produzir menos lixo fez com que ela adquirisse produtos ecologicamente corretos e funcionais.
“Eu compro o vinagre e uso para várias coisas. Nos produtos de limpeza, por exemplo, eu economizo absurdos. Ralo sabão de coco e misturo com bicarbonato de sódio para fazer sabão em pó. Também uso bicarbonato – que também serve como desodorante - eu uso misturado com óleo de coco como pasta de dentes. O vinagre eu uso como desinfetante e amaciante.”

Além da economia, Cristal conta que “parou de comprar desesperadamente”.
“As coisas individualmente até podem sair mais caro, mas duram muito mais, então acaba compensando. Um shampoo em barra dura quatro meses, o que dá um gasto de R$ 10 por mês. Além disso, esse produto é menos agressivo, então eu acabo dispensando o condicionador.”



Políticas Públicas


Para Cristal, o fato de morar em uma cidade como Florianópolis foi um fator importante na hora de produzir menos lixo.
“Aqui tem muita loja de produtos orgânicos e a granel, feiras e também muitas pessoas que pensam mais nesse sentido ecofriendly”.
Além disso, a cidade é uma das melhores capitais em termos de coleta seletiva no Brasil.

De acordo com dados da Prefeitura Municipal de Florianópolis a coleta seletiva atualmente corresponde a 6,5% do total de resíduos coletados na capital catarinense. Os roteiros atendem a 100% dos bairros da cidade e cerca de 90% dos domicílios.
“Onde não há condições de coleta porta-a-porta, pelas características geográficas e nas áreas de interesse social, os moradores levam os materiais recicláveis até rua mais próxima, onde passa roteiro da coleta seletiva. Esse deslocamento, em geral, não é superior a um quilômetro.”
Cerca de 30% dos resíduos orgânicos e 43% dos resíduos recicláveis secos devem ser reciclados neste ano. A meta, no entanto, é ambiciosa: a prefeitura espera reciclar 24 mil toneladas de lixo seco em 2015. No ano passado, 12 mil toneladas de lixo seco foram reciclados.
“Florianópolis é a quarta capital brasileira em coeficiente de resíduo reciclado, pelos dados do Cempre. Fica atrás de Porto Alegre (9,1%) e Belo Horizonte (7%) e encostado em Curitiba (6,6%). Todas as demais ficam abaixo de 5%. Em São Paulo, o índice é de 2,1% e no Rio, de 1,5%.”
Segundo dados da Abelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais) mais de 47% do lixo gerado no país em 2013 teve um destino inadequado. Além disso, segundo o levantamento, o brasileiro vem gerando cada vez mais lixo: em 2013, foram 76 milhões de toneladas, 4,1% a mais do que no ano anterior.

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