Enquanto
os juros subiram de 7,5% para 10,5% ao ano, spreads dos ‘credit default swaps’
brasileiros dobraram
São Paulo - A alta da Selic, a taxa de juros básicos da economia, não está
servindo para atrair mais dólares ao Brasil. E, enquanto o fluxo cambial
continuar negativo, a tendência das cotações do dólar é de alta. Nem mesmo a
perspectiva de um ciclo de aumento dos juros maior emais extenso, como indicado
pela ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada
quinta-feira, reverteu essa expectativa do mercado. Ontem, o dólar fechou em
alta de 1,3%, a R$ 2,40.
"Nem Selic a 15% atrairia mais capital para o Brasil neste momento", diz Alex
Agostini, economista-chefe da Austin Rating. "Os juros subiram, mas o
risco-Brasil subiu mais", afirma Paulo Gala, estrategista-chefe do Banco Fator.
Enquanto a Selic subiu de 7,5% ao ano para 10,5% nos últimos 12 meses, os
"spreads" dos credit default swaps (CDS) brasileiros - que medem a
probabilidadede calote dos títulos da dívida emitida por empresas e governo
brasileiros - dobraram, passando de 108 em janeiro do ano passado para 193 no
último dia 21, segundo a Bloomberg.
Ou seja, o fluxo cambial tende a continuar
negativo, pressionando o dólar. Neste ano, até odia 17 - último dado disponível
no Banco Central - saíram US$ 1,89 bilhão. A entrada de US$ 306 milhões na
sexta-feira passada, no câmbio financeiro, foi um movimento pontual: "Foi o
dinheiro de captações de empresas brasileiras no exterior, como a Petrobras",
lembra Sidnei Nehme, diretor da corretora NGO.
Para o especialista, taxa mais alta apenas não é mais suficiente - pode
proporcionar arbitragens mas essas operações podem ser fechadas no exterior, com
baixo impacto sobre as cotações do dólar, diz. "Até os investidores japoneses
têm procurado outros mercados, agora que a situação clareou na Europa", afirma.
Para Nehme, o dólar tem fundamentos conceituais para continuar subindo,
começando pelo déficit em transações correntes, de US$ 80 bilhões no ano
passado, e a redução dos investimentos estrangeiros diretos. Em 2013, o número
ficou próximo ao de 2012 (US$ 64 bilhões) mas a parte efetiva (excluindo os
entre companhias) caiu de US$ 52 bilhões para US$ 42 bilhões, lembra. "O cenário
não é atraente para investidores estrangeiros, e crescimento baixo com inflação
resistente vai acentuar essa tendência". Ele diz ainda que até o próprio BC deu
sinais de que espera pressão sobre os preços do dólar no mercado a vista este
ano.
Agostini, da Austin, concorda que neste momento, o juro brasileiro não é mais
tão atraente para o investidor estrangeiro como já foi.
E mesmo que suba mais um
pouco - o economista espera mais meio ponto na próxima reunião do Copom em
fevereiro.
"Com o fim da fase crítica da crise financeira internacional, e com o
desmonte do programa de estímulos nos Estados Unidos, as opções de investimento
nesses países voltam a ser concorrentes de peso para o Brasil", diz. "O
risco-Brasil está maior, inclusive de rebaixamento da nota do país. Por isso, a
alta dos juros não vai interromper a tendência de saída de dólares".
Gala, do Fator, também vê outra alta da Selic em fevereiro - apesar do IPCA
15 divulgado quinta-feira ter vindo abaixo das expectativas. "A ata do Copom foi
dura e clara.
O ciclo está longe de ser encerrado, há muita incerteza no ar",
diz. Mas, como Agostini e Nehme, ele também acha que a alta dos juros não está
compensando o risco, que subiu mais. "A julgar pelo que está sendo negociado no
mercado futuro de juros, a taxa hoje deveria estar em 13,3% ao ano", diz.
Mas Gala lembra que o BC não está interessado em subir os juros para atrair
esse capital volátil, especulativo, que vem aqui atrás de arbitragens. "O BC não
vai segurar o dólar com juros", diz.
Léa De Luca (lluca@brasileconomico.com.br)
24/01/14 09:20
FONTE: BRASIL ECONOMICO